Esquecido, atingido, acusado
Geocentelha 339
Já disse admitir a possibilidade do aquecimento global. Hoje
tenho dúvidas porque meteorologistas e geólogos começaram a falar, estes
afirmando estarmos em fase interglacial, mas para grande parte da humanidade
são favas contadas e há culpados a punir. A humanidade deve ter cuidado consigo
mesma porque não é de hoje que leva à fogueira inocentes, como sempre houve
corda à mão para supliciar acusados de furtar cavalos no velho oeste, também às
vezes inocentes. A humanidade como um todo, sem culpados a designar
especialmente, desde a revolução agrícola, nunca deixou de por em risco seu
próprio futuro promovendo a erosão do solo. Lembro que aí há risco muito
concreto, principalmente nas regiões montanhosas, onde o principal promotor da
erosão é a mente humana e o principal executor o casco do boi, em dezenas de
milhões de hectares em declividades entre cerca de 50% até os inacreditáveis
100%, e que esse risco se efetiva ano a ano porque a erosão é sazonal
acompanhando as chuvas, mas a reposição do solo não é feita ano a ano, porque o
processo geológico gerador de solo é lento.
Montanhas costumam ser o palco que justifica o título.
Sobrevoemos Teresópolis de Google Earth, e veremos, comparando imagens do ano
passado com as atuais, que os deslizamentos escolheram áreas geologicamente
instáveis, ocupadas ou não. Colegas de São Paulo e Rio declaram à imprensa, com
variações, que apenas parcialmente a ocupação “criminosa” provocou o desastre.
Em muitos casos essa ocupação, sem ter provocado nada, foi atingida por massas
deslizantes vindas de cima em processo natural de evolução da paisagem da serra
do Mar. Aí posso dispensar o testemunho dos colegas, porque vi fotografias em
que casas próximas a fundos de vales, de grande porte, de proprietários diria
ricos, escaparam desta feita, mesmo construídas ao lado de grandes blocos
rochosos, que, em épocas passadas, certamente rolaram da encosta. Ingênuos?
Talvez, como tantos, ricos e pobres, que tenham confiado no critério do poder
público quanto à verificação oportuna da segurança de construir lá. Hoje muitos
são acusados de especulação imobiliária, entre os que venderam e os que
compraram. Afinal esquecidos pelo poder público por eles mantido, que lhes nega
o direito à segurança e à informação técnica sobre ela, cláusulas pétreas de
qualquer constituição moderna, são atingidos ou correm sérios riscos, e depois
acusados de provocarem a natureza. Tenho ouvido dizer de hotéis e até hospitais
condenados à demolição sob alegação de estarem em APP. Pois devem estar
onde estudos técnicos responsáveis indicarem como a melhor localização. Se não
for assim, desaprenderemos tudo, e construiremos cidades verdadeiramente
inviáveis. Num esforço mental de personificar o Código Florestal, é
praticamente impossível deixar de associá-lo ao alienista de Machado de Assis.
Além de Tukushima (2 mortes), aprendamos com Sendai (20.000).
Belo Horizonte, 17 de setembro de 2011
Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo.
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