7 de janeiro de 2011

Os filósofos morreram?


Os filósofos morreram? [1]
Geocentelha 321

Geólogo, busco enquadramento lógico na atuação profissional e referências fora da minha área porque a lógica é uma só em todos os domínios científicos — suas vestimentas é que mudam. Com alguma experiência acumulada, faço leituras críticas de temas recorrentes sobre a água. Repito 2 linhas de argumentos: A primeira diz que 70% da superfície da terra é água (oceanos, salgados). Descartando, além da água salgada, a das calotas polares e a subterrânea de difícil acesso, teria a humanidade acesso apenas a cerca de 0,001% da água planetária. Fica parecendo que o planeta foi mal projetado, com muita água inútil e pouca utilizável. Dois equívocos num só, primeiro porque a água oceânica nada tem de inútil, sendo a mais abundante reserva de água doce existente, contaminada por sal, que fica todo para trás na evaporação, a ponto de poder o paulistano beber hoje a água que evaporou ontem ao largo do litoral de Santos, e que, voltando ao mar (segundo equívoco) poderia tornar várias vezes ao ano à mesma função. A segunda afirmativa é a que associa a produtos a quantidade de água que sua produção consome. Na realidade a água atravessa o processo de produção do boi, da galinha e do repolho. Então, sejamos claros: o que é consumido é o processo de colocação da água à disposição de cada uso.

Então lembro-me do mito da caverna, alegoria imaginada por Platão em conseqüência da condenação à morte, por dizer a verdade, de seu mestre Sócrates: Lá, fora da caverna, à luz do dia, a realidade mostra que não existem monstros, pois em verdade o que assim parece são sombras dos próprios cavernícolas projetadas nas paredes da gruta pela fogueira acesa.

Então nem temos à disposição apenas 0,001% da água da terra, nem consumimos de fato uma gota d’água  na produção de qualquer coisa. Toda aquela gigantesca quantidade de água está à nossa disposição todo dia, e ela, na condição de residuária, de um modo ou outro, poderá voltar a uso útil em sua odisséia de volta ao mar, passando pela elaboração em série de vários produtos (reúso).

A insuficiência lógica daquelas afirmações está em não perceberem onde está o verdadeiro problema que de fato existe: a dependência total das águas pluviais da existência de quantidade de solo suficiente para abrigá-las numa estada idealmente prolongada sobre a terra. Essa quantidade de solos está em franca redução desde a revolução agrícola, por questão de lógica extremamente simples: Desmatando indiscriminadamente, e permitindo a erosão do solo, teremos sempre menor eficiência na infiltração da água no solo desmatado, e teremos sempre menos solo para receber a água, porque o ciclo da água que pede abrigo é anual, enquanto o tempo de reposição do solo perdido é milhares de vezes mais prolongado. Então a lógica nos diz que antes de faltar água, falta solo para recebê-la. Os filósofos citados estão vivíssimos e há um em cada ser humano que resolva pensar.
    


Belo Horizonte, 22/12/10

Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo.



[1] O Tempo; O.PINIÃO; 07/01/2011; P. 19


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