16 de maio de 2013

Petrópolis: Erro a corrigir

 Petrópolis: Erro a corrigir
Geocentelha 361

Quem queira contribuir para redução de acidentes geológicos e de suas consequências trágicas deve  buscar eficácia para a contribuição que se considere capaz de dar. Fator que determina a desejada eficácia é o aproveitamento das oportunidades, como a dos deslizamentos de Petrópolis, mais uma vez com dezenas de vidas perdidas. Hora de dizer que há erro evidente a corrigir, mas isto dito sem deixar de enaltecer o heroísmo sublime de agentes públicos que perderam a vida tentando salvar seus semelhantes em perigo, muitos deles crianças.

Dentre inúmeras ações coordenadas entre os tapetes de Brasília e as trilhas enlameadas da serra do Mar, ou de qualquer outro local em que ocorram acidentes, não é permissível esquecer que ações mais eficazes para reduzir e impedir suas consequências mais trágicas devem ocorrer em dias ensolarados do inverno.

Essas ações incluiriam mapeamentos geológicos especiais, redistribuição locacional das habitações, erradicando assentamentos inviáveis do ponto de vista da segurança por estarem em áreas de instabilidade incorrigível, mudando modelos de assentamento para ajustarem-se estruturalmente às características geotécnicas dos terrenos de segurança marginal, de instabilidade corrigível.

Há riscos geológicos não seletivos, que matam ricos e pobres. São exemplos tsunamis como o (a) que vitimou Sendai no Japão, recentemente; corridas de lama como a que sepultou 90% da cidade colombiana de Armero em 1985. Em casos como esses a rejeição das áreas perigosas poderia começar pelos cidadãos capazes de chamar atenção para suas atitudes, como médicos, engenheiros, jornalistas, e, naturalmente, geólogos, embora estes compondo parcela insignificante da população, mas naturalmente obrigados a terem espírito crítico mais desenvolvido a respeito dos sinais da terra. Essa massa de cidadãos capazes de formar opinião, com a sua simples rejeição, e com as pressões que poderiam exercer sobre os dirigentes, levariam povo e governos a tomar decisões individuais e coletivas mais adequadas.

O caso dos riscos seletivos como os deslizamentos, que arrastam moradias frágeis e costumam apenas arranhar as sólidas, é mais complexo porque em relação a eles os poderosos não tendem a rejeitar os locais instáveis, senão a tomar medidas drásticas de contenção. Assim podem não influenciar os pobres e os menos instruídos a serem seletivos em relação aos locais de habitação.

Um erro é certo: O de manter ocupadas por anos a fio grandes áreas sujeitas a deslizamentos, e a outros tipos de riscos geológicos, com a pretensão de que os avisos sejam capazes de fazer as pessoas abandonarem suas casas. O erro está em suporem, as autoridades, que as pessoas estejam dispostas a sair ao primeiro aviso, ou a repetirem a saída depois de duas ou três saídas sem confirmação da ocorrência, ou ainda que possam sempre sair, levando velhos, doentes, crianças, de madrugada, no escuro.        



Belo Horizonte, 20 de março de 2013
                                                                    
Edézio Teixeira de Carvalho
Eng.o Geólogo



[1] O Tempo; Opinião; 23/03/2013; p. 21


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