O Paradoxo paulistano
Geocentelha 325
Alguém duvida de que São Paulo é a maior concentração de
conhecimento e inteligência no Brasil? Maior concentração de poder econômico?
Maior aparato institucional de universidades e centros de pesquisas? De que São
Paulo tem a maior experiência de construção viária na serra do Mar? Eu não! É
claro que, com exceção do último qualificativo, não desprezando outras
experiências viárias na serra, São Paulo tem tudo isto a mais por questão de
proporcionalidade populacional, turbinada por desenvolvimento mais consolidado.
E agora? São Paulo pode resolver ou liderar a solução dos problemas urbanos da
serra do Mar? São Paulo tem experiências comprovadas em Santos, Ubatuba,
Caraguatatuba, Cubatão. A resposta então seria afirmativa. Pode, mas poder não
garante que o consiga. E a dúvida não surge por questão puramente técnica ou de
arranjo institucional (política), mas enraizada profunda e sutilmente no âmago
da mais delicada das ciências aplicadas, a da gestão.
Corto agora para a primeira entrevista do saudoso Mário Covas,
governador, a que assisti pela televisão ao assumir seu primeiro mandato.
Respondeu a uma pergunta assim: “A solução do problema do Tietê é
conceitualmente simples, concentrando-se essencialmente em alargar e aprofundar
a calha”. Não obstante os esforços aplicados, a solução prometida parece um
poente, que se aproxima de nós à medida que tentamos afastar-nos dele antes que
as trevas nos cubram. Em janeiro vejo, na televisão, o governador paulista
atual declarar: “Vamos dar continuidade à construção dos piscinões. O piscinão
é a várzea moderna”. Talvez esteja aí uma ponta da explicação do paradoxo
paulistano, pois quem faz a nova Imigrantes, plena de exemplos de boa técnica,
e muito mais do que isto, da melhor filosofia concepcional e construtiva, tem capacidade
de sobra para ter resolvido o problema das inundações de São Paulo, que ameaça
sobreviver ao século 21! Não o fez porque não tomou conhecimento de descrição
geológica do problema e muito menos nela inspirou a solução. O problema não é
simples como disse o primeiro, e não se compadecerá nem com a sua solução e
muito menos com a várzea moderna do segundo.
Na rodovia a liberdade de pensar na aplicação do
conhecimento e da inteligência em busca da melhor solução é ampla e notória.
Cidade é diferente, é construída dia a dia por muitos agentes mal coordenados.
Precisa certamente de regulamentos especiais, que, contrariamente ao que fazem
os atuais, estimulem o uso do conhecimento e da inteligência, na busca dos
terrenos mais seguros para a habitação, dos meios mais eficazes de dispor e
imobilizar as massas geológicas e de dar à água lugar e condições de entrada e
de saída no sistema geológico conforme a sua feição. Sem o uso do patrimônio
intelectual, formado a duras penas, agora não só o dos paulistas, o dinheiro do
pré-sal e supercomputadores rolarão na lama como os matacões da serra.
Belo Horizonte, 04 de fevereiro de 2011
Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo.
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