Renegado a civilização
Geocentelha 333
Vejo com tristeza tudo isto: Deputado relator faz o possível
para encontrar acordo de viabilidade para o Código Florestal. Está no papel
dele, fazendo política, a arte do possível. Chego a ter simpatia por ele, que
abre mão com desprendimento de princípios inerentes a sua filiação doutrinária.
Tenho razões para criticá-lo, mas seria injusto quando merecem críticas mil
lados em que se fragmentou a discussão. Fragmentou-se e amontoou-se em torno de
questões ideológicas, corporativas, de visibilidades fisiográficas
diferenciadas, de experiências culturais distintas. Em nenhum argumento vi
traços de base científica a balizar posições. Não vejo esforço em usar exemplo
alheio ao longo da história das civilizações, para fundamentar opções. Os
únicos em que vejo possibilidade de ter razões consistentes são produtores
rurais que usam o próprio braço, dirigem o próprio trator, tiram o próprio
leite. Ouçâmo-los com respeito, mesmo nas situações comuns em que, a meu juízo,
estejam cometendo absurdos por ignorância ou inércia.
Antes de outra consideração, percebo o Código, em alguns
domínios fisiográficos, permissivo em termos de desmatamento, e com remendos
que foi recebendo para conter os abusos, foi atingido pela platitude de
proteger tudo o que restou, não importa o lugar, esquecendo-se de que o
replantio numas 2 bolívias de áreas degradadas pode permitir remoções para
urbanização ou permuta de posição na atividade rural, ainda que condicionando o
desmatamento aqui ao plantio antecipado, com resultado comprovado, ali.
APPs de topos de morros e de altitude: todas as civilizações
ocuparam topos de morros e cotas elevadas do terreno, sempre que outras
condições o permitiram, como o acesso à água. Nenhuma fragilidade genérica
justifica nossa opção, e a quem diga que acima de 1800 metros temos
área muito pequena, respondo que, por isto mesmo, deveríamos ter nessas alturas
experimentos civilizatórios que nos aproximariam das outras culturas de altas
latitudes e altitudes. Devo então concluir que, se trocássemos de lugar com a
América espanhola, renunciaríamos a tudo que está acima dos 1.800 m,
inclusive uma das maiores cidades do mundo atual em população? Quanto a topos
espaçosos, aí, no campo ou cidade, as condições geotécnicas e ambientais melhor
atendem às exigências de segurança e qualidade para a vida humana, dentre elas
a salubridade. É também onde mais facilmente se combate a erosão.
O prosaico inhame plantado à beira d’água, dentro da APP,
pouco acima do lençol freático, nada mais pede para dar-nos boas e suculentas
safras; afastemo-lo os famosos 30 metros, e, digamos, 5 metros acima
do lençol freático, e veremos como pede água ou fenece logo. Captemos então
água para dar-lhe e arquemos com o impacto ambiental disto! A lei assumiu-se
como fim. Usurpou minhas prerrogativas de pensar.
Ninguém erra de forma tão canhestra impunemente. Teremos o
país que merecemos.
Belo Horizonte, 14 de maio de 2011
Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo