1 de agosto de 2011

O segredo do Vaso Fechado

O segredo do Vaso Fechado
Geocentelha 334

Sou fascinado pela gestão, ciência de sutilezas lógicas. A busca do melhor arranjo do trinômio necessidade-possibilidades-vontade confere-lhe fascínio, que a faz mais arte que ciência. O agrupamento de pessoas, criando a Cidade, é fruto da reflexão em torno do trinômio. Gosto da Cidade como tema, mas o princípio mais fecundo da gestão aplica-se ao planeta inteiro com maior clareza. Embora a rigor não, do ponto de vista físico, nosso planeta pode ser comparado a um vaso fechado onde se encontra toda a sustentabilidade material ou geológica. Isto coloca-nos diante de opções de gestão ante essa sustentabilidade. Se conhecemos  os compartimentos em que ela se encontra, podemos estabelecer regras de gestão, e o fizemos sobre terras como leis de ordenamento territorial conformadas à natureza das nações, de seu desenvolvimento e regimes. Elas deveriam ser capazes de estimular a busca do conhecimento e de impulsionar a reflexão em torno dele (possibilidades), de modo a bem regar uma vontade (vontade) para atender a necessidades reais da humanidade (necessidade).

Um punhado de técnicos trabalhando por mais de 30 anos descobriu o petróleo do pré-sal (nunca tantos deveram tanto a tão poucos, diria Churchill). Geologicamente esse petróleo foi formado pelos materiais orgânicos levados ao mar pelos rios entre o São Francisco e pelo menos o Itajaí, e foi armazenado nas estruturas geológicas formadas também pelo sedimento por eles levado e assentado sobre o estéril assoalho basáltico). Não queiram estados produtores, por circunstâncias geográficas, ficar com o bolo sozinhos. Se existe o famoso tiro no pé, é este o caso.

Ao vaso: Não queiramos excluir da urbanização topos de morros, onde amplos os melhores lugares para urbanizar, seguros, enxutos, alegres. Toda a lógica os recomenda para tal função, especialmente a do vaso fechado, porque se não colocamos a população nesses pontos seguros e sadios, colocá-la-emos nas encostas e fundos de vales inseguros (Teresópolis que o diga), encharcados, úmidos, insalubres, e entretanto indicados para outras funções. A humanidade que não experimenta não adquire experiência. Tem sido assim o Brasil e une a essa falta de experiência teimosia e arrogância. Se o leitor resolver dar agora uma olhada pelo Google Earth sobre a Europa, verá duas coisas interessantes: belíssimas cidades em topos de serras, e outras que bem exemplificam o corolário principal do vaso fechado (não precisamos ter tudo em todos os lugares), como inúmeras ruas de Viena, por exemplo, sem árvores, porque nelas a calçada é da bicicleta e do pedestre: O lugar das árvores, mais numerosas que as nossas, sadias, não morrendo de velhas, é nas ruas largas, praças, parques e vazados dos edifícios. Tenho minhas diferenças com a velha Europa, mas respeito sua experiência de 30 séculos construindo cidades. Que queremos se não experimentamos, nem imitamos o que deu certo?



Belo Horizonte, 16 de julho de 2011

Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo.


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