26 de setembro de 2011

Morte do geólogo Mario Guedes e do engenheiro Mario Bitencourtt

Considero extremamente importante tratarmos da questão do incidente que nos levou os colegas geólogo e engenheiro. Sou por natureza meio recolhido ao vale alcantilado, de modo que não sou muito exportador da minha própria presença, mas observo com fidelidade a natureza e a humanidade, as duas ao mesmo tempo. Precisamos defender por todos os meios a segurança dos engenheiros e geólogos em seus trabalhos tantas vezes pioneiros, não só pelo fim em si de tê-los vivos e seguros, mas também para que tenham condições de colocar vivas e seguras todas as pessoas que dependem de seus trabalhos, como prometeram em seus juramentos. Não quero diluir a força que devemos colocar na defesa da investigação mais rigorosa. Pelo contrário, exatamente para reforçar nossos argumentos em benefício dela, devemos também apontar para a importância do trabalho que fazem, e como é prejudicial a sua falta à sociedade, não importa de que país, mais ainda quando difusa, sem identificação prévia de sacrificados e de quantos.
Estamos, senhor presidente, assistindo a um cerceamento terrível do trabalho geológico e de outros profissionais. O cerco apertado sobre a não ocupação ou não intervenção em APPs de áreas urbanas está levando profissionais a simplesmente apontarem as ações proibidas. Dir-se-á: "está certo, é a lei que manda". Todavia a lei que manda, a meu juízo inconstitucional, mas isto é outra questão, não manda que eles deixem de avisar o povo que lhes custeia o grau de geólogos, engenheiros e de outros profissionais dos riscos que correrão sem as intervenções ou obras tecnicamente recomendadas.
Sugiro-lhe, portanto, presidente, que contextualizemos, como muito bem fizeram recentemente os juízes nas pressões que movem para o esclarecimento do assassínio que vitimou recentemente uma juíza. Tudo isto digo, senhor presidente, sem qualquer pré-julgamento sobre o que levou à morte os colegas Geólogo Mário Guedes e Engenheiro Mário Bitencourtt. Dada a relevância do tema que muito oportunamente levanta na condição de Presidente da ABGE, peço-lhe compreender a necessidade que tenho de compartilhar esta visão com uma comunidade mais ampla que a da nossa Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e
Ambiental.



Atenciosamente.



Edézio Teixeira de Carvalho
Geolurb - Geologia Urbana e de Reabilitação Ltda

22 de setembro de 2011

Esquecido, atingido, acusado

Esquecido, atingido, acusado
Geocentelha 339

Já disse admitir a possibilidade do aquecimento global. Hoje tenho dúvidas porque meteorologistas e geólogos começaram a falar, estes afirmando estarmos em fase interglacial, mas para grande parte da humanidade são favas contadas e há culpados a punir. A humanidade deve ter cuidado consigo mesma porque não é de hoje que leva à fogueira inocentes, como sempre houve corda à mão para supliciar acusados de furtar cavalos no velho oeste, também às vezes inocentes. A humanidade como um todo, sem culpados a designar especialmente, desde a revolução agrícola, nunca deixou de por em risco seu próprio futuro promovendo a erosão do solo. Lembro que aí há risco muito concreto, principalmente nas regiões montanhosas, onde o principal promotor da erosão é a mente humana e o principal executor o casco do boi, em dezenas de milhões de hectares em declividades entre cerca de 50% até os inacreditáveis 100%, e que esse risco se efetiva ano a ano porque a erosão é sazonal acompanhando as chuvas, mas a reposição do solo não é feita ano a ano, porque o processo geológico gerador de solo é lento.

Montanhas costumam ser o palco que justifica o título. Sobrevoemos Teresópolis de Google Earth, e veremos, comparando imagens do ano passado com as atuais, que os deslizamentos escolheram áreas geologicamente instáveis, ocupadas ou não. Colegas de São Paulo e Rio declaram à imprensa, com variações, que apenas parcialmente a ocupação “criminosa” provocou o desastre. Em muitos casos essa ocupação, sem ter provocado nada, foi atingida por massas deslizantes vindas de cima em processo natural de evolução da paisagem da serra do Mar. Aí posso dispensar o testemunho dos colegas, porque vi fotografias em que casas próximas a fundos de vales, de grande porte, de proprietários diria ricos, escaparam desta feita, mesmo construídas ao lado de grandes blocos rochosos, que, em épocas passadas, certamente rolaram da encosta. Ingênuos? Talvez, como tantos, ricos e pobres, que tenham confiado no critério do poder público quanto à verificação oportuna da segurança de construir lá. Hoje muitos são acusados de especulação imobiliária, entre os que venderam e os que compraram. Afinal esquecidos pelo poder público por eles mantido, que lhes nega o direito à segurança e à informação técnica sobre ela, cláusulas pétreas de qualquer constituição moderna, são atingidos ou correm sérios riscos, e depois acusados de provocarem a natureza. Tenho ouvido dizer de hotéis e até hospitais condenados à demolição sob alegação de estarem em APP. Pois devem estar onde estudos técnicos responsáveis indicarem como a melhor localização. Se não for assim, desaprenderemos tudo, e construiremos cidades verdadeiramente inviáveis. Num esforço mental de personificar o Código Florestal, é praticamente impossível deixar de associá-lo ao alienista de Machado de Assis. Além de Tukushima (2 mortes), aprendamos com Sendai (20.000).      



Belo Horizonte, 17 de setembro de 2011



Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo.


13 de setembro de 2011

Artigo Publicado

Prezados, envio cópia para download do artigo " O Código Florestal e o Ócio Intelectual" publicado no jornal Notícia do Dia de Florianópolis. Dia 10 e 11 de setembro de 2011.

Abaixo o link para download.

http://www.megaupload.com/?d=5X3VCINR

5 de setembro de 2011

Livro Geologia Urbana para Todos [Download]



O geólogo Edézio Teixeira de Carvalho disponibiliza seu livro "Geologia Urbana para Todos: uma visão de Belo Horizonte" em formato PDF.


Link para download:
Geologia Urbana para Todos


Edézio Teixeira de Carvalho

Geolurb - Geologia Urbana e de Reabilitação Ltda
(31) 3262-2722
(31) 8205-3123

Patrocinador do ócio intelectual

Patrocinador do ócio intelectual
Geocentelha 338

Considero o Código Florestal atual e futuro bem propositado, mas não me furto ao dever de apontar suas principais falhas de fundamentação técnica e de lógica. Estimulado com a ação do colega Álvaro Rodrigues dos Santos (São Paulo) nesta luta, solicitando aos senadores, em artigo de jornal de grande circulação, que excluam a aplicação do Código Florestal ao meio urbano, por razões técnicas poderosas que levanta, volto ao assunto. Afinal não sou o João Batista que prega sozinho no deserto. Com efeito, por melhor que fosse a qualidade da redação do Código, feito para o meio rural, constitui evidente impropriedade de técnica legislativa estender sua aplicação ao meio urbano sem um mínimo de adaptação (considerando que as exceções abertas são meras tentativas de embelezar Quasímodo) .

Tenho defendido a tese de que as leis de gestão territorial constituem meio, exatamente para não caírem em contradições completamente absurdas. Nem vou pontuar mais uma vez pormenores técnicos, mas apresento dois de lógica simples, já repetidos em conversas ou escritos: Se, por hipótese trocarmos de base territorial com a América espanhola, mandaremos demolir, entre outras coisas, as cidades do México, Bogotá e La Paz,  situadas muito acima da famigerada cota 1800 metros? Esquecemo-nos de vez da história da humanidade na passagem em que o motivo da admiração, talvez com um pouco de inveja, do sábio grego pelo desenvolvimento da civilização egípcia, fê-lo cunhar a famosa frase “o Egito é uma dádiva do Nilo”? E olhando para o famoso rio e seu delta ramificado, aprendemos que grande parte do enchimento de seus celeiros vinha exatamente de terrenos aqui classificáveis como áreas de preservação permanente?

Mas há coisa muito pior sobre a qual tenho insistido. Além de ser um meio, a forma da lei deve buscar o estímulo à reflexão e à experimentação científicas. E fico completamente desesperado imaginando pesquisadores preparadíssimos dos órgãos estatais de pesquisa e extensão limitando seus experimentos ao que a lei-fim permite. É pior, caro leitor, do que isto. Leiamos cruzados o Código Florestal com a lei dos crimes ambientais. Essa leitura foi feita por todos os profissionais dos dois lados do balcão. Do lado público engenheiros, geólogos, biólogos, em geral bem formados, são condenados ao ócio intelectual patrocinado e do lado privado a decepção por verem suas ferramentas de trabalho perderem inteiramente a utilidade por absoluta dispensa de aplicação. E a população, que, se atenta, simplesmente assistirá os projetos de reabilitação de áreas degradadas, de redução do gravíssimo risco geológico urbano, de correção das insalubridades naturais ou antrópicas deixarem de ser feitos simplesmente, sem ser avisada (direito constitucional pétreo, se querem) dos riscos que correrá, porque o ócio forçado pode fazer o agente público esquecer-se de que esse aviso ele jurou passar ao povo.   



Belo Horizonte, 25 de agosto de 2011



Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo.