GC
430 Perdas de solo
Diversas
categorias profissionais tratam da perda de solo, provavelmente com destaque
para o geógrafo, que associa mais diretamente que o próprio geólogo a
consequência social de tal modalidade de dano ambiental, mas parece predominar
a preocupação com os efeitos locais, em especial no caso das voçorocas, sejam
elas as que têm forma de anfiteatros, como as de Cachoeira do Campo e Contagem.
As de São Paulo e Paraná, localmente chamadas boçorocas, são formas concentradas de erosões predominantemente
lineares, que tendem a mobilizar rapidamente grandes quantidades de solos de
idade mesocenozoica, pelas propriedades de baixa coesão destes.
Ouro Preto e Mariana, bacia do rio Doce, sofrem
com intensos processos erosivos não predominando feições típicas como em
Cachoeira do Campo e Itabirito. Urbanização caótica na periferia de Ouro Preto,
e um pouco menos acentuada em Mariana, taludes viários e mineração e garimpo
liberam ou revolvem grandes quantidades de materiais que descem pelo ribeirão
do Carmo, emissário local, passando por Furquim, onde o acréscimo de altura da
antiga barragem da PCH local renovou assoreamento muito intenso, em poucos anos
ocupando todo o reservatório, isto certamente além do material que passa pela
barragem (geração e evacuador de cheias).
PCH
de Furquim em 2013 e 2017 com assoreamento em 2013 e 2017.
A consideração
de que a capacidade acrescentada ao reservatório original foi esgotada em poucos
anos faz dele caso ideal de referência de pesquisa sobre perda de solo medida
para promover extrapolações geográficas. O reservatório de Furquim pode, com efeito,
ser usado como referência prática de interesse das universidades próximas, mas
não só, de assoreamento que proporciona dados valiosos sobre o material em
trânsito levando em consideração a área da bacia de contribuição e o tempo
gasto no enchimento, dando um quociente de perda anual em mm/ano (século ou
milênio?). Considerando a espessura média de solos mobilizáveis no processo
erosivo, poder-se-á encontrar pelo menos em ordem de grandeza o tempo restante
que temos de solo minimamente utilizável para a produção agrícola e, não menos
importante, para a preservação da água armazenada que insistimos em jogar fora
precocemente no desenvolvimento das voçorocas e da erosão laminar, de que se
afastaram os profissionais capazes de promover o adequado tratamento
(necessário, evidentemente, avaliar, em reservatório tão pequeno, a quantidade
de solo que no mesmo tempo transpôs a barragem).
Se admitirmos
espessura média de solo mobilizável (10 m, por exemplo) podemos estimar os anos
que nos restam por bacia a montante do marco referencial de assoreamento. Grandes
lagos do tipo Três Marias e Sobradinho podem oferecer referências boas de amplo
sentido geográfico, porque eles são só ultrapassáveis por frações especialmente
finas de solos (admitindo-se não haver ou não ter sido operada descarga de
fundo que levasse muito solo para jusante).
A questão é
não fazer sentido impor como queria o Código Florestal até recentemente,
preservar permanentemente a voçoroca por causa da intocável nascente a ela
associada, exatamente o mesmo que pretender preservar o degradado, sem saber
que de preservação nada existe aí senão a perda de solo e água juntos, o mesmo
que não tratar a fratura exposta (em relação ao corpo humano, equivalente da
voçoroca em relação ao sistema geológico).
Finalmente: O
solo perdido não é recurso renovável? Deveria ser reconhecido, há milênios, que
o solo perdido é recurso não renovável. Deveria ser esta a primeira lição de um
ensino de geologia que começasse para toda a população na primeira infância.
Furquim,
05/07/2017
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Edézio
Teixeira de Carvalho
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