22 de janeiro de 2014

Combate a inundações

Combate a inundações [1]


Nem toda inundação é indesejável. As do Nilo fizeram riqueza e glória do antigo Egito. Às catastróficas, com grandes perdas materiais e humanas, impõe-se combate estrutural. Elas são o saldo das águas precipitadas em relação aos meios de descarga – evaporação, capacidade de absorção do terreno e de escoamento disponível nos escoadouros da área atingida. Não nos esqueçamos de que as grandezas acima têm um lado natural – as precipitações (1) – com limites variáveis no tempo; as condições atuais do terreno (2), e dos seus escoadouros (3), dentre os quais rios, represas (nunca totalmente disponíveis), reservatórios de espera, vulgarmente chamados piscinões, e reservatórios particulares ou caixas de captação.

Quando o fator natural 1 – precipitação – se mantém “comportado” durante muito tempo, as pessoas  arriscam mais, aproximando casas novas e benfeitorias de margens inundáveis. Também o fazem quando  barragens (3) são feitas para conter águas fluviais, onde elas podem ser duplamente surpreendidas, quando o volume de armazenamento seja insuficiente, ou o reservatório tenha sido temerariamente mantido  cheio antes das chuvas.

Em cidade que cresça sem controle, escoadouros canalizados (3) crescem como galhos de árvore, passando os eixos maiores de 10 km, para 50 ou mais. Torna-se aí praticamente impossível conter inundações ampliando o diâmetro do tronco (Arrudas, Tietê).

Além dos métodos convencionais de combate às inundações, em grande parte esgotados nas principais bacias, esse combate deve assumir ares de guerra, no campo geológico (2), com estratégias e táticas. Se quisermos vitória, esqueçamos a lei dos homens e demos vez às da natureza. Considerando campos típicos, a inundação é multifatorial (1 – climatologia, meteorologia; 2 – geologia; 3 – hidrologia). O combate tem de envolver os três campos em compartilhamento funcional, que nunca foi feito de modo sistemático. No campo 2 a presença geológica, que deveria ser dominante, é incipiente. Afastado o empecilho da lei, que nos trata   como se fôssemos burros, cito quatro possíveis contribuições: a) Reabilitação geológica de áreas degradadas, por exemplo colocando inertes no lugar certo, como fundos de voçorocas  ou vales de cabeceiras, tenham ou não nascentes, de pequena vazão; b) Imobilização de massas geológicas por meio de sistemas transversais aos fluxos, a exemplo das sabodams japonesas, substituindo a longitudinalidade especializada em jogar água fora pela transversalidade que a conserva, sem inundar; c) reconectar as águas meteóricas ao subsolo das cidades, hoje sedento; d) introduzir a reflexão científica, inexistente nas leis de ordenamento territorial. Esgotado o recurso, impõe-se a remoção. Exemplos de êxito há. É ver. Falo pensando nos manifestantes de junho, e em parlamentares e executivos não preocupados com estéticas capilares, que podem aproveitar o que disseram e o que ora digo.

       


Belo Horizonte, 01 de janeiro de 2014
                                                                    
Edézio Teixeira de Carvalho
Eng.o Geólogo 




[1] O Tempo; Opinião; 22/01/2014; p.19


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