GC 431 O tempo que nos resta
Viajo em minutos para qualquer lugar,
e na época e hora que escolher. Vejo por onde já passaram meus olhos e meu
dedo, tão pouco realizador, mas aqui e ali presente. Falo de onde esse dedo não
passou. Para fins comparativos vejo arrozais plantados dentro d’água na China,
respeitável por 5000 anos de história, suficientes para aprender formas de
conviver com a terra, e mais a norte por ferrovia a 4000 metros de altitude em
solo permanentemente gelado (permafrost)
enquanto proibimos tudo a 1800 metros! Olho para nordeste e vejo sabodams japonesas armazenando o solo erodido
em assoreamento induzido para que este guarde a água sem deixar que ela
precocemente escape, obras desse povo que, com o território desgastado pela
pecuária extensiva, aderiu à pesca da beleia, assim recuperando o território a ponto de ter hoje
70% dele arborizado, num território do tamanho do Maranhão com nada menos que
130 milhões de habitantes! Olho para paisagens brasileiras, e
vejo grandes extensões territoriais que me enchem de tristeza e vergonha de
como tratamos nosso território. Viajando pelo que considero o mais importante
avanço técnico da comunicação do século XXI, e tendo razoável conhecimento da
geologia do Brasil e à mão mapas geológicos, comparo comportamentos ambientais
de brasileiros com os de outros. Não somos dos melhores, mas a culpa não é só nossa,
brasileiros comuns, mas de analfabetos geológicos dotados de furor legiferante,
entretanto desatentos com o sentido do que escrevem desde 1934. Com efeito,
aproximar o médico do paciente é norma boa da cultura brasileira, em defesa do
organismo humano. Já organismo quase tão complexo quanto o humano, o sistema
geológico vive à míngua dessa aproximação proibida por lei, tanto para corrigir
males evidentes como as voçorocas do Brasil, quanto para escolher lugar mais
produtivo que ela impede, mas permitindo o casco cortante a 100% de declividade,
e exatamente por isso ocupando com gado de baixa progênie mais de 20% de nosso
território!
Rios Paracatu (esquerda) e do Sono em 29 de julho de 2003 e 03 de setembro de 2009.
Não sabe o Brasil, muito menos seus
legisladores, que essa geologia dispensada e impedida deu ao Brasil vitória
extraordinária em pesquisa de petróleo no Iraque, executada por subsidiária da
Petrobrás, na descoberta do campo de Majnoon no Iraque depois de terem passado por
lá, de fracasso em fracasso, grandes empresas do primeiro mundo? Também não é
em geral sabido que em 1977 o Iraque impôs ao Brasil a nacionalização do
gigantesco campo, que mais tarde, como aí já é mais sabido, o Iraque entrou na
rota que hoje vive. O Brasil poderia ter realizado outros feitos na pesquisa
espacial, mas parece ter desistido depois do incêndio de Alcântara. (Russos
chegaram a dizer que o Brasil estava longe de ter pelo menos 200 especialistas
para participarem de acordo técnico bem equipado; preferem negociar com
estadunidenses emprestando seus foguetes).
Deito olhos sobre Cachoeira do Campo,
e dá-me pena e vergonha; olho para a sequência do Maracujá ao Velhas, e deste
ao São Francisco; deixando o Velhas pelo Paracatu, procuro a confluência do rio
do Sono com o Paracatu, e vejo aquele com imagens seguidas de assoreamento no
leito. Na bacia do São Francisco o trânsito de solo das erosões é evidente. Ainda
em Minas vejo o assoreamento sob a ponte de Furquim retido no ribeirão do Carmo
acumulado por barragem alteada há escassos 13 anos, de solo proveniente de Ouro
Preto, terra de geólogos descobridores de Majnoon, e de Mariana, terra de
mineração, ambas com periferias mal implantadas caracterizando bem o maior
desastre ambiental brasileiro, nossas cidades mal implantadas de extremo norte
a extremo sul. Mas não só em Minas. Vê-se o mesmo, por exemplo, no braço
esquerdo do Araguaia na altura da ilha do Bananal. (Não pensemos que areias
branquinhas estão ali paradas, pois umas substituem as outras sem que turistas
costumeiros percebam ano a ano). Também em São Paulo a 63 km a oeste de Marília
e a 6 a sul do rio do Peixe, vê-se na imagem de 2016, boçoroca ativa, ramificada e bem profunda, novinha, que lá não
estava em 2014!
As feições citadas mostram,
a quem tenha olhos de ver, que à vazão hídrica dos rios segue, atrasada, a
vazão sólida, de solos erodidos, definitivamente perdidos, ou (quem sabe ?)
recuperáveis por mineração do futuro, facilmente implantável, para serem levados
à indústria construtiva ou aos buracos de onde foram removidos, porque lá não
serão repostos pelo lentíssimo intemperismo químico que não dará jamais para
reproduzir o solo perdido, principal recurso ambiental evidentemente não
renovável. Com tanto solo e água jogados fora, quanto tempo teremos a mais de
solos férteis bem regáveis?
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Edézio
Teixeira de Cavalho
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