O segredo do Vaso Fechado
Geocentelha 334
Sou fascinado pela gestão, ciência de sutilezas lógicas. A
busca do melhor arranjo do trinômio necessidade-possibilidades-vontade
confere-lhe fascínio, que a faz mais arte que ciência. O agrupamento de
pessoas, criando a Cidade, é fruto da reflexão em torno do trinômio. Gosto da
Cidade como tema, mas o princípio mais fecundo da gestão aplica-se ao planeta
inteiro com maior clareza. Embora a rigor não, do ponto de vista físico, nosso
planeta pode ser comparado a um vaso fechado onde se encontra toda a
sustentabilidade material ou geológica. Isto coloca-nos diante de opções de
gestão ante essa sustentabilidade. Se conhecemos os compartimentos
em que ela se encontra, podemos estabelecer regras de gestão, e o fizemos sobre
terras como leis de ordenamento territorial conformadas à natureza das nações,
de seu desenvolvimento e regimes. Elas deveriam ser capazes de estimular a
busca do conhecimento e de impulsionar a reflexão em torno dele
(possibilidades), de modo a bem regar uma vontade (vontade) para atender a
necessidades reais da humanidade (necessidade).
Um punhado de técnicos trabalhando por mais de 30 anos
descobriu o petróleo do pré-sal (nunca tantos deveram tanto a tão poucos, diria
Churchill). Geologicamente esse petróleo foi formado pelos materiais orgânicos
levados ao mar pelos rios entre o São Francisco e pelo menos o Itajaí, e foi
armazenado nas estruturas geológicas formadas também pelo sedimento por eles
levado e assentado sobre o estéril assoalho basáltico). Não queiram estados
produtores, por circunstâncias geográficas, ficar com o bolo sozinhos. Se
existe o famoso tiro no pé, é este o caso.
Ao vaso: Não queiramos excluir da urbanização topos de
morros, onde amplos os melhores lugares para urbanizar, seguros, enxutos,
alegres. Toda a lógica os recomenda para tal função, especialmente a do vaso
fechado, porque se não colocamos a população nesses pontos seguros e sadios,
colocá-la-emos nas encostas e fundos de vales inseguros (Teresópolis que o
diga), encharcados, úmidos, insalubres, e entretanto indicados para outras
funções. A humanidade que não experimenta não adquire experiência. Tem sido
assim o Brasil e une a essa falta de experiência teimosia e arrogância. Se o
leitor resolver dar agora uma olhada pelo Google Earth sobre a Europa, verá
duas coisas interessantes: belíssimas cidades em topos de serras, e outras que
bem exemplificam o corolário principal do vaso fechado (não precisamos ter tudo
em todos os lugares), como inúmeras ruas de Viena, por exemplo, sem árvores,
porque nelas a calçada é da bicicleta e do pedestre: O lugar das árvores, mais
numerosas que as nossas, sadias, não morrendo de velhas, é nas ruas largas,
praças, parques e vazados dos edifícios. Tenho minhas diferenças com a velha
Europa, mas respeito sua experiência de 30 séculos construindo cidades. Que
queremos se não experimentamos, nem imitamos o que deu certo?
Belo Horizonte, 16 de julho de 2011
Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo.
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