Ética, Estado e Governo
Geocentelha 335
O Brasil, chamava-me a atenção o lúcido engenheiro, constroi
tardiamente a infraestrutura, palavra que uso a contragosto, porque
infraestrutura é a terra que recebemos com seus paus brasis de pé. A montagem
de infraestrutura ao longo da história cobrou custos financeiros, ambientais,
propinas, chibatadas. Recortado de canais, ferrovias, pontes, o mosaico
europeu, compartimentado por Pirineus, Apeninos, Alpes, Cárpatos, fiordes, está
multiconectado a ponto de parecer homogênea planície. Europeus não querem que
façamos como fizeram, mas como acham correto hoje. Fazendo um EIA-RIMA
retrospectivo sobre a Europa, seria de perguntar: Desmontariam tudo por suas
teses? A velha Albion estaria disposta a rearborizar sua mesa de bilhar?
O Brasil, que só foi além de Paracatu pelas mãos de JK faz
50 anos, precisa costurar seu mosaico, e ambientalistas, aliás, na origem,
muito justamente, montam a lei como cavalo de batalha, mas que lei é essa?
Servirá mesmo ela a seus (nossos) propósitos? E nós? Povão ruidoso, alegre, cheio
de asiáticos, europeus e sulamericanos, com o feito prodigioso da tolerância,
que parece apagar naturalmente as mútuas mágoas originais dos imigrados. Mesmo
tendo essa riqueza que a outros países falta, precisamos aprender com eles até
nos erros. Ficamos admirados com a ordem com que japoneses enfrentaram a
tragédia de Sendai. Mas vocês notaram? Ficou só Fukushima; ninguém se lembra
mais de Sendai, onde morreram mais de 20.000 pessoas! A tragédia japonesa tem
duas dimensões, a das perdas e a da interpretação: A cidade e centrais
nucleares estavam expostas a evento geológico de alta previsibilidade. O
acidente nuclear parece ter sido espoletado pelo tsunami, em fragoroso erro
geológico de localização, mas atinge o coração desse modal energético como se apenas
ele contivesse erro inerente, e os outros não; ele roubou a cena, impedindo
qualquer movimento mundial mais visível no sentido de cobrar dos planejadores
japoneses mais atenção, na localização das cidades, com ocorrências geológicas
que tão bem conhecem.
Estado e governo, que o vai mudando supostamente segundo a
vontade do povo, precisam compreender que o efeito de leis de ordenamento
territorial que dispensam e afastam a ciência é muito mais desastroso do que erros
individuais, que terão sempre a presença de acertos para comparação de
resultados e evolução da civilização. Se me pedissem minuta de código
ambiental, trabalharia essencialmente na fixação de taxas de exploração máximas
por compartimento territorial homogêneo, deixando aos técnicos para esse fim
formados a aplicação do conhecimento na fixação de onde colocar a atividade
exploratória nas propriedades. Palavras de ordem de governos sobre água e
outros temas ambientais completamente incorretas do ponto de vista científico
devem ser vistas como pura ignorância governamental ou como imperdoável desvio
de comportamento ético?
Belo Horizonte, 16 de julho de 2011
Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo.
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