6 de julho de 2017

Perdas de solo



GC 430 Perdas de solo

Diversas categorias profissionais tratam da perda de solo, provavelmente com destaque para o geógrafo, que associa mais diretamente que o próprio geólogo a consequência social de tal modalidade de dano ambiental, mas parece predominar a preocupação com os efeitos locais, em especial no caso das voçorocas, sejam elas as que têm forma de anfiteatros, como as de Cachoeira do Campo e Contagem. As de São Paulo e Paraná, localmente chamadas boçorocas, são formas concentradas de erosões predominantemente lineares, que tendem a mobilizar rapidamente grandes quantidades de solos de idade mesocenozoica, pelas propriedades de baixa coesão destes.
 Ouro Preto e Mariana, bacia do rio Doce, sofrem com intensos processos erosivos não predominando feições típicas como em Cachoeira do Campo e Itabirito. Urbanização caótica na periferia de Ouro Preto, e um pouco menos acentuada em Mariana, taludes viários e mineração e garimpo liberam ou revolvem grandes quantidades de materiais que descem pelo ribeirão do Carmo, emissário local, passando por Furquim, onde o acréscimo de altura da antiga barragem da PCH local renovou assoreamento muito intenso, em poucos anos ocupando todo o reservatório, isto certamente além do material que passa pela barragem (geração e evacuador de cheias). 


PCH de Furquim em 2013 e 2017 com assoreamento em 2013 e 2017.

       
A consideração de que a capacidade acrescentada ao reservatório original foi esgotada em poucos anos faz dele caso ideal de referência de pesquisa sobre perda de solo medida para promover extrapolações geográficas. O reservatório de Furquim pode, com efeito, ser usado como referência prática de interesse das universidades próximas, mas não só, de assoreamento que proporciona dados valiosos sobre o material em trânsito levando em consideração a área da bacia de contribuição e o tempo gasto no enchimento, dando um quociente de perda anual em mm/ano (século ou milênio?). Considerando a espessura média de solos mobilizáveis no processo erosivo, poder-se-á encontrar pelo menos em ordem de grandeza o tempo restante que temos de solo minimamente utilizável para a produção agrícola e, não menos importante, para a preservação da água armazenada que insistimos em jogar fora precocemente no desenvolvimento das voçorocas e da erosão laminar, de que se afastaram os profissionais capazes de promover o adequado tratamento (necessário, evidentemente, avaliar, em reservatório tão pequeno, a quantidade de solo que no mesmo tempo transpôs a barragem).
Se admitirmos espessura média de solo mobilizável (10 m, por exemplo) podemos estimar os anos que nos restam por bacia a montante do marco referencial de assoreamento. Grandes lagos do tipo Três Marias e Sobradinho podem oferecer referências boas de amplo sentido geográfico, porque eles são só ultrapassáveis por frações especialmente finas de solos (admitindo-se não haver ou não ter sido operada descarga de fundo que levasse muito solo para jusante).
A questão é não fazer sentido impor como queria o Código Florestal até recentemente, preservar permanentemente a voçoroca por causa da intocável nascente a ela associada, exatamente o mesmo que pretender preservar o degradado, sem saber que de preservação nada existe aí senão a perda de solo e água juntos, o mesmo que não tratar a fratura exposta (em relação ao corpo humano, equivalente da voçoroca em relação ao sistema geológico).
Finalmente: O solo perdido não é recurso renovável? Deveria ser reconhecido, há milênios, que o solo perdido é recurso não renovável. Deveria ser esta a primeira lição de um ensino de geologia que começasse para toda a população na primeira infância.

Furquim, 05/07/2017

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Edézio Teixeira de Carvalho

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