16 de maio de 2013

SOS, Arquimedes!

SOS Arquimedes![1]
Geocentelha 358

Entendeu o CREA que eu merecia a Medalha do Mérito por minha atuação profissional. Honrado por compartilhar tão grande homenagem com os demais agraciados, peço-lhes vênia para destacar a memória de Walter Arcanjo Dornelas com quem convivi na Escola de Minas nos anos 70, por sua comovente dedicação à ciência, e para dividir a homenagem com 7 irmãos, hoje 6 engenheiros, que me seguiram na escola e para agradecer a ela a homenagem que nos prestou em recente sessão comemorativa da festa do Doze. Incluo, neste compartilhamento familiar de engenheiros, filha, genros, sobrinhos, alguns aqui presentes. Agradeço em meu nome e dos demais homenageados aos membros da Sessão Plenária que nos concedeu a medalha.

E chego à hora de dizer o que me cabe refletir sobre a homenagem: Não é para que encerremos carreira agasalhados na certeza de que nossa categoria reconheceu-nos, mas impulsionados por ela a uma continuada luta em defesa de seus princípios mais fecundos. Quanto a mim penso que mais que Newton, Arquimedes, tão envolvido com a água, pode guiar-me com êxito na batalha sem trégua em defesa dela, lembrando a ação da água sobre solos e rochas, e para não me inspirar só na velha Europa, lembro a intimidade com que água e solo se acomodam na extrema simplicidade da sabodam japonesa para conviverem em terras altas, os dois assim nutrindo as plantas para que cubram de verde a terra.

O verde, cor do volante que distribuo, símbolo ideal de ambientalistas, é o resultado do azul da água impregnando o solo, não indo embora cedo a partir de qualquer nascente, e fazendo prosperar a flora, muito diferente daquele amarelo-palha da flora precocemente esturricada porque mandamos as águas embora no dia mesmo em que nos chegam, em primeiro lugar criando voçorocas e em segundo lugar negando às águas que se despedem de nós o abrigo prometido pelos poros de um entulho bem disposto.

Eis aí o resumo da maior contradição que enfrentam as engenharias, como a geológica, civil, geotécnica, agronômica, e outras, que veem a natural associação entre água e solo, absolutamente necessária para corrigir efeitos da erosão que atingiu extensos territórios deste país, proibida essa indispensável associação por lei que, baseada na suposição de que todas as nascentes são sagradas, impede a reabilitação de territórios maiores que a Bolívia. Sim. É isto: Defendemos o verde e a recarga dos aquíferos, e mesmo sabendo que, pelas leis da hidráulica, nenhuma nascente participa de recarga, e todas de descarga, mesmo assim defendemos qualquer nascente, não importa a classificação geológica que tenha. APPs urbanas ou rurais excluem de todas as áreas do CREA a possibilidade de colocarem a serviço da sociedade sua contribuição esclarecida, algumas dessas APPs expondo o povo ao risco de morrer em claro desrespeito à Constituição. Reiterando meu comovido agradecimento, confio que o CREA pensará no caso.          



Belo Horizonte, 06 de dezembro de 2012 

Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo




[1] O Tempo;  Opinião; 02/01/2013; p. 17

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