8 de fevereiro de 2017

O que fazer pelo São Francisco II


GC 421 QUE FAZER PELO SÃO FRANCISCO II

Continuando a hipotética reabilitação do São Francisco, o que resultou do controle das voçorocas de Cachoeira do Campo, poderia ter sido também aplicado a outras cabeceiras a exemplo da vizinha bacia do rio Itabirito e especialmente sub bacia do córrego Bação. No presente caso, resultou um pouco aliviado o curso do Maracujá, que, com a redução do fluxo de solo erodido, pode ter-se recuperado um pouco do assoreamento do leito, mas o São Francisco ainda não se terá beneficiado bastante porque o reservatório de Rio de Pedras ainda está saturado, transmitindo para jusante os dois impactos comentados na Geocentelha anterior. Como reduzi-los é o desafio da presente fase.
Começaria por tratar o reservatório como jazida de areia, que pode conter aleitamento variável do ponto de vista textural, com leitos ora mais arenosos, ora mais argilosos em consequência da energia associada a cada fase do regime fluvial do Maracujá. Essa variação textural poderia recomendar variações do processo de lavra da jazida. Pode ser, mas isto seria dispensável em face de um processo de lavra que o leitor não esteja considerando. A imagem do dia, com dois tipos de sifões de grande capacidade, pode ajudar.
O reservatório pode ser desassoreado por sifonamento, em princípio facilitado pela relação de alturas entre a parte de montante e a de jusante da barragem. A descarga do material sifonado pode passar por peneiras para classificação granulométrica. A fração arenosa pode atender a mercados entre Mariana e Belo Horizonte, esta a escassos 50 km pela rodovia dos Inconfidentes, que passa quase ao lado; a fração argilosa poderia ser utilizada localmente para a fabricação de tijolos sem queima evitando o impacto ambiental de material fino em suspensão, que pode ser posto a depositar-se em bacia de tamanho adequado preparada à margem.
Sifões são dispositivos aplicá-veis ao desassoreamento de reservatórios.

São duas as vantagens ambientais da intervenção, além do benefício econômico direto: O tratamento do reservatório como jazida permitirá lavrar o material de construção nele hoje contido, recuperando a  capacidade de projeto (aliás obrigação do proprietário, que deveria ser cobrada pelo órgão ambiental e por outros órgãos de gestão), e ainda o que continuar descendo o já agora rio das Velhas, protegendo contra inundações as faixas ribeirinhas a jusante até pelo menos Sabará ou, quem sabe, Santa Luzia; ainda de significado ambiental relevante será a concorrência com as lavras de areia de jazidas convencionais.
Dir-se-á que isto ocorrerá apenas na linha que tem por eixo o Maracujá, mas não será assim, porque a tendência será o reconhecimento gradual das possibilidades econômico-ambientais associadas, a exemplo da bacia do rio Itabirito já citada. Daí à vizinha bacia do Paraopeba, também afluente do São Francisco e das bacias do Doce e Grande, também com campos de voçorocas, é um pulo. As visibilidades ostensivas no Google Earth escasseiam nos campos de voçorocas inativas, mas ainda aparecendo voçorocas ativas isoladas, como é o caso de Naque no Santo Antônio (junto à foz no Doce). Se o leitor não é usuário técnico comum das imagens,  começará por reconhecer formas de voçorocas ativas e gradualmente passará às de atividade extinta, que podem ter tratamento à parte em vastos programas de reabilitação territorial. Aqui o olhar pessoal do leigo pode descobrir-lhe importantes valores territoriais, perdidos, mas talvez reabilitáveis, e, inclusive, esse olhar inicial poderá provocar-lhe também a vergonha que me assalta ao descobrir em áreas pioneiras partes novas do território pátrio tão profundamente abandonadas.
No próximo artigo a passagem heroica do Velhas pela Grande BH.



Belo Horizonte, 03 de janeiro de 2017

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Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo


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