GC
421 QUE FAZER PELO SÃO FRANCISCO II
Continuando
a hipotética reabilitação do São Francisco, o que resultou do controle das
voçorocas de Cachoeira do Campo, poderia ter sido também aplicado a outras
cabeceiras a exemplo da vizinha bacia do rio Itabirito e especialmente sub bacia
do córrego Bação. No presente caso, resultou um pouco aliviado o curso do
Maracujá, que, com a redução do fluxo de solo erodido, pode ter-se recuperado
um pouco do assoreamento do leito, mas o São Francisco ainda não se terá
beneficiado bastante porque o reservatório de Rio de Pedras ainda está
saturado, transmitindo para jusante os dois impactos comentados na Geocentelha
anterior. Como reduzi-los é o desafio da presente fase.
Começaria
por tratar o reservatório como jazida de areia, que pode conter aleitamento
variável do ponto de vista textural, com leitos ora mais arenosos, ora mais
argilosos em consequência da energia associada a cada fase do regime fluvial do
Maracujá. Essa variação textural poderia recomendar variações do processo de
lavra da jazida. Pode ser, mas isto seria dispensável em face de um processo de
lavra que o leitor não esteja considerando. A imagem do dia, com dois tipos de
sifões de grande capacidade, pode ajudar.
O
reservatório pode ser desassoreado por sifonamento, em princípio facilitado
pela relação de alturas entre a parte de montante e a de jusante da barragem. A
descarga do material sifonado pode passar por peneiras para classificação
granulométrica. A fração arenosa pode atender a mercados entre Mariana e Belo
Horizonte, esta a escassos 50 km pela rodovia dos Inconfidentes, que passa
quase ao lado; a fração argilosa poderia ser utilizada localmente para a
fabricação de tijolos sem queima evitando o impacto ambiental de material fino
em suspensão, que pode ser posto a depositar-se em bacia de tamanho adequado
preparada à margem.
Sifões
são dispositivos aplicá-veis ao desassoreamento de reservatórios.
São
duas as vantagens ambientais da intervenção, além do benefício econômico
direto: O tratamento do reservatório como jazida permitirá lavrar o material de
construção nele hoje contido, recuperando a capacidade de projeto (aliás obrigação do
proprietário, que deveria ser cobrada pelo órgão ambiental e por outros órgãos
de gestão), e ainda o que continuar descendo o já agora rio das Velhas,
protegendo contra inundações as faixas ribeirinhas a jusante até pelo menos
Sabará ou, quem sabe, Santa Luzia; ainda de significado ambiental relevante
será a concorrência com as lavras de areia de jazidas convencionais.
Dir-se-á
que isto ocorrerá apenas na linha que tem por eixo o Maracujá, mas não será
assim, porque a tendência será o reconhecimento gradual das possibilidades
econômico-ambientais associadas, a exemplo da bacia do rio Itabirito já citada.
Daí à vizinha bacia do Paraopeba, também afluente do São Francisco e das bacias
do Doce e Grande, também com campos de voçorocas, é um pulo. As visibilidades
ostensivas no Google Earth escasseiam nos campos de voçorocas inativas, mas
ainda aparecendo voçorocas ativas isoladas, como é o caso de Naque no Santo
Antônio (junto à foz no Doce). Se o leitor não é usuário técnico comum das
imagens, começará por reconhecer formas
de voçorocas ativas e gradualmente passará às de atividade extinta, que podem
ter tratamento à parte em vastos programas de reabilitação territorial. Aqui o
olhar pessoal do leigo pode descobrir-lhe importantes valores territoriais,
perdidos, mas talvez reabilitáveis, e, inclusive, esse olhar inicial poderá
provocar-lhe também a vergonha que me assalta ao descobrir em áreas pioneiras
partes novas do território pátrio tão profundamente abandonadas.
No
próximo artigo a passagem heroica do Velhas pela Grande BH.
Belo Horizonte, 03 de janeiro de
2017
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Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo
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