26 de julho de 2017

O tempo que nos resta




GC 431 O tempo que nos resta

Viajo em minutos para qualquer lugar, e na época e hora que escolher. Vejo por onde já passaram meus olhos e meu dedo, tão pouco realizador, mas aqui e ali presente. Falo de onde esse dedo não passou. Para fins comparativos vejo arrozais plantados dentro d’água na China, respeitável por 5000 anos de história, suficientes para aprender formas de conviver com a terra, e mais a norte por ferrovia a 4000 metros de altitude em solo permanentemente gelado (permafrost) enquanto proibimos tudo a 1800 metros! Olho para nordeste e vejo sabodams japonesas armazenando o solo erodido em assoreamento induzido para que este guarde a água sem deixar que ela precocemente escape, obras desse povo que, com o território desgastado pela pecuária extensiva, aderiu à pesca da beleia, assim  recuperando o território a ponto de ter hoje 70% dele arborizado, num território do tamanho do Maranhão com nada menos que 130 milhões de habitantes! Olho para paisagens brasileiras, e vejo grandes extensões territoriais que me enchem de tristeza e vergonha de como tratamos nosso território. Viajando pelo que considero o mais importante avanço técnico da comunicação do século XXI, e tendo razoável conhecimento da geologia do Brasil e à mão mapas geológicos, comparo comportamentos ambientais de brasileiros com os de outros. Não somos dos melhores, mas a culpa não é só nossa, brasileiros comuns, mas de analfabetos geológicos dotados de furor legiferante, entretanto desatentos com o sentido do que escrevem desde 1934. Com efeito, aproximar o médico do paciente é norma boa da cultura brasileira, em defesa do organismo humano. Já organismo quase tão complexo quanto o humano, o sistema geológico vive à míngua dessa aproximação proibida por lei, tanto para corrigir males evidentes como as voçorocas do Brasil, quanto para escolher lugar mais produtivo que ela impede, mas permitindo o casco cortante a 100% de declividade, e exatamente por isso ocupando com gado de baixa progênie mais de 20% de nosso território! 

 
Rios Paracatu (esquerda) e do Sono em 29 de julho de 2003 e 03 de setembro de 2009.
 
Não sabe o Brasil, muito menos seus legisladores, que essa geologia dispensada e impedida deu ao Brasil vitória extraordinária em pesquisa de petróleo no Iraque, executada por subsidiária da Petrobrás, na descoberta do campo de Majnoon no Iraque depois de terem passado por lá, de fracasso em fracasso, grandes empresas do primeiro mundo? Também não é em geral sabido que em 1977 o Iraque impôs ao Brasil a nacionalização do gigantesco campo, que mais tarde, como aí já é mais sabido, o Iraque entrou na rota que hoje vive. O Brasil poderia ter realizado outros feitos na pesquisa espacial, mas parece ter desistido depois do incêndio de Alcântara. (Russos chegaram a dizer que o Brasil estava longe de ter pelo menos 200 especialistas para participarem de acordo técnico bem equipado; preferem negociar com estadunidenses emprestando seus foguetes).
Deito olhos sobre Cachoeira do Campo, e dá-me pena e vergonha; olho para a sequência do Maracujá ao Velhas, e deste ao São Francisco; deixando o Velhas pelo Paracatu, procuro a confluência do rio do Sono com o Paracatu, e vejo aquele com imagens seguidas de assoreamento no leito. Na bacia do São Francisco o trânsito de solo das erosões é evidente. Ainda em Minas vejo o assoreamento sob a ponte de Furquim retido no ribeirão do Carmo acumulado por barragem alteada há escassos 13 anos, de solo proveniente de Ouro Preto, terra de geólogos descobridores de Majnoon, e de Mariana, terra de mineração, ambas com periferias mal implantadas caracterizando bem o maior desastre ambiental brasileiro, nossas cidades mal implantadas de extremo norte a extremo sul. Mas não só em Minas. Vê-se o mesmo, por exemplo, no braço esquerdo do Araguaia na altura da ilha do Bananal. (Não pensemos que areias branquinhas estão ali paradas, pois umas substituem as outras sem que turistas costumeiros percebam ano a ano). Também em São Paulo a 63 km a oeste de Marília e a 6 a sul do rio do Peixe, vê-se na imagem de 2016, boçoroca ativa, ramificada e bem profunda, novinha, que lá não estava em 2014!
As feições citadas mostram, a quem tenha olhos de ver, que à vazão hídrica dos rios segue, atrasada, a vazão sólida, de solos erodidos, definitivamente perdidos, ou (quem sabe ?) recuperáveis por mineração do futuro, facilmente implantável, para serem levados à indústria construtiva ou aos buracos de onde foram removidos, porque lá não serão repostos pelo lentíssimo intemperismo químico que não dará jamais para reproduzir o solo perdido, principal recurso ambiental evidentemente não renovável. Com tanto solo e água jogados fora, quanto tempo teremos a mais de solos férteis bem regáveis?

Furquim, 06/07/17
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Edézio Teixeira de Cavalho

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