14 de fevereiro de 2017

Que fazer pelo São Francisco III



GC 422 QUE FAZER PELO SÃO FRANCISCO III

A passagem pela Grande BH começa em Rio de Pedras. O Velhas passa a contar com reforço do rio Itabirito, deixando o miolo gnáissico do Quadrilátero para entrar nas formações xistosas, ferríferas, quartzíticas da área, banhando Rio Acima, Raposos, Sabará, Santa Luzia. Nova Lima, Belo Horizonte, Vespasiano, Lagoa Santa, Contagem e Ribeirão das Neves, não marginais mas todas na bacia por afluentes locais. Atravessa as formações do Quadrilátero em Sabará, caindo no Complexo Belo Horizonte, semelhante ao de Bação (com voçorocas parecidas), e entra no Grupo Bambuí em Vespasiano, na APA Carste de Lagoa Santa, de belas paisagens, na qual se apoia, não sem contribuição geológica minha, o aeroporto de Confins. Na Imagem do dia urbanização de topos em Nova Lima, tendo a leste RPPN. Na ponta da seta o aterro dique do Vale dos Cristais (apresentado no 15o CBGE em Bento Gonçalves-RS).
Urbanização de topos do Vale dos Cristais em Nova Lima

Por que passagem heroica? Começa com a tomada d’água de Bela Fama, seguida de estação de tratamento, de recalque e adutora ao longo de parte da crista da serra do Curral, onde o túnel do Taquaril chamou a atenção  nos anos LX do século passado, exigindo passagem provisória, enquanto não se completava o complicado túnel, por um by pass através de poço de grande diâmetro escavado por sonda da Petrobrás especialmente mobilizada. (Nos anos LXX  um torrista em Aracaju disse-me ter sentido muito frio com a operação noturna da sonda no inverno a quase 1500 m de altitude nas manobras que lhe cabia fazer, da ferramenta de perfuração). Completada a operação, a transposição deu a Belo Horizonte a água da adutora do rio das Velhas, desativando mais de centena de poços tubulares que então dessedentavam precariamente a cidade. Repare o leitor: A remoção dos poços ampliou inundações, independentemente de isso ter sido verificado! Por tal razão técnica as cidades devem, na medida do possível, ter parte significativa do suprimento de água por poços tubulares, o que beneficiaria triplamente as cidades ─ reduzindo inundações, dando razões fortes por controle ambiental do solo urbano, e reduzindo a demanda por água do meio rural envolvente.
Entre Rio Acima e Raposos passa ao lado de depósito antigo de rejeito da mina de Morro Velho (que chegou a ser a mina subterrânea mais profunda do mundo), e perto de grandes depósitos de rejeitos e estéril da mineração de ferro, de cavas ativas e abandonadas, além dos resíduos inertes da urbanização. Não há passagem heroica como em rios europeus, porque a serra do Curral, mais de 300 metros acima do rio em Nova Lima, concede a ele passagem calma em Sabará. A RMBH aprende a conviver com a mineração não sem ver oposição às vezes intensa de movimentos ambientalistas. Também sofrem empreendimentos urbanos acusados de especulação imobiliária pela verticalização, que, afinal, tem a seu favor redução na extensão das vias públicas. Esses movimentos, por outro lado, têm no Vale dos Cristais, avanços importantes como o aterro dique, que permite descargas pluviais do urbanizado menores que antes da urbanização (!), e uma RPPN que leva a ocupação efetiva a menos de 8% do terreno. O conjunto urbano-mineral na RMBH é provavelmente dos mais intensos do Brasil, contando com importantes núcleos do Ciclo do Ouro, especialmente Sabará.
Afinal, que fazer pelo São Francisco no trecho? Cuidado maior na reabilitação de cavas de mineração desativadas, com seu uso para depósitos de resíduos inertes, aproveitando a segurança geotécnica em comparação com aterros de resíduos mal dispostos, resolvendo dois problemas numa intervenção só. Importante ajuda local ao rio pode vir do uso dos telhados do maior núcleo urbanizado da bacia do São Francisco, como importante recurso hídrico para a captação das águas pluviais como proposto à PBH por Silva et Al. (1995), parcialmente recebido em critérios urbanísticos, modalidade de solução bem instruída em publicação recente dos autores Fendrich e Gevaerd em 2014, Curitiba – PR.
Na GC 423 o trecho Lagoa Santa até a foz no São Francisco.

Belo Horizonte, 20 de janeiro de 2017

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Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo


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