GC
420 QUE FAZER PELO SÃO FRANCISCO I
Continuando
a Geocentelha 419, a 420 fala do São Francisco, a partir da cabeceira modesta
do rio Maracujá. A Imagem do dia mostra o Maracujá chegando ao reservatório do
Rio de Pedras. A norte da barragem chega o rio
das Velhas, limpo. O sedimento que chega do sul vem pelo Maracujá e é
descarregado pelo vertedouro e pela tubulação que o conduz à turbina. Dois
impactos: Rio abaixo o assoreamento pelo sedimento que transpõe o reservatório;
nas turbinas o efeito abrasivo da areia. Há solução? Eu diria mais de uma, mas vou pela
que descrevo agora e que completarei no próximo artigo.
Do norte vem o Velhas limpinho e do sul chega o Maracujá
barrento, emissário das voçorocas.
A
solução permanente começa por conter a erosão progressiva das voçorocas, começando
pelo bloqueio do solo mobilizado, que venho testando desde 1989. O primeiro
teste foi o da voçoroca do
estacionamento do ICB/UFMG, hoje ocupado
por um prédio. Para que se tenha ideia do retorno econômico da reabilitação, o engenheiro que
comandou a execução comparou o custo ao custo anual de limpeza do
estacionamento, feita mais de uma vez por ano.
Visitei-as a área há dias, e encontrei recuperação extraordinária no
interior da cavidade. O segundo teste foi na voçoroca do bairro Piraquara, em
Contagem, caso de intervenção mais completa, situada do lado sul da rua Frei
Tito Frankort. A solução fez-se com base na introdução na cavidade de resíduos
de construção civil, usualmente recolhidos por caçambas, dispostos em taludes. Hoje
a área tem uma sequência de esplanadas, usadas como depósitos de veículos
apreendidos pelo órgão de trânsito local. De particular interesse ambiental é o
fato de ter sido substituída horrível nascente tecnogênica de pequena vazão
contaminada por lixo, por um jorro d’água encorpado, de bom aspecto, que se vê
ao fundo da feição formada pelas esplanadas. A solução permitiu a dispensa da
contenção frontal. A área é fácil de localizar no Google Earth à margem da rua
acima.
Há
áreas reabilitadas em Belo Horizonte, Contagem, Itabirito, Lafaiete. O
princípio geral do processo de reabilitação está exposto em folheto intitulado O MÉTODO GEOLÓGICO, que trata de como
se pode reabilitar voçoroca ativa. As intervenções principais são: a) Bloquear
a fuga do material erodido, intervenção essencial nas voçorocas ativas, sem
a qual o processo não se extingue, que se pode fazer com dique de gabião ou
equivalente implantado no gargalo de saída da voçoroca, que deixa passar a
água, mas retém o solo; se pararmos por aí, teremos caso de assoreamento
induzido na cavidade a montante; b) preencher a cavidade na forma
desejada com entulho de caçamba, escombros de demolição, fundos de pedreiras,
ou bota-fora geológico, de taludes viários, por exemplo; c) promover o
acabamento conforme o uso futuro desejado.
Agora
o principal: Reabilitar uma única voçoroca é a melhor intervenção sobre ela,
mas em verdadeiros campos de voçorocas como os de Cachoeira do Campo, é
perfeitamente possível reabilitar a área toda, preparando drenos de brita,
cascalho natural, fundos de pedreira ao longo dos talvegues, conduzi-los até o
ponto de descarga, onde se fará um dique de gabião único para todo o campo de
voçorocas e fazer a conformação de uma ou mais esplanadas para urbanização. No
caso de um campo desses, a área pode ser transformada em esplanada,
posicionada, por exemplo, a cerca de 2/3 do desnível médio entre o topo e o
ponto mais baixo do talvegue, neste caso, podendo o nivelamento ser feito por
terraplenagem local, entretanto não devendo ser esquecido que a intervenção
sempre oferece a possibilidade de resolver o problema de resíduos inertes sempre
existentes. Quanto à qualificação geotécnica da esplanada assim formada, fica
na dependência do material utilizado e da forma de disposição, nada tendo,
entretanto, de especialmente desafiante.
Belo Horizonte, 02 de janeiro de
2017
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Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo
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