Petrópolis: Erro a corrigir
Geocentelha 361
Geocentelha 361
Quem queira contribuir para redução de acidentes geológicos
e de suas consequências trágicas deve buscar eficácia para a contribuição
que se considere capaz de dar. Fator que determina a desejada eficácia é o
aproveitamento das oportunidades, como a dos deslizamentos de Petrópolis, mais
uma vez com dezenas de vidas perdidas. Hora de dizer que há erro evidente a
corrigir, mas isto dito sem deixar de enaltecer o heroísmo sublime de agentes
públicos que perderam a vida tentando salvar seus semelhantes em perigo, muitos
deles crianças.
Dentre inúmeras ações coordenadas entre os tapetes de
Brasília e as trilhas enlameadas da serra do Mar, ou de qualquer outro local em
que ocorram acidentes, não é permissível esquecer que ações mais eficazes para
reduzir e impedir suas consequências mais trágicas devem ocorrer em dias
ensolarados do inverno.
Essas ações incluiriam mapeamentos geológicos especiais,
redistribuição locacional das habitações, erradicando assentamentos inviáveis
do ponto de vista da segurança por estarem em áreas de instabilidade
incorrigível, mudando modelos de assentamento para ajustarem-se estruturalmente
às características geotécnicas dos terrenos de segurança marginal, de
instabilidade corrigível.
Há riscos geológicos não seletivos, que matam ricos e
pobres. São exemplos tsunamis como o (a) que vitimou Sendai no Japão,
recentemente; corridas de lama como a que sepultou 90% da cidade colombiana de
Armero em 1985. Em casos como esses a rejeição das áreas perigosas poderia
começar pelos cidadãos capazes de chamar atenção para suas atitudes, como
médicos, engenheiros, jornalistas, e, naturalmente, geólogos, embora estes
compondo parcela insignificante da população, mas naturalmente obrigados a
terem espírito crítico mais desenvolvido a respeito dos sinais da terra. Essa
massa de cidadãos capazes de formar opinião, com a sua simples rejeição, e com
as pressões que poderiam exercer sobre os dirigentes, levariam povo e governos
a tomar decisões individuais e coletivas mais adequadas.
O caso dos riscos seletivos como os deslizamentos, que
arrastam moradias frágeis e costumam apenas arranhar as sólidas, é mais
complexo porque em relação a eles os poderosos não tendem a rejeitar os locais
instáveis, senão a tomar medidas drásticas de contenção. Assim podem não
influenciar os pobres e os menos instruídos a serem seletivos em relação aos
locais de habitação.
Um erro é certo: O de manter ocupadas por anos a fio grandes
áreas sujeitas a deslizamentos, e a outros tipos de riscos geológicos, com a
pretensão de que os avisos sejam capazes de fazer as pessoas abandonarem suas
casas. O erro está em suporem, as autoridades, que as pessoas estejam dispostas
a sair ao primeiro aviso, ou a repetirem a saída depois de duas ou três saídas
sem confirmação da ocorrência, ou ainda que possam sempre sair, levando velhos,
doentes, crianças, de madrugada, no escuro.
Belo Horizonte, 20 de março de 2013
Edézio Teixeira de Carvalho
Eng.o Geólogo
[1] O Tempo; Opinião; 23/03/2013;
p. 21
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