O País que Espera Dilma [1]
Geocentelha 316
Em 2002 escrevi o artigo “O país que espera Lula” (http://www.geolurb.blogspot.com/).
Outro país agora espera Dilma. Falei de questões territoriais na crista da
onda, o desmatamento na Amazônia, e o Aquífero Guarani, apresentado como
novidade, embora familiar aos geólogos desde o século XIX; coisas opostas, uma
ameaça sobre a natureza e uma promessa da natureza. O país mudou e
Lula jogou papel saliente nas mudanças, em verdade confundindo-se umas em que
seu protagonismo foi decisivo com outras em que, hábil, ele terá roubado a
cena. Geologicamente o pré-sal é descoberta que começou ainda quando eu estava
na Petrobrás, onde em 1972 acompanhei a perfuração de poço que testava
estruturas de domos de sal ao largo de São Sebastião. Poucos se lembram do
aquífero Guarani, ofuscado pelo pré-sal, embora continue tão importante quanto
foi.
Temas de raízes ou conexões geológicas estão aí. Na ocasião
falei em transposições, e veio uma contra conveniências geológico-territoriais
flagrantes. Por falar de temas geológicos, lembro que assisti estarrecido à
concessão do prêmio Nobel da Paz por um livro mais inconveniente do que a
suposta verdade que nele se proclama. Lembro-me também do destaque dado ao
disparate geológico-ambiental, no plano simbólico, do enterro de baleia jubarte
de 10 toneladas em terra firme, quando rebocadores poderiam arrastá-la 500
metros mar adentro, proporcionando àquela massa vital a oportunidade
gloriosa da completa reciclagem que desde seus ancestrais geológicos a biosfera
pratica e experimenta.
Que a Presidente escolha para o ambiente ministro
não-executivo, de perfil semelhante ao de um Euclides da Cunha para, em
paralelo com o executivo, promover com a sociedade brasileira leitura crítica
profunda da fundamentação científica de nossas leis de ordenamento territorial
em geral e ambientais em particular, para sua revisão a curto prazo,
introduzindo um mínimo de recurso científico verdadeiro nos seus fundamentos e
aplicação, livrando-nos da obediência devida a leis absurdas.
Na vertente executiva que tente colocar ao lado de espírito
preservacionista, cientificamente orientado, revolucionário espírito
reabilitador do território em temas de que dou exemplos: Estudos das condições
de estado da madeira submersa em Tucuruí e em Balbina, facilmente extraível e
industrializável em barcaças autônomas nos respectivos lagos; desassoreamento,
por bombeamento ou sifonamento, de reservatórios de hidrelétricas, separando
areia para a construção civil, de silte e argila para a revitalização agrícola
de chapadas de solos exauridos, reduzindo a abertura de novas lavras;
reabilitação de voçorocas como as de Cachoeira do Campo – MG no programa de
revitalização da bacia do São Francisco, enfaticamente prometida. Introduzir em
geral o experimentalismo no manejo territorial na Mantiqueira e serra do Mar
para proteger o meio rural e as cidades dos respectivos vales.
Belo Horizonte, 02 de novembro de 2010
Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo
[1] O Tempo; Opinião; 12/11/2010; p. 19
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