9 de janeiro de 2017

GC 394 A equação da Água

A equação da água[1]
GC394 A equação da água
Vamos à equação da água no ambiente mais inóspito que a coitadinha enfrenta ─ uma cidade. Quando se ergue a cidade, materiais de construção são trazidos de fora, como areia, cal, cimento, rochas, metais. Estes últimos chegam em conformação física definitiva com ligações indestrutíveis entre seus átomos. Os outros chegam soltos, pulverizados, e na manipulação a que são submetidos, passam a participar de materiais complexos, duros, impermeáveis; alguns já chegam agregados como tijolos, telhas, blocos rochosos, impermeáveis.
Na construção da cidade muitos materiais são retirados do sítio, predominando entre estes os solos e a massa vegetal, e rochas mais ou menos duras, fechadas. Portanto, os materiais que entram no cenário urbano em construção, em sua maioria, chegam para tornar-se impermeáveis, enquanto os que saem eram na maioria permeáveis, cada um à sua maneira, levando consigo uma capacidade de armazenamento de água no espaço poroso.
Alguma cidade fez a conta da capacidade de armazenamento perdida na urbanização? Não conheço caso. Eu faço a seguinte: Dos materiais geológicos de construção que entraram na cidade a porosidade que acolheria a água é nula ou será anulada em obras. Portanto o ambiente urbanizado não ganhou capacidade de armazenamento com essa importação. Por outro lado, é fácil fazer a conta da capacidade de armazenamento perdida com a saída de materiais terrosos, cujo balanço é altamente negativo.
Exemplos: Se a implantação do sistema viário de uma urbanização determina o transporte para fora do ambiente urbano de 1 milhão de metros cúbicos de terra e se o desaterro feito para a construção das casas determina o transporte para fora de quantidade igual, terão sido exportados no total 2 milhões de metros cúbicos de terra. Considerando um valor comum de porosidade de 15% dessa terra exportada, o ambiente urbano terá perdido só aí 300 mil metros cúbicos de capacidade de armazenamento.
É muito e é quantidade que só cresce. As contas sobre a água que sustentam a legislação são sempre mal feitas e a lógica até invertida. Há solução aplicando a lógica geológica: Ao planejar as cidades, reservemos espaços adequados para a acomodação intra muros dos materiais permoporosos que serão escavados e esses espaços nada têm a ver com o código florestal, inoportuno invasor das cidades.
As contas não acabaram; agora, sem números, vamos com a Divina Comédia de Dante: "No verão a saúde traz perigo; em vasto plaino o álveo dilatando, forma paul, das infecções amigo”.
Pulemos da dantesca Europa medieval com seu paul, como o das lagoas Pontinas, amigas do mosquito do Nilo, para a Pindorama paulistana com o paul transmutado em brejo, para fecharmos as contas.
Que país é este em que a lei se opõe ao conhecimento determinando crime ambiental de estado, como o de jogar água fora a pretexto de defender falsas nascentes e brejos urbanos amigos do aedes e da dengue?



Belo Horizonte, 18 de maio de 2015
                                                                    
Edézio Teixeira de Carvalho
Eng.o Geólogo








[1] O Tempo; O.PINIÃO; 07/07/2015; p. 21

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