A
equação da água[1]
GC394 A equação da água
Vamos à equação da água no
ambiente mais inóspito que a coitadinha enfrenta ─ uma cidade. Quando se ergue
a cidade, materiais de construção são trazidos de fora, como areia, cal,
cimento, rochas, metais. Estes últimos chegam em conformação física definitiva
com ligações indestrutíveis entre seus átomos. Os outros chegam soltos,
pulverizados, e na manipulação a que são submetidos, passam a participar de
materiais complexos, duros, impermeáveis; alguns já chegam agregados como
tijolos, telhas, blocos rochosos, impermeáveis.
Na construção da cidade muitos
materiais são retirados do sítio, predominando entre estes os solos e a massa
vegetal, e rochas mais ou menos duras, fechadas. Portanto, os materiais que
entram no cenário urbano em construção, em sua maioria, chegam para tornar-se
impermeáveis, enquanto os que saem eram na maioria permeáveis, cada um à sua
maneira, levando consigo uma capacidade de armazenamento de água no espaço
poroso.
Alguma cidade fez a conta
da capacidade de armazenamento perdida na urbanização? Não conheço caso. Eu
faço a seguinte: Dos materiais geológicos de construção que entraram na cidade
a porosidade que acolheria a água é nula ou será anulada em obras. Portanto o
ambiente urbanizado não ganhou capacidade de armazenamento com essa importação.
Por outro lado, é fácil fazer a conta da capacidade de armazenamento perdida
com a saída de materiais terrosos, cujo balanço é altamente negativo.
Exemplos: Se a implantação
do sistema viário de uma urbanização determina o transporte para fora do
ambiente urbano de 1 milhão de metros cúbicos de terra e se o desaterro feito
para a construção das casas determina o transporte para fora de quantidade
igual, terão sido exportados no total 2 milhões de metros cúbicos de terra.
Considerando um valor comum de porosidade de 15% dessa terra exportada, o
ambiente urbano terá perdido só aí 300 mil metros cúbicos de capacidade de
armazenamento.
É muito e é quantidade que
só cresce. As contas sobre a água que sustentam a legislação são sempre mal
feitas e a lógica até invertida. Há solução aplicando a lógica geológica: Ao
planejar as cidades, reservemos espaços adequados para a acomodação intra muros
dos materiais permoporosos que serão escavados e esses espaços nada têm a ver
com o código florestal, inoportuno invasor das cidades.
As contas não acabaram;
agora, sem números, vamos com a Divina Comédia de Dante: "No verão a saúde traz perigo; em vasto plaino
o álveo dilatando, forma paul, das infecções amigo”.
Pulemos da dantesca Europa
medieval com seu paul, como o das lagoas Pontinas, amigas do mosquito do Nilo,
para a Pindorama paulistana com o paul transmutado em brejo, para fecharmos as
contas.
Que país é este em que a
lei se opõe ao conhecimento determinando crime ambiental de estado, como o de
jogar água fora a pretexto de defender falsas nascentes e brejos urbanos amigos
do aedes e da dengue?
Belo Horizonte, 18 de
maio de 2015
Edézio Teixeira de
Carvalho
Eng.o Geólogo
Nenhum comentário:
Postar um comentário