Agora de forma definitiva o governo paulista anuncia que
desiste de implantar o projeto de flotação do Rio Pinheiros, com o qual se
pretendia despoluir as águas do rio e reiniciar a produção de energia elétrica
na Usina Henry Borden, em Cubatão. Objetivo meritório de recuperar a
operacionalidade de um dos projetos energéticos, Billings, mais fantásticos já
concebidos no país: o aproveitamento do desnível de 700 metros da
Serra do Mar para produzir energia ao pé da serra com a reversão hídrica de
águas do Tietê e Pinheiros. Projeto que foi interrompido em 1989 por obséquio
do intolerável grau de poluição das águas urbanas de São Paulo.
O caso do Projeto Flotação é exemplar para trazer à tona a
facilidade com que administradores públicos se deixam iludir por “mágicas”
tecnológicas oferecidas para a solução de crônicos problemas de infraestrutura
urbana. O ilusório “passe de mágica” atende as expectativas políticas de nossos
governantes em obter resultados de seus investimentos de seu governo a um tempo
que viabilize seu aproveitamento e sua exploração político-eleitoral. Ao mesmo
tempo, esse encanto com a solução fácil e rápida para problemas crônicos faz
parte da enorme dificuldade cultural de nossas administrações públicas
trabalharem com perspectivas de médio e longo prazo, com programas que
exigiriam continuidade ao longo de sucessivos governos.
Esses atributos os tornam assim vulneráveis a propostas
mirabolantes, quando não a propostas espertamente engendradas nos escritórios
de grupos privados interessados nos futuros contratos de implantação ou
exploração das “mágicas” propostas.
Outro exemplo na ordem do dia são nossos deletérios piscinões,
com os quais se prometeu ao governo paulista e prefeituras metropolitanas o
mágico fim das enchentes. Estamos aí hoje com vários desses atentados
sanitários, urbanísticos e ambientais desvalorizando e poluindo áreas públicas
densamente habitadas e as enchentes sucedendo-se, a cada ano mais freqüentes e
intensas. Fruto da incompreensível resistência em atacar as verdadeiras causas
do problema maior através de um grande e prolongado elenco de medidas não
estruturais voltadas a desimpermeabilizar a cidade e a reduzir o assoreamento
das drenagens por sedimentos e lixo.
Gastos declarados de 160 milhões de reais na frustrada
experiência da flotação na verdade são pequena parte dos prejuízos. E o tempo
dedicado ao projeto ao longo de quase 10 anos por diversos órgãos públicos? E o
atraso imposto nos estudos e na implantação de medidas técnicas que realmente
fariam sentido? Tudo isso vale muito dinheiro e se traduz na prática em maior
redução ainda da já baixa qualidade de vida da população. E isso, que preço
teria?
Creiam os administradores públicos, não há mágicas no trato
da coisa pública. Sejam mais suspeitosos e resistentes frente a ofertas de
soluções rápidas e fáceis. Delas desconfiem. E escudem-se para tanto no corpo
técnico de suas instituições públicas como o IPT, a Universidade, os vários
Institutos de Pesquisa que ainda insistem em sobreviver, nos técnicos de valor
que ainda sobraram do esvaziamento dos órgãos públicos, em empresas privadas de
reconhecido mérito técnico e ético.
Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo
Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)
· Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia
· Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos” e “Cubatão”
· Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente
· Membro do Conselho de Desenvolvimento das Cidades da Fecomércio
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