GC
422 QUE FAZER PELO SÃO FRANCISCO III
A
passagem pela Grande BH começa em Rio de Pedras. O Velhas passa a contar com
reforço do rio Itabirito, deixando o miolo gnáissico do Quadrilátero para entrar
nas formações xistosas, ferríferas, quartzíticas da área, banhando Rio Acima, Raposos,
Sabará, Santa Luzia. Nova Lima, Belo Horizonte, Vespasiano, Lagoa Santa, Contagem
e Ribeirão das Neves, não marginais mas todas na bacia por afluentes locais.
Atravessa as formações do Quadrilátero em Sabará, caindo no Complexo Belo
Horizonte, semelhante ao de Bação (com voçorocas parecidas), e entra no Grupo
Bambuí em Vespasiano, na APA Carste de Lagoa Santa, de belas paisagens, na qual
se apoia, não sem contribuição geológica minha, o aeroporto de Confins. Na
Imagem do dia urbanização de topos em Nova Lima, tendo a leste RPPN. Na ponta
da seta o aterro dique do Vale dos Cristais (apresentado no 15o CBGE
em Bento Gonçalves-RS).
Urbanização
de topos do Vale dos Cristais em Nova Lima
Por
que passagem heroica? Começa com a tomada d’água de Bela Fama, seguida de
estação de tratamento, de recalque e adutora ao longo de parte da crista da
serra do Curral, onde o túnel do Taquaril chamou a atenção nos anos LX do século passado, exigindo passagem
provisória, enquanto não se completava o complicado túnel, por um by pass através de poço de grande
diâmetro escavado por sonda da Petrobrás especialmente mobilizada. (Nos anos
LXX um torrista em Aracaju disse-me ter
sentido muito frio com a operação noturna da sonda no inverno a quase 1500 m de
altitude nas manobras que lhe cabia fazer, da ferramenta de perfuração).
Completada a operação, a transposição deu a Belo Horizonte a água da adutora do
rio das Velhas, desativando mais de centena de poços tubulares que então dessedentavam
precariamente a cidade. Repare o leitor: A remoção dos poços ampliou
inundações, independentemente de isso ter sido verificado! Por tal razão
técnica as cidades devem, na medida do possível, ter parte significativa do
suprimento de água por poços tubulares, o que beneficiaria triplamente as
cidades ─ reduzindo inundações, dando razões fortes por controle ambiental do
solo urbano, e reduzindo a demanda por água do meio rural envolvente.
Entre
Rio Acima e Raposos passa ao lado de depósito antigo de rejeito da mina de
Morro Velho (que chegou a ser a mina subterrânea mais profunda do mundo), e
perto de grandes depósitos de rejeitos e estéril da mineração de ferro, de
cavas ativas e abandonadas, além dos resíduos inertes da urbanização. Não há passagem
heroica como em rios europeus, porque a serra do Curral, mais de 300 metros
acima do rio em Nova Lima, concede a ele passagem calma em Sabará. A RMBH
aprende a conviver com a mineração não sem ver oposição às vezes intensa de
movimentos ambientalistas. Também sofrem empreendimentos urbanos acusados de
especulação imobiliária pela verticalização, que, afinal, tem a seu favor
redução na extensão das vias públicas. Esses movimentos, por outro lado, têm no
Vale dos Cristais, avanços importantes como o aterro dique, que permite
descargas pluviais do urbanizado menores que antes da urbanização (!), e uma RPPN
que leva a ocupação efetiva a menos de 8% do terreno. O conjunto urbano-mineral
na RMBH é provavelmente dos mais intensos do Brasil, contando com importantes
núcleos do Ciclo do Ouro, especialmente Sabará.
Afinal,
que fazer pelo São Francisco no trecho? Cuidado maior na reabilitação de cavas
de mineração desativadas, com seu uso para depósitos de resíduos inertes, aproveitando
a segurança geotécnica em comparação com aterros de resíduos mal dispostos, resolvendo
dois problemas numa intervenção só. Importante ajuda local ao rio pode vir do
uso dos telhados do maior núcleo urbanizado da bacia do São Francisco, como
importante recurso hídrico para a
captação das águas pluviais como proposto à PBH por Silva et Al. (1995),
parcialmente recebido em critérios urbanísticos, modalidade de solução bem
instruída em publicação recente dos autores Fendrich e Gevaerd em 2014,
Curitiba – PR.
Na
GC 423 o trecho Lagoa Santa até a foz no São Francisco.
Belo Horizonte, 20 de janeiro de
2017
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Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo
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