16 de maio de 2013

O que pode o mais, pode o menos

O que pode o mais, pode o menos[1]
Geocentelha 357

O que pode o mais pode o menos. Lembro o princípio do Direito para alertar a sociedade quanto ao risco a que se expõe por não confiar à geologia parte substancial da solução dos problemas geológicos que a afligem. Antes de aprofundar a questão, digo que o conceito de risco é abstrato, lembrando que para a criança debruçada à janela, não faz diferença estar ela no térreo ou no décimo andar. Descobrimos o pré-sal, nós mesmos, brasileiros, geólogos formados nos apenas 19 cursos de geologia do Brasil. Naturalmente não geólogos participaram, mas o “vamos para o alto mar” e o “furemos aqui”, “furemos ali”, foram decisões geológicas.

A façanha é do porte da conquista do espaço. Pois bem: o que está por vir na extração é muito mais, porque haverá decisivo impacto na tecnologia da pesquisa e indústria extrativa mineral e de águas subterrâneas, nos recursos técnicos da investigação ambiental e do seu controle, nos mais avançados campos da engenharia e nas tecnologias de ocupação e uso do solo. É nesta que ponho o dedo agora, começando por uma pergunta: Por que a categoria de tão destacada contribuição em um dos campos mais críticos das perspectivas de suprimento da humanidade para o futuro não participa de forma igualmente destacada de coisas muito mais simples, quais sejam a identificação e  controle das condições de risco geológico que a ameaçam? Por quê, se as configurações geológicas que determinam a formação, distribuição e localização das riquezas escondidas são as mesmas que determinam eventos e processos que podem ameaçar-nos? Por que a humanidade, que dá tanta relevância aos riscos de suposto aquecimento global, não reserva a menor atenção ao risco real representado pelas perdas crescentes de solo, este sim o principal fator, não renovável, da sustentabilidade, tanto o arrastado pelas águas torrenciais de uma Mantiqueira quanto o levado pelas mansas águas das terríveis nascentes das voçorocas, “protegidas” por lei?

Dia desses encontrei profissionais de nível superior que emitiram juízos reveladores de conhecimento escasso sobre o risco que supunham ou “sabiam” correr, muitas vezes invertendo o sentido da realidade, algo assim como se tivessem chegado à terra “de véspera”. Ora, conhecimento geológico básico é alcançável por todo cidadão, habilitando-o a evitar ser atingido por deslizamentos, inundações ou acidentes como o de Sendai, Japão (2011), e o de Armero, Colômbia (1985), onde certamente perderam a vida médicos, engenheiros, professores universitários, e talvez até desatentos geólogos. Isto mostra que nem todo o dinheiro do pré-sal, em bom momento endereçado pela Presidente à educação, será capaz de evitar não acidentes tais, mas suas piores consequências se essa educação não der conta de formar cidadãos capazes de exercer opções corretas e de exigir de governos que o façam.

Em percepção de risco estaremos melhor que os romanos de Pompeia?



Belo Horizonte, 02 de dezembro de 2012 

Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo




[1] O TEMPO; Opinião; 05/01/2013, p 15

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