13 de janeiro de 2012

Causas entrelaçadas

Causas entrelaçadas [1]
Geocentelha 346

Houve tempo em que as pessoas estavam mais perto da natureza, mesmo morando em cidades, então pequenas, e, no caso de Belo Horizonte, curiosos deixavam suas casas para observar a cachoeira do Arrudas ou do Onça; em São Paulo colega meu disse que não perdia uma cheia do Piracicaba, e eu aos 8 anos não perdia uma do Gualaxo do Sul, ainda hoje só não tão bonito quanto o que vi do Zêzere. Um conhecimento intuitivo vinha chegando com o tempo e com o conviver.

Disse a um amigo que indivíduo que tenha aprendido algo útil jamais se esquece, mas as nações se esquecem facilmente. Basta uma geração. Tínhamos um curso universitário chamado História Natural, com ênfases em geologia, geografia, biologia. Lembro-me de colegas das três ênfases, observando-os de fora, notando que havia distinções filosóficas mais ou menos profundas, mas respeito mútuo, porque discutiam temas ambientais cruzados e todos ganhavam. Terminado o curso, ficaram as licenciaturas de geografia e biologia em ambientes estanques, e não foi criada a de geologia, talvez com uma de duas suposições absurdas, o bacharelado em apenas 20 cursos responder pela demanda desses quadros, ou a matéria ser dividida apenas entre licenciados de outras áreas. Talvez hoje o Brasil tenha uma única licenciatura geológica na UNICAMP. Então, mesmo onde haja a matéria geológica no ensino fundamental em geral, não haverá licenciados em geologia para ministrá-la. As outras licenciaturas estarão sentindo falta do contraditório no ambiente escolar. Bateremos cabeças na questão até reaprendermos.

Escorregamentos dependem, nas cidades, do contexto geológico, dos modelos de assentamento adotados, nem sempre os mais lógicos, das declividades e da forma de escavar e construir, e das chuvas. Estes são os cinco fatores centrais. A geologia, na intimidade de cada contexto geológico geral, abre inúmeros outros fatores.

Rios? Há pelo menos 3 grandes categorias: Os que nascem nas cidades e sobre os quais elas teriam à partida pleno domínio (Arrudas e RMBH); os que passam pelas cidades (Piranga e Ponte Nova) sobre os quais a cidade não tem quase nenhum domínio, senão reduzir o inevitável risco de posição, e os federais (Paraíba do Sul e Campos) sobre os quais nem o estado tem domínio. Escorregamentos ampliam inundações, agora, e levam o reservatório geológico para sempre. Perda de solo é perda d´água certa no futuro. Ponte Nova e Campos dependem em primeiríssimo lugar da consciência verdadeira, solidária, sensível, sem insensatez, das cidades a montante, acostumadas a descarregar jatos d’água sobre as coirmãs; das áreas rurais (governo federal com seu ilógico Código Florestal) e dos estados que estão a montante. Se não for assim, ficaremos à mercê de batalhas por verbas baseadas em argumentos nem sempre bem fundamentados, e muitas vezes oportunistas.

Dinheiro básico e bem dirigido, sim. Mas também reformulação do ensino fundamental já.



Belo Horizonte, 07 de janeiro de 2012

Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo.




[1] O Tempo; Opinião; 11/01/2012; P19