O que pode o mais, pode o menos[1]
Geocentelha 357
O que pode o mais pode o menos. Lembro o princípio do
Direito para alertar a sociedade quanto ao risco a que se expõe por não confiar
à geologia parte substancial da solução dos problemas geológicos que a afligem.
Antes de aprofundar a questão, digo que o conceito de risco é abstrato,
lembrando que para a criança debruçada à janela, não faz diferença estar ela no
térreo ou no décimo andar. Descobrimos o pré-sal, nós mesmos, brasileiros,
geólogos formados nos apenas 19 cursos de geologia do Brasil. Naturalmente não
geólogos participaram, mas o “vamos para o alto mar” e o “furemos aqui”,
“furemos ali”, foram decisões geológicas.
A façanha é do porte da conquista do espaço. Pois bem: o que
está por vir na extração é muito mais, porque haverá decisivo impacto na
tecnologia da pesquisa e indústria extrativa mineral e de águas subterrâneas,
nos recursos técnicos da investigação ambiental e do seu controle, nos mais
avançados campos da engenharia e nas tecnologias de ocupação e uso do solo. É
nesta que ponho o dedo agora, começando por uma pergunta: Por que a categoria
de tão destacada contribuição em um dos campos mais críticos das perspectivas
de suprimento da humanidade para o futuro não participa de forma igualmente
destacada de coisas muito mais simples, quais sejam a identificação e
controle das condições de risco geológico que a ameaçam? Por quê, se as
configurações geológicas que determinam a formação, distribuição e localização
das riquezas escondidas são as mesmas que determinam eventos e processos que
podem ameaçar-nos? Por que a humanidade, que dá tanta relevância aos riscos de
suposto aquecimento global, não reserva a menor atenção ao risco real
representado pelas perdas crescentes de solo, este sim o principal fator, não
renovável, da sustentabilidade, tanto o arrastado pelas águas torrenciais de
uma Mantiqueira quanto o levado pelas mansas águas das terríveis nascentes das
voçorocas, “protegidas” por lei?
Dia desses encontrei profissionais de nível superior que
emitiram juízos reveladores de conhecimento escasso sobre o risco que supunham
ou “sabiam” correr, muitas vezes invertendo o sentido da realidade, algo assim
como se tivessem chegado à terra “de véspera”. Ora, conhecimento geológico
básico é alcançável por todo cidadão, habilitando-o a evitar ser atingido por
deslizamentos, inundações ou acidentes como o de Sendai, Japão (2011), e o de
Armero, Colômbia (1985), onde certamente perderam a vida médicos, engenheiros,
professores universitários, e talvez até desatentos geólogos. Isto mostra que
nem todo o dinheiro do pré-sal, em bom momento endereçado pela Presidente à
educação, será capaz de evitar não acidentes tais, mas suas piores
consequências se essa educação não der conta de formar cidadãos capazes de
exercer opções corretas e de exigir de governos que o façam.
Em percepção de risco estaremos melhor que os romanos de
Pompeia?
Belo Horizonte, 02 de dezembro de 2012
Eng. Geólogo
[1] O TEMPO; Opinião; 05/01/2013,
p 15
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