SOS Arquimedes![1]
Geocentelha 358
Geocentelha 358
Entendeu o CREA que eu merecia a Medalha do Mérito por minha
atuação profissional. Honrado por compartilhar tão grande homenagem com os
demais agraciados, peço-lhes vênia para destacar a memória de Walter Arcanjo
Dornelas com quem convivi na Escola de Minas nos anos 70, por sua comovente
dedicação à ciência, e para dividir a homenagem com 7 irmãos, hoje 6
engenheiros, que me seguiram na escola e para agradecer a ela a homenagem que
nos prestou em recente sessão comemorativa da festa do Doze. Incluo, neste
compartilhamento familiar de engenheiros, filha, genros, sobrinhos, alguns aqui
presentes. Agradeço em meu nome e dos demais homenageados aos membros da Sessão
Plenária que nos concedeu a medalha.
E chego à hora de dizer o que me cabe refletir sobre a
homenagem: Não é para que encerremos carreira agasalhados na certeza de que
nossa categoria reconheceu-nos, mas impulsionados por ela a uma continuada luta
em defesa de seus princípios mais fecundos. Quanto a mim penso que mais que
Newton, Arquimedes, tão envolvido com a água, pode guiar-me com êxito na
batalha sem trégua em defesa dela, lembrando a ação da água sobre solos e
rochas, e para não me inspirar só na velha Europa, lembro a intimidade com que
água e solo se acomodam na extrema simplicidade da sabodam japonesa
para conviverem em terras altas, os dois assim nutrindo as plantas para que
cubram de verde a terra.
O verde, cor do volante que distribuo, símbolo ideal de
ambientalistas, é o resultado do azul da água impregnando o solo, não indo
embora cedo a partir de qualquer nascente, e fazendo prosperar a flora, muito
diferente daquele amarelo-palha da flora precocemente esturricada porque
mandamos as águas embora no dia mesmo em que nos chegam, em primeiro lugar
criando voçorocas e em segundo lugar negando às águas que se despedem de nós o
abrigo prometido pelos poros de um entulho bem disposto.
Eis aí o resumo da maior contradição que enfrentam as
engenharias, como a geológica, civil, geotécnica, agronômica, e outras, que
veem a natural associação entre água e solo, absolutamente necessária para
corrigir efeitos da erosão que atingiu extensos territórios deste país,
proibida essa indispensável associação por lei que, baseada na suposição de que
todas as nascentes são sagradas, impede a reabilitação de territórios maiores
que a Bolívia. Sim. É isto: Defendemos o verde e a recarga dos aquíferos, e mesmo
sabendo que, pelas leis da hidráulica, nenhuma nascente participa de recarga, e
todas de descarga, mesmo assim defendemos qualquer nascente, não importa a
classificação geológica que tenha. APPs urbanas ou rurais excluem de todas as
áreas do CREA a possibilidade de colocarem a serviço da sociedade sua
contribuição esclarecida, algumas dessas APPs expondo o povo ao risco de morrer
em claro desrespeito à Constituição. Reiterando meu comovido agradecimento,
confio que o CREA pensará no caso.
Belo Horizonte, 06 de dezembro de 2012
Edézio Teixeira de Carvalho
Eng. Geólogo
[1] O Tempo; Opinião;
02/01/2013; p. 17
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