GC
418 CONDENSADA REFLEXÃO SOBRE A ÁGUA
Compreensão
com a água: coisa chã. Boa parte da humanidade nada sabe sobre a água: O Japão
perdeu de 26.000 a 31.000 pessoas em 1896 por tsunami iniciado perto da costa;
em 1960 mais 220 sob tsunami iniciado 22 horas antes no Chile (!); em 2004 viu
morrerem 280.000 no tsunami do Índico iniciado em Java; em Sendai perdeu mais
16.000; uma brasileira, visitando parentes residentes no Japão, após o tsunami
de Sendai, disse a repórter brasileiro que a entrevistava que, perto de Sendai,
existe um penhasco em cuja parede está gravada a seguinte advertência: “Não
construir além deste ponto: Risco de tsunami”. É claro que a advertência não
foi observada.
Restos
mortais de Armero
Em
1885 morreram 25.000 dos 28.500 habitantes de Armero, cidade colombiana, posta,
a 75 km de distância, na saída de vale que vem do Nevado Del Ruiz, sepultada
pelo lamaçal (lahar) consequente a
erupção que derreteu o capuz de neve e esta arrastou tudo até sepultar a cidade,
edificada, em lamentável erro de urbanismo, exatamente à saída do vale que traz
um dos rios que nascem ao pé do vulcão (impressões digitais da extinta Armero
podem ser vistas em imagem do dia, extraída do Google Earth).
Todo
cidadão deve conhecer relações de solo e água, sabendo escolher onde morar,
fazendo associações territoriais geológico-geográficas, usando o telhado para
coletar a chuva, deixando para a municipalidade o que lhe reste fazer: Colocar
ruas na diretriz e greide certos e ensinar geologia para a vida, porque os
cidadãos estão, mas não precisam ficar, analfabetos na matéria. Quem sabe onde
e como morar só é colhido no fortuito, nunca no habitual.
A
água é capaz de estar presente em dado momento nos três estados da matéria. Pode
participar do sistema geológico como componente itinerante, impregnando o arcabouço
mineral, componente permanente, e de sair dele e a ele tornar, com maior ou
menor facilidade. É também capaz de viver crises hidrológicas severas nas
mudanças de estado físico que experimenta. A chuva é crise hidrológica por
resultar de mudança do estado físico, de vapor para líquido. A saída da água (drenagem)
pode ocorrer com facilidade maior que a entrada (saturação), que depende mais de
fatores geológicos e circunstanciais. É por não compreender ou não pensar nisso
que a humanidade não se acerta com a gestão da água. Se a Cidade não quer
alterar muito o trânsito da água, pode usar o telhado para capturá-la, ou
conduzi-la ao subsolo receptivo por modo fácil de fazer. Não resolvem tudo mas
ajudam a custo mais módico que o piscinão.
Drenagem
urbana[1] é
como árvore cujo tronco é o rio. Começando na foz no Velhas, canalizações que
aí chegam são galhos que crescem até os limites da bacia, levando cada vez mais
água. Árvore que cresce engrossa o tronco para suportar os galhos, mas o do
Arrudas chegou ao seu limite. Então B H constrói piscinões como o do Bonsucesso
para organizar a fila da descarga, e jogar água fora. Melhor seria construir,
em cada prédio e casa, uma caixa para capturar a água do telhado em vez de um
piscinão por microbacia, ocupando espaço e criando focos de poluição. Da crista
da serra até o Arrudas passa água tão velozmente que deixa ocioso, morrendo de
sede, o subsolo, exatamente o reservatório que a natureza destinou à chuva. B H
trabalha, não discordo, mas precisa de adotar soluções complementares que sua
geologia proporciona.
Belo Horizonte, 15 de dezembro de
2016.
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Edézio
Teixeira de Carvalho
Engenheiro
Geólogo
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