12 de novembro de 2010

O País que Espera Dilma

O País que Espera Dilma [1]
Geocentelha 316

Em 2002 escrevi o artigo “O país que espera Lula” (http://www.geolurb.blogspot.com/). Outro país agora espera Dilma. Falei de questões territoriais na crista da onda, o desmatamento na Amazônia, e o Aquífero Guarani, apresentado como novidade, embora familiar aos geólogos desde o século XIX; coisas opostas, uma ameaça sobre a natureza e uma promessa da natureza.  O país mudou e Lula jogou papel saliente nas mudanças, em verdade confundindo-se umas em que seu protagonismo foi decisivo com outras em que, hábil, ele terá roubado a cena. Geologicamente o pré-sal é descoberta que começou ainda quando eu estava na Petrobrás, onde em 1972 acompanhei a perfuração de poço que testava estruturas de domos de sal ao largo de São Sebastião. Poucos se lembram do aquífero Guarani, ofuscado pelo pré-sal, embora continue tão importante quanto foi.  

Temas de raízes ou conexões geológicas estão aí. Na ocasião falei em transposições, e veio uma contra conveniências geológico-territoriais flagrantes. Por falar de temas geológicos, lembro que assisti estarrecido à concessão do prêmio Nobel da Paz por um livro mais inconveniente do que a suposta verdade que nele se proclama. Lembro-me também do destaque dado ao disparate geológico-ambiental, no plano simbólico, do enterro de baleia jubarte de 10 toneladas em terra firme, quando rebocadores poderiam arrastá-la 500 metros mar adentro, proporcionando àquela massa vital a oportunidade gloriosa da completa reciclagem que desde seus ancestrais geológicos a biosfera pratica e experimenta.

Que a Presidente escolha para o ambiente ministro não-executivo, de perfil semelhante ao de um Euclides da Cunha para, em paralelo com o executivo, promover com a sociedade brasileira leitura crítica profunda da fundamentação científica de nossas leis de ordenamento territorial em geral e ambientais em particular, para sua revisão a curto prazo, introduzindo um mínimo de recurso científico verdadeiro nos seus fundamentos e aplicação, livrando-nos da obediência devida a leis absurdas.

Na vertente executiva que tente colocar ao lado de espírito preservacionista, cientificamente orientado,  revolucionário espírito reabilitador do território em temas de que dou exemplos: Estudos das condições de estado da madeira submersa em Tucuruí e em Balbina, facilmente extraível e industrializável em barcaças autônomas nos respectivos lagos; desassoreamento, por bombeamento ou sifonamento, de reservatórios de hidrelétricas, separando areia para a construção civil, de silte e argila para a revitalização agrícola de chapadas de solos exauridos, reduzindo a abertura de novas lavras; reabilitação de voçorocas como as de Cachoeira do Campo – MG no programa de revitalização da bacia do São Francisco, enfaticamente prometida. Introduzir em geral o experimentalismo no manejo territorial na Mantiqueira e serra do Mar para proteger o meio rural e as cidades dos respectivos vales.       



Belo Horizonte, 02 de novembro de 2010

Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo



[1] O Tempo; Opinião; 12/11/2010; p. 19 

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