20 de dezembro de 2010

A Geologia e a Copa

A Geologia e a Copa [1]
Geocentelha 319

O título poderia ser “A CAPITAL E A COPA” ou “ESPÍRITO E EFEITO DAS LEIS”, cada um aproveitando aspecto sob o qual Belo Horizonte deve preparar-se para receber visitantes comuns, os jornalistas esportivos e os que virão atrás dos temas de interesse dos três turismos — lazer, cultura e negócios. Confesso que o segundo seria mais atrativo e o terceiro mais específico, mas minha luta pela disseminação do conhecimento geológico determinou a escolha.

Dizia ex-professor meu em 1970 que para a sociedade o geólogo era um estranho ser que descobria minérios e explicava terremotos, pontuando o distanciamento quase supersticioso das sociedades modernas em relação ao conhecimento geológico. Há razões profundas e sutis para isto, que não estão em causa neste artigo, mas lembro ao leitor que, por ser a geologia a ciência que reuniu os três pilares do conhecimento material  — física, química e biologia — para desvendar e pôr a serviço da humanidade os segredos da Terra, resulta, de não ser difundido seu conhecimento, grande prejuízo  para as populações brasileiras. Sem ofensa ao leitor, trago-lhe expressões de minhas preocupações a respeito, a primeira, citação de autoria não anotada, segundo a qual grave não é a falta do conhecimento, mas a indisposição de encontrá-lo. De fato, assim agindo a sociedade e o indivíduo são com frequência atingidos por processos e acidentes geológicos que ocorrem na terra com previsível regularidade. Outra expressão — a ignorância é o pedestal da arrogância — traduz-se na elaboração de leis que demonstram a arrogância do Homem sobre a Terra, exatamente o oposto do que se diz ao justificar tais leis, cujo erro maior é afastar a busca do conhecimento contextual, em total desacordo com a lógica e com necessidades reais das pessoas.

A edificação das cidades mobiliza naturalmente massas geológicas, que precisam ser imobilizadas, como se fez recentemente na parte alta da avenida N. S.ra do Carmo, próximo do Anel Rodoviário, o que deve ser exatamente repetido no escorregamento perigoso e feio da curva do Ponteio (“...para encobrir a feiura da rocha artificial que fere os olhos que chegam para ver a capital”; este autor em “Iniciação de um geodependente”).

Essas massas e seus equivalentes antrópicos (entulho) devem também ser dispostos para sanear brejos, do contrário Belo Horizonte corre o risco de apresentar àqueles jornalistas e torcedores tudo o que a cidade moderna deve evitar: Notoriedade pela feiura concentrada em pequenas mas estratégicas áreas; notoriedade pela feiura e imundície de áreas palustres; notoriedade por índices alarmantes de dengue. Notoriedade por estar, como o resto do Brasil, com dezenas de anos de atraso tecnológico em comparação com países periféricos da Europa e Ásia, dados como inviáveis em 1960.  

Homenageio o ex-aluno e colega, Professor da UFMG Carlos Maurício Noce, brilhante cientista, tão precocemente falecido.



Belo Horizonte, 19/11/10

Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo.



[1] O Tempo; O.PINIÃO; 20/12/2010; p. 21


15 de dezembro de 2010

Mensagem

Agradecendo a todos que nos enviam suas mensagens, propomos que, sempre que possível, em nossas atividades profissionais: a) Retenhamos o máximo possível de solo e quaisquer outras massas geológicas nos pontos topograficamente mais altos do terreno; b) Disponhamos o solo e quaisquer outras massas geológicas em condição de equilíbrio estável, nos fundos de vales, onde poderão ser mais facilmente imobilizadas, mesmo que, para alcançar essa posição estável, parte desse material tenha de descer topograficamente um pouco; c) Como ação puramente simbólica, uma a mais entre tantas outras, levemos um dia, no próximo ano, 1 litro de terra da cota 500 para a cota 1000 ou da cota 1000 para a cota 1100. Assim, se levarmos simbolicamente 7 bilhões de litros de terra (1 por habitante) a uma cota em média 100 metros mais alta, teremos levado a essa cota mais alta um reservatório geológico de cerca de 1 bilhão de litros para acolher a água da chuva muitas vezes durante o ano, uma insignificância a indicar-nos o que devemos fazer para conter a voracidade da teimosa lei da gravidade. Equipe Geolurb cumprimenta a todos.



Belo Horizonte, 15 de dezembro de 2010

Edézio Teixeira de Carvalho
Geolurb - Geologia Urbana e de Reabilitação Ltda
(31) 32622722; 84762977
edeziotc@gmail.com; geolurb@gmail.com

27 de novembro de 2010

Chuvas dão surra na arrogância dos governantes

Chuvas dão surra na arrogância dos governantes [1]
Geocentelha 320

Saía para viagem à divisa Minas-Rio às 5:20 do dia 22/11. Chovia copiosamente. No percurso para apanhar um colega, minhas hipóteses de alagamento eram a Antônio Carlos com Américo Vespúcio/Bernardo Vasconcelos, ponto baixo do Anel Rodoviário a montante da UFMG e na Betânia. Acabei passando normalmente. Retornei no dia 24 de Além-Paraíba, encontrando o rio Pomba muito cheio com alagamentos entre Cataguases e Astolfo Dutra. Não pudera acompanhar senão por telefone as notícias de Belo Horizonte. Reflito pois mais genericamente: Qual é a chuva que mais inunda? É a que ocorre sob as seguintes circunstâncias: Chuva muito intensa, coroando período prolongado de chuvas intensas e contínuas. No caso, essa chuva, mesmo não excepcional, encontra o sistema geológico saturado, não receptivo, e a água passa em frente, sem infiltrar-se. É assim no mundo inteiro, com gravidade maior nos países das monções pela excepcionalidade das precipitações, da ordem de 10 vezes a intensidade em Belo Horizonte, e nos eurocentrados, Brasil incluído, por causa da Gestão. O Mississipi teve as piores inundações num período desses a jusante dos criminosos diques laterais inventados pelos franceses, que, alegadamente para proteger cidades marginais, forçam as águas a seguirem mais rapidamente rio abaixo.

Na base do faça como eu, que fiz eu? Residi sempre em lugares suficientemente elevados em relação aos leitos fluviais. Nos deslocamentos pela cidade, de carro, em tempo chuvoso, evito as vias ditas sanitárias e penso em pontos baixos como os acima citados; estando numa dessas vias em chuva inesperada, procuro dela sair o mais rápido possível; quando minhas filhas começaram a dirigir, recomendei enfaticamente a elas procederem assim, buscando sempre que possível vias transversais subindo. Numa chuva excepcional em que a cidade temerariamente ocupou os pontos mais baixos do terreno, como é notório no Brasil, chego a “torcer” para que bocas de lobo altas estejam em parte entupidas, porque o incômodo assim compartilhado pode salvar vidas!

Num país diverso como o Brasil as arrogantes legislações sanitária e ambiental apoiadas secularmente no pedestal da ignorância sobre as condições geológicas e até sobre processos completamente independentes do fator geológico, inflexíveis, conseguem complicar mais ainda a questão. Como profissional, que faço? Fiel a meus deveres perante a sociedade, tenho defendido sempre o espírito da lei, quando bom, mas combatendo incansavelmente, creiam, o texto burro e inflexível, gerador de efeito oposto ao pretendido, lamentando não ter agora em meu auxílio a verve inigualável de Nelson Rodrigues, cronista do cotidiano, adepto de nossa alegria de viver, de nossa genialidade futebolística, mas crítico cáustico de nossas irresponsabilidades sociais, por ele atribuídas aos “lorpas da objetividade”. Caro leitor: Se a lei dispensa que pense, por amor do que preza, pense!



Belo Horizonte, 25/11/10

Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo.



O Tempo; Opinião; 27/11/10; p .21


12 de novembro de 2010

O País que Espera Dilma

O País que Espera Dilma [1]
Geocentelha 316

Em 2002 escrevi o artigo “O país que espera Lula” (http://www.geolurb.blogspot.com/). Outro país agora espera Dilma. Falei de questões territoriais na crista da onda, o desmatamento na Amazônia, e o Aquífero Guarani, apresentado como novidade, embora familiar aos geólogos desde o século XIX; coisas opostas, uma ameaça sobre a natureza e uma promessa da natureza.  O país mudou e Lula jogou papel saliente nas mudanças, em verdade confundindo-se umas em que seu protagonismo foi decisivo com outras em que, hábil, ele terá roubado a cena. Geologicamente o pré-sal é descoberta que começou ainda quando eu estava na Petrobrás, onde em 1972 acompanhei a perfuração de poço que testava estruturas de domos de sal ao largo de São Sebastião. Poucos se lembram do aquífero Guarani, ofuscado pelo pré-sal, embora continue tão importante quanto foi.  

Temas de raízes ou conexões geológicas estão aí. Na ocasião falei em transposições, e veio uma contra conveniências geológico-territoriais flagrantes. Por falar de temas geológicos, lembro que assisti estarrecido à concessão do prêmio Nobel da Paz por um livro mais inconveniente do que a suposta verdade que nele se proclama. Lembro-me também do destaque dado ao disparate geológico-ambiental, no plano simbólico, do enterro de baleia jubarte de 10 toneladas em terra firme, quando rebocadores poderiam arrastá-la 500 metros mar adentro, proporcionando àquela massa vital a oportunidade gloriosa da completa reciclagem que desde seus ancestrais geológicos a biosfera pratica e experimenta.

Que a Presidente escolha para o ambiente ministro não-executivo, de perfil semelhante ao de um Euclides da Cunha para, em paralelo com o executivo, promover com a sociedade brasileira leitura crítica profunda da fundamentação científica de nossas leis de ordenamento territorial em geral e ambientais em particular, para sua revisão a curto prazo, introduzindo um mínimo de recurso científico verdadeiro nos seus fundamentos e aplicação, livrando-nos da obediência devida a leis absurdas.

Na vertente executiva que tente colocar ao lado de espírito preservacionista, cientificamente orientado,  revolucionário espírito reabilitador do território em temas de que dou exemplos: Estudos das condições de estado da madeira submersa em Tucuruí e em Balbina, facilmente extraível e industrializável em barcaças autônomas nos respectivos lagos; desassoreamento, por bombeamento ou sifonamento, de reservatórios de hidrelétricas, separando areia para a construção civil, de silte e argila para a revitalização agrícola de chapadas de solos exauridos, reduzindo a abertura de novas lavras; reabilitação de voçorocas como as de Cachoeira do Campo – MG no programa de revitalização da bacia do São Francisco, enfaticamente prometida. Introduzir em geral o experimentalismo no manejo territorial na Mantiqueira e serra do Mar para proteger o meio rural e as cidades dos respectivos vales.       



Belo Horizonte, 02 de novembro de 2010

Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo



[1] O Tempo; Opinião; 12/11/2010; p. 19 

3 de novembro de 2010

O País que Espera Lula

O País que Espera Lula
Geocentelha 155

É um país aflito. Este imenso país, quinto por extensão e dos maiores em população, atravessa fase difícil: extensas porções territoriais despovoadas ou degradadas; extensas porções em fase de desmatamento acelerado, seja para amealhar o ouro fácil da madeira, seja para introduzir o boi, rei verdadeiro dos animais.

O país confia. Agora confiar é também para quem não acreditou, e penso que prazo, para quem deu oito anos, não pode ser de 100 dias. Seria muito injusto. O país que espera Lula vai dar-lhe pelo menos dois anos para encarrilar o trem de nossa história.

Verdade é que ele repetiu defeito de outros ao não fazer declaração, que eu tenha visto, sobre a natureza de nossa terra, para apoiar nessa natureza alguma coisa. Outros ensaiaram, timidamente, um basear o desenvolvimento da Amazônia na constituição geológica regional e outro a possibilidade de buscar água doce como subproduto em poços da Petrobrás. Já é alguma coisa, pois afinal os demais sempre pretenderam assumir um continente como se ele não diferisse das Ilhas Virgens.

Tão importante quanto termos muita água superficial no Amazonas e Paraná-Paraguai, é termos o aqüífero Guarani (virão outros menores) com muita água subterrânea na bacia sedimentar do Paraná, desde que seja bem aproveitada. Para os que, acertadamente, pensam na gestão como algo mais sutil que o controle de uma reação em cadeia, vale lembrar que o excesso de água da Amazônia tem desafios de gestão comparáveis em escala às suas promessas de riqueza. Com calma, pois, que não é sobra a distribuir fisicamente como em transposições nem a ser dissipada virtualmente em commodities de preço baratinho para vencer o subsídio europeu. É para, ao contrário, na mais valia natural que nos concede, abrir espaço para a famosa agregação de valor. O grande aqüífero do nosso cone sul parece não tão exposto à gula internacional quanto a floresta e a água da Amazônia.

No mar de morros da Mantiqueira e na serra do Mar a degradação foi além da remoção da Mata Atlântica, porque levou o melhor do solo das vertentes íngremes. É Minas que mais tipifica o flagelo do esgotamento rural, e que mais sofre as dificuldades de adaptar sua mineração, urbanização e agricultura de montanha a exigências ambientais que sejam justas e bem fundamentadas. (É Minas que, até pela sinergia das bases já implantadas, precisa mover-se mais, por exemplo dando acesso metroviário a Confins e cassando-lhe a fama de distante).

O país que espera Lula exibe um cordão iluminado para a foto noturna do satélite, contornando o litoral de norte a sul. São milhões no inverno e dezenas de milhões no verão, que sem querer instabilizaram linhas de costa e salinizaram aqüíferos litorâneos, e que, querendo mesmo, aterraram mangues e enseadas. Isto reproduz o que a sensação de infinitude territorial avalizou em cada nova onda de povoamento.

E o povo? Levas e levas de populações deslocadas de suas bases territoriais. Este é o mais desafiador de nossos problemas ambientais e econômicos porque se funda na falta de base cultural: Massas urbanizadas de segunda geração, se são hoje menos analfabetas no domínio da língua, perderam o que conheciam da terra e assim formam uma nuvem inconspícua vagando na terra da transição entre um urbano cada vez mais intolerável até para seus fundadores e um rural decadente e regressivo pelo fenômeno da desruralização precoce que se estende da periferia para o campo mais distante. É país que descobriu que rodovias mal cuidadas prestam-se para assentamentos que já começam com a avenida principal asfaltadinha.

O povo não é formado só nas escolas, mas também nas tecnologias que lhe vão sendo demonstradas e o Brasil não desenvolveu qualquer tecnologia visível em associação com os grandes deslocamentos geográficos: Do campo para a cidade; dos baixos vales para o alto das montanhas e do interior para o litoral. Quem foi, podendo ou não, jamais pensou na tecnologia exigida para a mudança. Essas tecnologias existem, e podem mudar rapidamente o quadro. Nesse vórtice alucinante o país volta-se para Lula e espera. Que a trégua tácita seja bem aproveitada espero.
   


Belo Horizonte, 11 de novembro de 2002

Edézio Teixeira de Carvalho
Geólogo, Ex-Diretor do Instituto de Geociências da UFMG



Estado de Minas – Opinião, p. 9; 10/12/02


26 de outubro de 2010

Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental – ABGE

Reunião comemorativa dos 42 anos da entidade



Palavras de Agradecimento


por Edézio Teixeira de Carvalho


Disseram que os homenageados fariam uma palestra. Eu levei a sério e resolvi ficar pelo menos em posição intermediária entre um agradecimento puramente protocolar e algumas pretensiosas considerações técnico – filosóficas sobre a profissão e o que no seu exercício tenho feito.
Antes de tudo dou os parabéns à ABGE pelos seus 42 anos de existência muito produtiva para o povo brasileiro.



Não andei muito pelo país e menos ainda pelo mundo. Não sou, p. ex., como Saturnino de Brito, Engenheiro membro da comissão técnica da construção de Belo Horizonte, há mais de 100 anos, sobre o qual encontro referências em lugares distantes, para a época, como Santos, Poços de Caldas, Campos, Recife, interior do Nordeste. Imagino que, fosse vivo, a ABGE o teria como Associado e ele teria sido homenageado em idade precoce.



Depois de, muito humildemente, agradecer a todos os que opinaram por esta grande homenagem, acho que tenho o dever de falar um pouco:
•         do que faço e do que penso de nossa profissão;
•         das cidades que me cedem a base operacional e o objeto;
•         talvez até, mas uma linha só, do aquecimento global para que reste algum tempo para o seguinte;
•         dedicar às famílias humanas de que participo.



Estava em Maruim – SE, 1971, vizinha de Carmópolis, onde acompanhava a perfuração de um poço, e alguém levou-me a ver a igreja-matriz imponente com rachaduras no piso externo e, se bem me lembro, discretas fissuras  suspeita de que a extração de petróleo em Carmópolis repercutia em Maruim.



Andei lendo e descobri que a extração do petróleo raso nos Estados Unidos provocara subsidências severas, mas achava improvável conexão idêntica no caso, e, por ter deixado a PETROBRÁS, o que me restou do episódio foi a carreira dedicada aos territórios em geral e aos das cidades em particular, que me acostumei a chamar de Plataforma Geológica, a verdadeira infra-estrutura das cidades.



Aprendera com mestres, famosos e distantes (com os quais, além de outros, divido este prêmio), como Josué, Álvaro, Prandini, Gandolfi, Gusmão, Costa Nunes; no exterior Oliveira, meu caro orientador do Mestrado, felizmente entre nós, e que tão amavelmente me envia congratulações; ainda vivos na ocasião, li com muito interesse Terzaghi, Legget, Ter- Stepanian, Rocha.



Na reflexão pessoal, lembrando Manuel Rocha, descobri que não faz geologia urbana quem faz geologia na cidade tendo esta simplesmente por sítio casual de estudos.
 Antes de tudo, é necessário conhecer a Cidade e sua História, ao longo das civilizações; conhecer as cidades e suas histórias.
Do outro lado da questão, ocorre perguntar o que é, de fato, o sistema geológico. Sim, para a geologia urbana, o que é o sistema geológico? É a reunião mutuamente interativa dos componentes:



Permanente – Arcabouço mineral (sólido);                
Transitório – Flora e fauna (biosfera);                           
Itinerante – Água (e outros fluidos aeriformes ou líquidos).



Cessa aqui o que busco : A visão analítica dos sistemas complexos. A humanidade foi além e fugiu da rota por ele traçada. Para mim, a visão cartesiana é a do método que separa o todo em seus componentes (separando os problemas) e consequentemente as soluções. A cidade, organismo complexo, não aceita esta abordagem, porque, como Prandini e eu dissemos, reclama soluções compartilhadas, simultâneas, como as que encerram a fecundidade da combinação da água com o espaço poroso dos resíduos inertes: Lugar para a água e para os resíduos porosos, exatamente o mesmo!!!



Por outro lado, o que é a Cidade?




A Cidade não pode ser isto, porque a calçada é lugar do  pedestre, da cadeira de rodas, do carrinho do bebê, do guarda-chuva aberto.

 Nem isto, porque a cidade foi feita para ser eterna, mas para alcançar a eternidade, precisa substituir regularmente seus componentes transitórios, ainda que seja um pequizeiro.



Cidades incompletas por nascença não funcionam porque não  pensaram em conservar a água entre nós! Todas querem ter muitas bocas de lobo e fazem temporadas quase cívicas para a limpeza delas como agora mesmo.







Esquema da cidade convencional, incompleta, sem muretas, sem cisternas de infiltração, sem poços tubulares, sem coletores de águas pluviais, sem aterros de resíduos, sem aterros-diques, sem sabodams, por isto mesmo sofrendo com o escoamento horizontal da água. À direita o da cidade geossuportada, com tudo isto, permitindo o fluxo vertical da água, sua preservação e controle de suas funções geoambientais e retardamento de seu retorno ao mar.



Por que a escassez, se há desastres cada vez maiores por excesso de água? Porque medidas  eficazes de combate ao excesso de água são as mesmas para o combate à escassez e elas não são tomadas, tantas e tantas vezes por impedimento da lei.



A humanidade bloqueou a entrada da água no arcabouço mineral do sistema geológico e ela precisa ser reaberta; por outro lado, drenamos profundamente a terra e deslocamos os reservatórios superficiais para altitudes cada vez menores. A água vai atrás, porque lhe falta autonomia ambiental.



Por grave que venha a ser um aquecimento global, ainda sem certidão de nascimento, a perda de altitude média da hidrosfera continental, além de irreversível, acontece desde a revolução agrícola, sob comando da gravidade, que não muda de sentido.



Onde governo, ipececês ou ongues demonstram saber do fato?




Critérios de projeto obrigatoriamente começam na completa e correta descrição do objeto, ou deveremos, geólogos e engenheiros, que bem pretendemos conhecer as leis da geologia e da hidrologia, achar que nossos bons professores estavam brincando quando nos enunciaram princípios como este, que acabo de enunciar?  Existem ali 12 campos de gestão. Então a Gestão tem de cuidar de 12 campos e não pode haver controvérsia nisto!







Nossas cidades só tratam tecnicamente de 2 ou 3 dos 12 campos de gestão da água. Os demais constituem matéria escura do planejamento urbano, ou são tratados genericamente por legislação. Para onde vão aqueles conceitos de impossibilidades matemáticas que aprendemos nos bancos escolares?







À esquerda distribuição de terra e água continentais por altitude antes da revolução agrícola; à direita a distribuição no presente. Há evidentes  exageros nos esquemas, e as suposições: a) Oscilações tectônicas globalmente neutras; b)neoformação de solo insuficiente para repor o solo perdido; c)parte do solo perdido mergulha no mar levando junto o reservatório geológico contido. A humanidade, literalmente, terá de dragar o mar e os grandes reservatórios para repor solo em terras altas. Já vale a pena!!!



Lembrando que territórios urbanizados são menos de 1% das terras emersas, por que decretar APP marginal que o processo geológico irá desfigurar certamente, e impor ao cidadão viver ao lado de um brejo, onde a água supostamente protegida fica sujeita a: a)Evaporação precoce;   b) Contaminação e poluição;  c)Descarga precoce de volta ao mar;  d)Criatórios de vetores da dengue e de outros insetos incômodos.



Não precisamos lembrar da história universal as lagoas Pontinas, que, por milênios, desafiaram etruscos, Império Romano, o gênio de Da Vinci e ainda Mussolini por constituírem-se em foco de doenças endêmicas, como a malária. Lembremo-nos de Osvaldo Cruz e dos engenheiros, que sanearam o Rio de Janeiro há cem anos, soterrando áreas pantanosas, para livrar a cidade da péssima fama de sede da febre amarela!



O ritual macabro da drenagem e a alternativa de não drenar




Depois de 40 anos sem a famigerada canaleta de crista, e sem erosão expressiva, ganha a rodovia dos Inconfidentes a sua canaleta de crista, que concentra escoamento, e portanto potência erosiva. Poderia ter sido dispensada a canaleta e em troca sido feita uma mureta ao pé do talude, que dissiparia o escoamento e reteria o solo para acomodação da água. À direita manilhões, só para lembrar que estamos sempre dispostos a fazer a água entrar pelo cano.







Um prêmio para quem conseguir provar-me a necessidade da canaleta de crista.
Na curva do Ponteio, quem sabe se, aproveitando a ruptura do concreto projetado, não se faz uma mureta simples e eficaz?




Uma mureta que possa apoiar o solo, que possa reter água e suportar vegetação, como outra existente bem ao lado.



Seria melhor estudarmos uma forma de aproveitar bem a excepcional permoporosidade da duna para forçar nela a infiltração da água, não é verdade?










Muro de gabião em posto de gasolina, av. Brasília, Santa Luzia. O escoamento desce diretamente ao gabião, notando-se não haver canaletas no topo, e corre naturalmente pelo pátio até a sarjeta.



Mureta simples, e eficaz, na saída de Acaiaca: Vantagens sobre o concreto na função são a dispensa de drenagem, dispersão do escoamento e melhor integração visual na paisagem.









Recursos tecnológicos que tenho recomendado para controle da água.




 Mureta ao pé de um aterro de resíduos. Jorro de água cristalina das chuvas de dezembro, retida e filtrada pelo aterro. A mureta de pé... Bem posicionada faz o povo mais feliz, segundo a moradora, depois de 26 anos de espera pelo fim de enxurradas lamacentas em sua rua.











Voçoroca anterior com o centro de Contagem ao fundo. Caminhão inicia o lançamento de resíduos. Lixo lançado no primeiro plano, prática que o uso futuro eliminará.
Esplanadas e taludes resultantes do enchimento da cavidade. As casas ao fundo, antes à beira do barranco, deixaram de estar em risco, enquanto...







O destino final da água infiltrada é risonho: nascentes de águas limpas e perenizadas. Esta nascente, oriunda do depósito, levaria cerca de 800 dias para esgotá-lo, e poderia sobreviver a 2 anos sem chuva. (Foto de 1997).



Técnicos da SUDECAP, SMMA/PBH e de Contagem apreciam o resultado. Todos os fundos de vale podem ficar assim.







 Seção longitudinal de bota-fora no interior de voçoroca ou de um vale seco, com fluxo intermitente ou perene de pequena vazão. A implantação do depósito proporciona armazenamento de água no espaço poroso, beneficia a infiltração profunda em zonas permeáveis (setas) e aumenta a vazão de base. A captura das águas pluviais proporciona ainda o efeito de atenuar as cheias para jusante.







 Aterro de resíduos e piscinão. Este pode conter mais água, mas exige obra de grande porte (barragem), ocupa ano inteiro o reservatório para servir 20 ou 30 dias por ano, enquanto o aterro oferece área para usos residenciais, comerciais, de lazer, industriais, ou áreas verdes, depois de ter cumprido a importante função de receber resíduos urbanos inertes.










Piscinão do Bonsucesso em execução
Custo informado: R$ 180.000.000,00
























As minhas famílias







A humanidade é minha família maior: a ela dediquei algumas madrugadas escrevendo o livro
Geologia urbana para todos – uma visão de Belo Horizonte.



Ficará para sempre como o meu legado mais significativo. Mostro a sua carinha, hoje entregue à humanidade no endereço
 http://www.geolurb.blogspot.com/



Entram nesta minha família maior as instituições a que servi como professor e geólogo, em sequência: Escola Técnica Federal de Ouro Preto, Petrobrás, Escola de Minas de Ouro Preto, Transcon (projetos ferroviários), Instituto de Geociências da UFMG e GEOLURB.
Entram também cidades a que prestei e onde prestei apaixonado serviço, como Ouro Preto, Belo Horizonte, Contagem, Betim, Itabirito, Teófilo Otoni, Sete Lagoas e muitas outras.



Belo Horizonte merece o destaque de ser a base principal e de mais variados trabalhos para entes públicos e privados diversos.



Nela devo ainda a dois editores de Opinião a divulgação de artigos meus: Dídimo Paiva (Estado de Minas) e Victor Almeida (O Tempo).



Minha segunda família é aquela que me trouxe, enraizada em Itaverava, dos Costa Carvalho, dos Teixeira, dos Ávila, que continuou em Furquim da minha infância e  da juventude, onde deve esta geração da família um agradecimento especial à Escola Técnica Federal de Ouro Preto, atual CEFET, nada menos que 9 irmãos ex-alunos e à Escola de Minas nada menos que 8 irmãos, 7 formados.







Chego à que com Simone iniciei, que tem aqui a Juliana com o marido Perutz, a caçula Mariana viajando e Luciana, a mais velha, em Joinville com o marido Michael, estes já tendo lançado em solo catarinense a gavinha Malu, já capaz de rir bastante dos cabelos desgrenhados do avô .
Para Simone, com muito amor, eu dou o destaque todo merecido, por ser ela incentivadora à sua moda, crítica tantas vezes procedente, lançada como um raio sobre a palavra mal escolhida, sobre o tema, sobre a história que o rodeia, às vezes fingindo uma crítica até mordaz, mas na medida justa para não desanimar o criticado.



Quanto lhe devo desta homenagem, quanto lhe devo! 



Permitam-me duas palavras finais:
Uma de congratulações com Furnas Centrais Elétricas da qual uma das obras principais acompanhei com muito interesse nos idos da década de 1960. Que ela continue a fomentar o desenvolvimento nacional com as diversas modalidades de energia que produz.













À ABGE eu não poderia deixar de fazer um pedido: Colocar em pauta prioritária o debate sobre a obediência devida, que já deixou cicatrizes terríveis na história do direito, e que vem sendo praticada no Brasil em relação a leis de ordenamento que ferem de morte a lógica, dispensam a ciência em geral e em particular a mais abrangente das ciências da gestão – a Geologia – e que deixam os geólogos de braços cruzados ou sujeitos a deixar de lado o que a ciência nos ensinou.
Na Foto um Campo de voçorocas em Cachoeira do Campo. Cabe à ABGE, a meu juízo, avaliar, por exemplo, o que a ritual observância do Código Florestal fará para corrigir a situação, que perdura em alguns casos há 300 anos.

Lembro que o famoso programa de revitalização do São Francisco ainda não chegou aí. Lembro também que onde lei de ordenamento que substitui o projeto impera a ciência não prospera.









As três famílias estão hoje reunidas. Trabalhemos juntos então no sentido de substituir a obediência devida, para uns cômoda e para muitos outros seca e estagnante, por uma lucidez responsável.