26 de fevereiro de 2011

O Paradoxo paulistano

O Paradoxo paulistano
Geocentelha 325

Alguém duvida de que São Paulo é a maior concentração de conhecimento e inteligência no Brasil? Maior concentração de poder econômico? Maior aparato institucional de universidades e centros de pesquisas? De que São Paulo tem a maior experiência de construção viária na serra do Mar? Eu não! É claro que, com exceção do último qualificativo, não desprezando outras experiências viárias na serra, São Paulo tem tudo isto a mais por questão de proporcionalidade populacional, turbinada por desenvolvimento mais consolidado. E agora? São Paulo pode resolver ou liderar a solução dos problemas urbanos da serra do Mar? São Paulo tem experiências comprovadas em Santos, Ubatuba, Caraguatatuba, Cubatão. A resposta então seria afirmativa. Pode, mas poder não garante que o consiga. E a dúvida não surge por questão puramente técnica ou de arranjo institucional (política), mas enraizada profunda e sutilmente no âmago da mais delicada das ciências aplicadas, a da gestão.

Corto agora para a primeira entrevista do saudoso Mário Covas, governador, a que assisti pela televisão ao assumir seu primeiro mandato. Respondeu a uma pergunta assim: “A solução do problema do Tietê é conceitualmente simples, concentrando-se essencialmente em alargar e aprofundar a calha”. Não obstante os esforços aplicados, a solução prometida parece um poente, que se aproxima de nós à medida que tentamos afastar-nos dele antes que as trevas nos cubram. Em janeiro vejo, na televisão, o governador paulista atual declarar: “Vamos dar continuidade à construção dos piscinões. O piscinão é a várzea moderna”. Talvez esteja aí uma ponta da explicação do paradoxo paulistano, pois quem faz a nova Imigrantes, plena de exemplos de boa técnica, e muito mais do que isto, da melhor filosofia concepcional e construtiva, tem capacidade de sobra para ter resolvido o problema das inundações de São Paulo, que ameaça sobreviver ao século 21! Não o fez porque não tomou conhecimento de descrição geológica do problema e muito menos nela inspirou a solução. O problema não é simples como disse o primeiro, e não se compadecerá nem com a sua solução e muito menos com a várzea moderna do segundo.

Na rodovia a liberdade de pensar na aplicação do conhecimento e da inteligência em busca da melhor solução é ampla e notória. Cidade é diferente, é construída dia a dia por muitos agentes mal coordenados. Precisa certamente de regulamentos especiais, que, contrariamente ao que fazem os atuais, estimulem o uso do conhecimento e da inteligência, na busca dos terrenos mais seguros para a habitação, dos meios mais eficazes de dispor e imobilizar as massas geológicas e de dar à água lugar e condições de entrada e de saída no sistema geológico conforme a sua feição. Sem o uso do patrimônio intelectual, formado a duras penas, agora não só o dos paulistas, o dinheiro do pré-sal e supercomputadores rolarão na lama como os matacões da serra.   


       
Belo Horizonte, 04 de fevereiro de 2011

Edézio Teixeira de Carvalho

Eng. Geólogo.

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