6 de março de 2017

Que fazer pelo São Francisco V


GC 424 QUE FAZER PELO SÃO FRANCISCO V

   Segue sumário do trecho que vai da ponte do artigo anterior à foz do Velhas. A imagem do dia é mapa de risco geológico, formado por agrupamentos estratigráficos consagrados na literatura geológica. Apresenta-se legenda expandida para as áreas do mapa, excluídos os Complexos Bação e Belo Horizonte do Agrupamento 1, e o Agrupamento 2. Em ordem de idade os que restam são:
   Agrupamento 1(rosa claro): Complexo Gouveia, exposto como janela erosiva como Embasamento do SG Espinhaço. Feições semelhantes às do Complexo de Bação e Belo Horizonte (voçorocas) são os principais processos de perda de solo.
  Agrupamento 3(amarelo): Supergrupo Espinhaço. Quartzitos e filitos, incluindo intrusivas básicas, responsáveis pelas melhores manchas de solo intercaladas às faixas áridas dos quartzitos. Erosão linear, assoreamento, inundações. O Espinhaço é bom coletor de águas pluviais nos topos de chapadas.
  Agrupamento 4(roxo): Supergrupo São Francisco – Grupo Macaúbas: Metapelito e metarritmito. Metapelitos, pouco permeáveis, cedem aos vales grandes caudais nas chuvas fortes. Neles é relevante o papel das formações de cobertura e da vegetação na absorção das águas pluviais, conferindo ao sistema rugosidade capaz de auxiliar no controle do escoamento, protegendo o solo contra a erosão. Por outro lado, o Velhas e afluentes enfrentam o risco de posição. Na foz o nível do Velhas depende do São Francisco e de descargas de Três Marias.

 

      Grupo Bambuí: Rochas solúveis (calcários, puros ou intercalados com metapelitos, da Formação Sete Lagoas, principalmente) e impermeáveis (metapelitos da Formação Serra de Santa Helena). Nos calcários são comuns os colapsos, abatimentos, recalques, com feições consequentes típicas como funis (sink holes), dolinas, janelões em grandes escarpas, grutas e similares. A fenomenologia cárstica, condicionante do controle ambiental, é bem conhecida dos geólogos e geomorfólogos. Os metapelitos, recobrindo as rochas solúveis, podem ser espessos o suficiente para ocultar grandes cavidades cársticas, e para isolar as águas pluviais de um acesso mais franco mas eventualmente sendo atravessados em fraturas, ou envolvidos em colapsos de grande envergadura. Os comportamentos em presença da água, são, naturalmente, muito distintos.
       Agrupamento 5(ciano): Distingue-se por ser constituído por formações de cobertura. As mais antigas, cretácicas, Formações Areado e Urucuia, areníticas, assentadas sobre a formação Três Marias, a maior exposição das quais no tabuleiro entre o São Francisco e o Velhas. Coberturas cenozoicas, capeiam o Agrupamento 4. Nos arenitos Areado, Urucuia, em parte no Três Marias, a infiltração é alta, dada a boa permeabilidade e baixa declividade. Nos pontos em declive, bacias de captação de águas pluviais foram implantadas próximo às descargas de drenagem. O resultado é satisfatório e poderia ser estendido às vias rurais onde a declividade do terreno o permita.
       A “vantagem”, se assim se pode dizer, de quem pretenda ajudar o São Francisco na área, é que a degradação do solo em face das diversas formas de solicitação, como atividade agropecuária, em especial a implantação do pasto e seu pisoteio, a lavra artesanal de minerais especiais e dos materiais de construção, e, especialmente, a construção viária senso lato são como “assinaturas” geológicas de fácil reconhecimento e avaliação.
    A humanidade, brasileira ou europeia, não sabe ler geologicamente, mas não teria grande dificuldade de Fazê-lo e se surpreenderia se se dispusesse de fato a aprender. O benefício, em termos de prolongar a convivência com a água, melhorar a navegabilidade do rio e impedir a perda de solo, é de fazer inveja ao dono do petrodólar. O leitor que quiser ajudar de fato o São Francisco deve começar por um zoneamento lógico do tipo exposto, e encontrará outros melhores do que o apresentado. 
 


Belo Horizonte, 06 de janeiro de 2017
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Edézio Teixeira de Carvalho 
Engenheiro Geólogo

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