GC 423 QUE FAZER PELO SÃO FRANCISCO IV
Este artigo trata do trecho do rio das Velhas que vai da ponte da estrada Lagoa Santa – Baldim até a foz no São Francisco. Chama a atenção cartograficamente do observador o curso caprichosamente meandrante do rio até a foz do Pardo Grande a sul da serra do Cabral. A sistematização do trecho a norte da ponte fica para a GC 424. A imagem do dia, captada pela câmera deste autor, mostra a ponte que esteve submersa no pico da cheia de 1997, para cuja formação terá contribuído toda a cabeceira: Nas chuvas de 1997 aconteceu em Ouro Preto uma tragédia, na qual 11 pessoas de uma família morreram num deslizamento, restando viva apenas uma criança. O local é caracterizado na Carta Geotécnica de Ouro Preto, deste autor, com o Grau de Risco III, o mais elevado e, portanto, não recomendado para habitação antes que estudos e intervenções complementares de estabilização do terreno e critérios rigorosos para edificação futura sejam fixados. Situado no Morro da Queimada, perto da nascente do Velhas, embora na bacia do rio Doce, e a cerca de 150 km da ponte, terá enfrentado as mesmas chuvas de 1997 que levaram a contribuição mais remota para a vazão que chegou à ponte. Outra coincidência aconteceu na ocasião: Chegava de viagem e quando o avião fazia procedimentos de aterrissagem, vi em vários pontos de Belo Horizonte alagamentos extensos, com um tom amarelo barrento. Note o leitor: Se a drenagem em Belo Horizonte fosse mais eficiente, que teria sido da ponte? Se as bocas de lobo na Savassi não funcionam, é melhor ou pior para o Arrudas? Questão mal resolvida, caro leitor.
Cheia do rio das velhas na ponte da estrada Lagoa Santa – Baldim 1997
Embora em bacia extensa a concentração de caudais dos grandes núcleos urbanos seja diluída na distância, é natural a influência concentrada nas áreas próximas a jusante. E aqui vem questão contraditória a ser considerada pelos responsáveis por projetos de pontes e estruturas semelhantes: Usam-se parâmetros médios para toda a bacia e aí pontos tais podem ser atingidos nos eventos excepcionais, ou adotam-se parâmetros especialmente elevados e fica-se com a dificuldade de justificar fatores de segurança muito altos (algo como 2 m de altura a mais no tabuleiro daquela ponte)? Há projetos de drenagem com vazões tecnicamente previstas, e nas cidades seria de olhar o que está a jusante, e basear o projeto urbano numa vazão admissível.
Litografia de Rugendas, séc. XIX, repro-duzida no jornal do Projeto Manuelzão (Ano 01/01, nov/dez/97) como prova de navegabilidade do Velhas de outrora.
Para fechar a questão da ponte, não só ela sofreu com a chuva, mas também o São Francisco. Fecho o ponto como o poeta disse que deve ser completado o soneto: na cauda, último verso, como a picada do escorpião. Invertendo a ordem o sueco disse já no título: “Urbanization: a hydrological headache”. LINDH, Gunnar (1972). Ambio, Vol.1, nº 6. dez/72; p.185-201. É de fato a urbanização uma dor de cabeça hidrológica, disse o Gunnar, e como sabem tanto o Velhas quanto o São Francisco, com uma só capital no seu caminho, ao contrário do Danúbio, que imita o rosário com cinco grandes capitais nele dependuradas.
Em 2001 elaborei para a FEAM mapa de risco Geológico da Bacia do Velhas, tendo como colaboradores o Geólogo Gilvan Brunetti Aguiar e o engenheiro Bartolomeu Mitre Vasconcelos de Assis Chaves. Do mapa, que inclui toda a bacia, serão referidas as formações a norte da ponte. A sequência é uniforme, mas só no leito, com afluentes que correm sobre diversa constituição geológica, que expõem o rio a variada sequência de vicissitudes. Uma delas? Foi navegável de Sabará para o norte, qualidade a ser recuperada por desassoreamento. Pelas excessivas curvas o traçado deve ser encurtado, não por corta-rios, mas por ligações terrestres retificadoras do curso transpostas por barcos anfíbios, solução usada por ônibus turísticos do Rio de Janeiro.
Belo Horizonte, 21 de janeiro de 2017
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Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo
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