22 de setembro de 2011

Esquecido, atingido, acusado

Esquecido, atingido, acusado
Geocentelha 339

Já disse admitir a possibilidade do aquecimento global. Hoje tenho dúvidas porque meteorologistas e geólogos começaram a falar, estes afirmando estarmos em fase interglacial, mas para grande parte da humanidade são favas contadas e há culpados a punir. A humanidade deve ter cuidado consigo mesma porque não é de hoje que leva à fogueira inocentes, como sempre houve corda à mão para supliciar acusados de furtar cavalos no velho oeste, também às vezes inocentes. A humanidade como um todo, sem culpados a designar especialmente, desde a revolução agrícola, nunca deixou de por em risco seu próprio futuro promovendo a erosão do solo. Lembro que aí há risco muito concreto, principalmente nas regiões montanhosas, onde o principal promotor da erosão é a mente humana e o principal executor o casco do boi, em dezenas de milhões de hectares em declividades entre cerca de 50% até os inacreditáveis 100%, e que esse risco se efetiva ano a ano porque a erosão é sazonal acompanhando as chuvas, mas a reposição do solo não é feita ano a ano, porque o processo geológico gerador de solo é lento.

Montanhas costumam ser o palco que justifica o título. Sobrevoemos Teresópolis de Google Earth, e veremos, comparando imagens do ano passado com as atuais, que os deslizamentos escolheram áreas geologicamente instáveis, ocupadas ou não. Colegas de São Paulo e Rio declaram à imprensa, com variações, que apenas parcialmente a ocupação “criminosa” provocou o desastre. Em muitos casos essa ocupação, sem ter provocado nada, foi atingida por massas deslizantes vindas de cima em processo natural de evolução da paisagem da serra do Mar. Aí posso dispensar o testemunho dos colegas, porque vi fotografias em que casas próximas a fundos de vales, de grande porte, de proprietários diria ricos, escaparam desta feita, mesmo construídas ao lado de grandes blocos rochosos, que, em épocas passadas, certamente rolaram da encosta. Ingênuos? Talvez, como tantos, ricos e pobres, que tenham confiado no critério do poder público quanto à verificação oportuna da segurança de construir lá. Hoje muitos são acusados de especulação imobiliária, entre os que venderam e os que compraram. Afinal esquecidos pelo poder público por eles mantido, que lhes nega o direito à segurança e à informação técnica sobre ela, cláusulas pétreas de qualquer constituição moderna, são atingidos ou correm sérios riscos, e depois acusados de provocarem a natureza. Tenho ouvido dizer de hotéis e até hospitais condenados à demolição sob alegação de estarem em APP. Pois devem estar onde estudos técnicos responsáveis indicarem como a melhor localização. Se não for assim, desaprenderemos tudo, e construiremos cidades verdadeiramente inviáveis. Num esforço mental de personificar o Código Florestal, é praticamente impossível deixar de associá-lo ao alienista de Machado de Assis. Além de Tukushima (2 mortes), aprendamos com Sendai (20.000).      



Belo Horizonte, 17 de setembro de 2011



Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo.


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