3 de junho de 2011

Lugar de Plantar

Lugar de Plantar
Geocentelha 330

Plantaram os geólogos nossos antepassados ideias novas sobre a Terra, inclusive para provarem que ela era 750.000 vezes mais velha do que era ensinado ou imposto como dogma. Pelo menos desde o século V antes de Cristo geólogos, ostentando ou não o nome, têm-se esforçado por colocar algumas coisas no lugar. No dia do Geólogo, 30 de maio, não custa lembrar duas coisas: O que fizeram com coragem, cumprindo dever sagrado para com a humanidade e o tanto que não conseguiram fazer. Geólogos australianos e japoneses, por exemplo, conhecem a história geológica deixada por tsunamis com ondas de dezenas de metros de altura, mas não conseguiram convencer uma nação tão esclarecida quanto o Japão de que não se deve urbanizar a orla baixa nem colocar nela centrais nucleares. A orla baixa é muito boa para plantar arroz, nunca para morar. Não convenceram outros povos de outras necessidades como a de generalizar o conhecimento da terra através da geologia. Não por acaso, portanto, este século já deve estar chegando aos 10.000.000 de mortos por tragédias consequentes a acidentes geológicos e a meras escavações temerárias de uma vala ou um barranco.

Mas o tema de hoje é outro: É o princípio do vaso fechado, caro aos geólogos no estudo de temas  geológicos maiores como o metamorfismo e o metassomatismo. Esse princípio, entretanto, deveria ser reconhecido e aplicado por toda a humanidade na gestão em outras áreas. Diz ele que toda a sustentabilidade disponível está concentrada no vaso fechado da Terra. Se deixarmos, por exemplo, de consumir a baleia caçada em idade adulta, teremos de substituí-la por uns 200 bois, que, criados extensivamente em terrenos íngremes, destroem o solo, a casa ideal da água, e as conseqüências virão em cadeia: O processo geológico não repõe solo novo na velocidade com que é perdido.

O vaso fechado nos ajuda noutro ponto: Lugar de plantar inhame, banana, uma infinidade de hortaliças, o arroz em grande escala no Sudeste Asiático e alhures, é na presença de água exposta à superfície ou sub-aflorante, onde as plantações são naturalmente irrigadas. Esses plantios em absolutamente nada prejudicam a água, por exemplo, e também não as margens, porque o que destroi as margens não são esses cultivos, mas o boi, o carneiro, a capivara, e as enxurradas que vêm de cima. Se não os plantarmos aí, principalmente onde chove pouco, terão de ser plantados (vaso fechado) noutro lugar para onde a água será levada por gotejamento, em regos ou por aspersão, certamente com impactos ambientais também e às vezes maiores.

Se as cidades cultivarem brejos, terei de passar meus últimos anos longe delas. Com Dante, passado por Fábio: “No verão a saúde traz perigo; em vasto plaino o álveo dilatando, forma paul, das infecções amigo”, ou com Graciliano (Angústia): “Muitos agora tiritavam, batendo os dentes como porcos caititus, na maleita que a lama da lagoa oferece aos pobres”.



Belo Horizonte, 7 de maio de 2011

Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo.


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