Geocentelha 342
Fiquei admirado não só com a ordenada disciplina dos
japoneses nos dias seguintes ao terremoto que vitimou Sendai, mas também com a
rapidíssima reconstrução em curso. Comparo com a lentidão das nossas
reconstruções, com auxílios materiais a Nova Friburgo ainda não distribuídos,
apodrecidos, talvez desviados, enquanto localidade do Japão já devolveu doações
internacionais não utilizadas. Admirável!
Há contudo uma espécie de fatalismo japonês sobre o qual
faço observações. Verifico pelo Google Earth que muitas cidades japonesas estão
temerariamente implantadas ao nível do mar com folga comum da ordem de poucos
metros. É verdade que há guarnições sob a forma de quebramares. Recorro a Bolt
e outros (Geological Hazards, Springer Verlag, N. York, 1975, p. 133) onde vejo
lista dos grandes tsunamis, que começa no Mediterrâneo com a destruição da
civilização minoica em Creta provocada pela erupção de Santorini e consequente
tsunami; continua no Atlântico (sim, senhores), com o tsunami que atingiu
Lisboa em 1755; Índico e Pacífico (Java, Havaí, Peru-Chile, Alasca, Japão). No
Japão destaque para um de 1896 que atingiu mais de 20 metros de
altura e matou mais de 26.000 pessoas. Por que o Japão continua a urbanizar a
orla baixa, com defesas precárias representadas por quebramares baixos? Talvez
o revólver esteja apontando para ouvido alheio... Tsunamis podem ser erráticos,
mas sempre ocorrerão; as cidades almejam a eternidade e estarão sempre lá.
Haverá sempre uma no caminho de um deles. Nada impediria que o assentamento observasse
folga mínima de pelo menos uns 20 metros. Quem tem tecnologia de
edificações sismorresistentes tão desenvolvida, poderia gerar essa folga de 20
metros com aterros de resíduos e de desassoreamento de rios. Afinal
acabaram de construir aeroporto em ilha artificial com material dragado do mar!
Bolt e outros citam sistema de alerta transpacífico desde os anos 50. Na
abramos mão deles, mas apenas como recurso auxiliar. De madrugada, pouco podem.
Belo Horizonte, 12 de novembro de 2011
Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo