16 de agosto de 2011

Ética, Estado e Governo

Ética, Estado e Governo
Geocentelha 335

O Brasil, chamava-me a atenção o lúcido engenheiro, constroi tardiamente a infraestrutura, palavra que uso a contragosto, porque infraestrutura é a terra que recebemos com seus paus brasis de pé. A montagem de infraestrutura ao longo da história cobrou custos financeiros, ambientais, propinas, chibatadas. Recortado de canais, ferrovias, pontes, o mosaico europeu, compartimentado por Pirineus, Apeninos, Alpes, Cárpatos, fiordes, está multiconectado a ponto de parecer homogênea planície. Europeus não querem que façamos como fizeram, mas como acham correto hoje. Fazendo um EIA-RIMA retrospectivo sobre a Europa, seria de perguntar: Desmontariam tudo por suas teses? A velha Albion estaria disposta a rearborizar sua mesa de bilhar?

O Brasil, que só foi além de Paracatu pelas mãos de JK faz 50 anos, precisa costurar seu mosaico, e ambientalistas, aliás, na origem, muito justamente, montam a lei como cavalo de batalha, mas que lei é essa? Servirá mesmo ela a seus (nossos) propósitos? E nós? Povão ruidoso, alegre, cheio de asiáticos, europeus e sulamericanos, com o feito prodigioso da tolerância, que parece apagar naturalmente as mútuas mágoas originais dos imigrados. Mesmo tendo essa riqueza que a outros países falta, precisamos aprender com eles até nos erros. Ficamos admirados com a ordem com que japoneses enfrentaram a tragédia de Sendai. Mas vocês notaram? Ficou só Fukushima; ninguém se lembra mais de Sendai, onde morreram mais de 20.000 pessoas! A tragédia japonesa tem duas dimensões, a das perdas e a da interpretação: A cidade e centrais nucleares estavam expostas a evento geológico de alta previsibilidade. O acidente nuclear parece ter sido espoletado pelo tsunami, em fragoroso erro geológico de localização, mas atinge o coração desse modal energético como se apenas ele contivesse erro inerente, e os outros não; ele roubou a cena, impedindo qualquer movimento mundial mais visível no sentido de cobrar dos planejadores japoneses mais atenção, na localização das cidades, com ocorrências geológicas que tão bem conhecem.

Estado e governo, que o vai mudando supostamente segundo a vontade do povo, precisam compreender que o efeito de leis de ordenamento territorial que dispensam e afastam a ciência é muito mais desastroso do que  erros individuais, que terão sempre a presença de acertos para comparação de resultados e evolução da civilização. Se me pedissem minuta de código ambiental, trabalharia essencialmente na fixação de taxas de exploração máximas por compartimento territorial homogêneo, deixando aos técnicos para esse fim formados a aplicação do conhecimento na fixação de onde colocar a atividade exploratória nas propriedades. Palavras de ordem de governos sobre água e outros temas ambientais completamente incorretas do ponto de vista científico devem ser vistas como pura ignorância governamental ou como imperdoável desvio de comportamento ético?     



Belo Horizonte, 16 de julho de 2011

Edézio Teixeira de Carvalho

Eng. Geólogo.

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