12 de agosto de 2010

Da série O Livro da Terra de Minas Gerais

O Livro da Terra de Minas Gerais [1]
Geocentelha 312



Nosso mapa geológico (Edição 2003) traz cartograma com as províncias Tocantins (1), São Francisco (3), Mantiqueira (4) e Bacia do Paraná (2). Felizes os autores. Ele não poderia ser mais fragmentado para bem representar o conteúdo geológico na construção da lógica que se espera de país organizado. Mostra o estado-síntese desafiante para a gestão. A oeste a bacia do Paraná tem quadro físico mais próximo de estados sulinos que de Minas. Formações sedimentares tabulares e derrames basálticos oferecem à gestão domínios de homogeneidade extensos, e relevos suaves. As províncias 3 e 4 são predominantes na minha experiência. A 3 é heterogênea e desafiante, sede da principal mineração e, por causa desta, da implantação do conhecimento geológico no Brasil, da nossa cultura, da primeira concepção de nação, primeira rede de cidades. Tem formações cristalinas que emergem como janelas do passado geológico remoto ou que irrompem mais novas, rodeadas das coberturas proterozoicas dobradas, que surram engenharias sem intimidade com a terra como fazem agora no acesso a um viaduto pronto e ocioso. Atravessando eons geológicos, ela tem linhitos terciários no coração do proterozoico Quadrilátero. (Que o museu das Minas e do Metal chame a cultura mineira a um aggiornamento, à contemporaneidade da compreensão das implicações geológicas sobre o ambiente, nossos modos de viver e até mesmo de morrer).

A Província Mantiqueira, antes suporte de faiscadores, depois cafezais brilhantes em fazendas de 100 janelas, paisagem do trem que passa(va) na margem oposta do rio. Como poderiam ferrovias evitar a várzea, nos va-les? Como poderiam aninhar-se cidades entre rios e encosta, senão como foi? Encostas em sigmoide, como teimar contra elas a insensata lei? Donde a diáspora da zona da Mata senão da erosão que martiriza cidades, com o Estado brasileiro legislando ferozmente sobre o nada, ao sabor de fratricida briga em que tantas armas comparecem, exceto a lógica geológica?

Há 20 anos concebi o livro. Há 10 publiquei anúncio cifrado dele (Geologia Urbana para Todos). É hora de escrevê-lo porque a tecnologia que faltava chegou com a Internet. Nasceu O LIVRO DA TERRA DE MI-NAS GERAIS, combinação da geologia mapeada com imagens de interesse da população. Nele restará pro-vado que a diversidade geológica requer a de ordenamentos e práticas. A imagem será acompanhada, como pedra que fecha a cúpula, da dinâmica previsível e de possibilidades corretivas, com base em fundamentos epistemológicos universais. As ilhas de conhecimento geológico crescerão até coalescerem expandidas por sucessores que virão. O território mineiro está doente e não há nada, senão trabalho, que mude isto. O livro, em fascículos semanais, eu prometo.


Belo Horizonte, 12 de agosto de 2010

Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo.



[1] Jornal O Tempo; Opinião; 12/08/2010; P. 19 (exceto o cartograma)

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