31 de agosto de 2010

O Livro da Terra de Minas Gerais - Fascículo 2

Fascículo 2

Araguari encontra-se na província geológica conhecida por Bacia do Paraná, apresentando litotipos caraterísticos dos Grupos Bauru, Araxá e Fm. Serra Geral. Confrontando o mapa Geológico de Minas Gerais, versão 2003, (CPRM-CODEMIG), com a imagem do Google Earth, puderam-se distinguir tais unidades, a menos de ambiguidades locais, de acordo com a densidade de drenagem e a aparência do terreno (textura).

No sítio urbano, a leste da área mostrada, e para sudeste, a concentração de drenagem é muito baixa, o que indica, secundada por declividade moderada, alta permoporosidade e baixo escoamento superficial, características de área com sedimentos do Grupo Bauru e de coberturas detríticas mais recentes. A oeste da cidade, e também a nordeste, observa-se maior densidade de linhas de drenagem, com padrão dendrítico, denunciando elevado escoamento superficial característico de terrenos pouco permeáveis, do Grupo Araxá, a que o mapeador associou xistos e lentes de anfibolitos. A Formação Serra Geral, composta por basaltos e diabásios, ocorre no mapa em estreitas faixas dos dois lados do Araguari, embora bem a sul os basaltos formem o nível de base local.

O exemplo de Araguari é fecundo para esclarecer aspectos de sustentabilidade relacionados a recursos hídricos cruzados com os relacionados à erodibilidade do solo integrante da plataforma geológica local. Com efeito, a cidade, vilas e fazendas são abastecidas por água subterrânea (Oliveira & Campos, 2004) , principalmente do Grupo Bauru. Segundo esses autores, a produção de água subterrânea para a sede alcançava em 96 poços a média de 1.874m3/h, mais ou menos o dobro do consumo, respondendo as perdas diversas pela diferença. Ainda segundo os autores, as condições naturais de recarga são excelentes.

Do componente transitório (flora), vê-se que pouco ficou. Todo o enrugado afloramento do Grupo Araxá, pouco produtivo, deveria ser rearborizado e o contato das coberturas detríticas meso-cenozoicas com o substrato impermeável, este sim, deveria ser marco geológico de uma APP, ou entidade de ordenamento territorial equivalente, para prevenir ou atenuar a perda do precioso componente itinerante, a água, e para evitar que, sem controle, ela continue a promover erosões como as que o autor viu há 10 anos. Mapas geológicos não usados são inúteis.


Colaboraram Fábio Henrique Dias Leite, Geólogo, e Talita Maciel Mota, Estudante de Geologia, Estagiária.



Belo Horizonte, 31 de agosto de 2010

Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo


Oliveira, L. A., Campos, J. E. G. 2004. Parâmetros hidrogeológicos do sistema aqüífero Bauru na região de Aragua-ri/MG: Fundamentos para a gestão do sistema de abastecimento de água. In:Revista Brasileira de Geociências 34(2):213-218

22 de agosto de 2010

O Livro da Terra de Minas Gerais - Fascículo 1

Fascículo 1

Já contei a história de quando pensei em escrever o Livro da Terra de Minas Gerais (Geocentelha 312). Hoje exponho alguns conceitos e visões com que trabalho, não com a pretensão de ensinar a leigos ou mesmo a colegas geólogos princípios mais ou menos importantes. Os geólogos, e mais ou menos próximos deles outros profissionais, representam a terra em mapas de escalas diversas. Para os geólogos são leituras de decodificação quase imediata, mas o que representa de fato o mapa geológico? É o mapa da distribuição das categorias de terrenos sobre a terra quanto a algumas das suas propriedades. De modo geral podemos dizer que um mapa geológico exibe em sua linguagem e regras próprias o sistema geológico.

Aqui, inclusive para os colegas geólogos, digo que trabalho, quando caiba, com a seguinte concepção de sistema geológico: O sistema constituído por um arcabouço mineral sólido, que chamo de componente permanente; toda a biosfera que nele se apoia, que chamo de componente transitório; os fluidos intersticiais, que em geral limitarei à água, que chamo componente itinerante.

Pois bem, o mapa geológico em geral representa o componente permanente, com limitações das características exibidas, é a grande verdade. São muitas as limitações, mas uma delas estará frequentemente presente no livro. É a história geológica recente, marcada pela pegada antrópica, tecnogênica (temos desenvolvido mapas que tentam contar essa história, mas estou aqui falando de mapas geológicos não necessariamente especializados).

Qual a importância dessa história? A mesma da história política, social, econômica da humanidade, aliás parte dessa história convencionalmente reconhecida. E quando penso em história estou aqui pensando no seu aspecto utilitário mesmo, aquele que me lembra a mais simples das definições de história (aliás, mais propriamente uma sumária declaração de qualidade): “A história é a mestra da vida” (Cícero). Recentemente li em português um livro que trata de um ângulo da história da humanidade coincidente com o que penso agora, de Jared Diamond , Colapso, no qual o autor traça em linhas gerais o que sucedeu com culturas que desapareceram e com outras que triunfaram, tendo a questão ambiental por fator decisivo.

No livro da terra, juntamos (digo juntamos porque não sou só eu, pois ao final de cada fascículo cito quem nele colaborou, exceto o Fábio Henrique Dias Leite, que tem nele uma função permanente, mas que será também citado quando contribuir especialmente para o conteúdo do fascículo) a imagem do Google Earth com o mapa geológico oficial de Minas Gerais. Tentaremos mostrar, da área focalizada, a correspondência lógica entre a imagem e o mapa, aí fazendo um esforço de divulgação das possibilidades do mapa, mas também, como que complementando-o, traçando em linhas muito gerais e despretensiosas características dos demais componentes e as vicissitudes por que passou ou tem passado a área no presente, em relação ao componente permanente, ao componente transitório e ao componente itinerante.



Belo Horizonte, 22 de agosto de 2002.

Edézio Teixeira de Carvalho.
Eng. Geólogo


Diamond J. (2005). Colapso (Collapse) – Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. Trad. de Alexandre Raposo. Ed. Record, 2ª Ed. 685 pp. Rio de Janeiro. São Paulo.

12 de agosto de 2010

Geologia Urbana para Todos



O geólogo Edézio Teixeira de Carvalho disponibiliza seu livro "Geologia Urbana para Todos: uma visão de Belo Horizonte" em formato PDF.

"Amigos: Entre fazer uma terceira impressão e distribuir o livro democraticamente optei por esta. Há muitas razões, a principal sendo que estou preparando o lançamento do Livro da Terra de Minas Gerais, (a ser publicado em fascículos na Internet) nas entrelinhas anunciado por este que estou enviando.


Permito-me duas observações:
A primeira é que eu recomendaria aos que desejem lê-lo, que comecem pela página 155; a segunda é um aviso, com todos os meus agradecimentos, à ilustre Professora de Arquitetura Margarete Leta, da PUC - MG, que poderá passar aos alunos o livro por este meio, não podendo eu atender aos pedidos que anos a fio vem fazendo."

Edézio Teixeira de Carvalho

Geolurb - Geologia Urbana e de Reabilitação Ltda
(31) 32622722; 84762977
edeziotc@gmail.com

Link para download:
Geologia Urbana para Todos

Da série O Livro da Terra de Minas Gerais

O Livro da Terra de Minas Gerais [1]
Geocentelha 312



Nosso mapa geológico (Edição 2003) traz cartograma com as províncias Tocantins (1), São Francisco (3), Mantiqueira (4) e Bacia do Paraná (2). Felizes os autores. Ele não poderia ser mais fragmentado para bem representar o conteúdo geológico na construção da lógica que se espera de país organizado. Mostra o estado-síntese desafiante para a gestão. A oeste a bacia do Paraná tem quadro físico mais próximo de estados sulinos que de Minas. Formações sedimentares tabulares e derrames basálticos oferecem à gestão domínios de homogeneidade extensos, e relevos suaves. As províncias 3 e 4 são predominantes na minha experiência. A 3 é heterogênea e desafiante, sede da principal mineração e, por causa desta, da implantação do conhecimento geológico no Brasil, da nossa cultura, da primeira concepção de nação, primeira rede de cidades. Tem formações cristalinas que emergem como janelas do passado geológico remoto ou que irrompem mais novas, rodeadas das coberturas proterozoicas dobradas, que surram engenharias sem intimidade com a terra como fazem agora no acesso a um viaduto pronto e ocioso. Atravessando eons geológicos, ela tem linhitos terciários no coração do proterozoico Quadrilátero. (Que o museu das Minas e do Metal chame a cultura mineira a um aggiornamento, à contemporaneidade da compreensão das implicações geológicas sobre o ambiente, nossos modos de viver e até mesmo de morrer).

A Província Mantiqueira, antes suporte de faiscadores, depois cafezais brilhantes em fazendas de 100 janelas, paisagem do trem que passa(va) na margem oposta do rio. Como poderiam ferrovias evitar a várzea, nos va-les? Como poderiam aninhar-se cidades entre rios e encosta, senão como foi? Encostas em sigmoide, como teimar contra elas a insensata lei? Donde a diáspora da zona da Mata senão da erosão que martiriza cidades, com o Estado brasileiro legislando ferozmente sobre o nada, ao sabor de fratricida briga em que tantas armas comparecem, exceto a lógica geológica?

Há 20 anos concebi o livro. Há 10 publiquei anúncio cifrado dele (Geologia Urbana para Todos). É hora de escrevê-lo porque a tecnologia que faltava chegou com a Internet. Nasceu O LIVRO DA TERRA DE MI-NAS GERAIS, combinação da geologia mapeada com imagens de interesse da população. Nele restará pro-vado que a diversidade geológica requer a de ordenamentos e práticas. A imagem será acompanhada, como pedra que fecha a cúpula, da dinâmica previsível e de possibilidades corretivas, com base em fundamentos epistemológicos universais. As ilhas de conhecimento geológico crescerão até coalescerem expandidas por sucessores que virão. O território mineiro está doente e não há nada, senão trabalho, que mude isto. O livro, em fascículos semanais, eu prometo.


Belo Horizonte, 12 de agosto de 2010

Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo.



[1] Jornal O Tempo; Opinião; 12/08/2010; P. 19 (exceto o cartograma)