31 de janeiro de 2017

Condensada reflexão sobre a água

GC 418 CONDENSADA REFLEXÃO SOBRE A ÁGUA

Compreensão com a água: coisa chã. Boa parte da humanidade nada sabe sobre a água: O Japão perdeu de 26.000 a 31.000 pessoas em 1896 por tsunami iniciado perto da costa; em 1960 mais 220 sob tsunami iniciado 22 horas antes no Chile (!); em 2004 viu morrerem 280.000 no tsunami do Índico iniciado em Java; em Sendai perdeu mais 16.000; uma brasileira, visitando parentes residentes no Japão, após o tsunami de Sendai, disse a repórter brasileiro que a entrevistava que, perto de Sendai, existe um penhasco em cuja parede está gravada a seguinte advertência: “Não construir além deste ponto: Risco de tsunami”. É claro que a advertência não foi observada.
Restos mortais de Armero

Em 1885 morreram 25.000 dos 28.500 habitantes de Armero, cidade colombiana, posta, a 75 km de distância, na saída de vale que vem do Nevado Del Ruiz, sepultada pelo lamaçal (lahar) consequente a erupção que derreteu o capuz de neve e esta arrastou tudo até sepultar a cidade, edificada, em lamentável erro de urbanismo, exatamente à saída do vale que traz um dos rios que nascem ao pé do vulcão (impressões digitais da extinta Armero podem ser vistas em imagem do dia, extraída do Google Earth).
Todo cidadão deve conhecer relações de solo e água, sabendo escolher onde morar, fazendo associações territoriais geológico-geográficas, usando o telhado para coletar a chuva, deixando para a municipalidade o que lhe reste fazer: Colocar ruas na diretriz e greide certos e ensinar geologia para a vida, porque os cidadãos estão, mas não precisam ficar, analfabetos na matéria. Quem sabe onde e como morar só é colhido no fortuito, nunca no habitual.
A água é capaz de estar presente em dado momento nos três estados da matéria. Pode participar do sistema geológico como componente itinerante, impregnando o arcabouço mineral, componente permanente, e de sair dele e a ele tornar, com maior ou menor facilidade. É também capaz de viver crises hidrológicas severas nas mudanças de estado físico que experimenta. A chuva é crise hidrológica por resultar de mudança do estado físico, de vapor para líquido. A saída da água (drenagem) pode ocorrer com facilidade maior que a entrada (saturação), que depende mais de fatores geológicos e circunstanciais. É por não compreender ou não pensar nisso que a humanidade não se acerta com a gestão da água. Se a Cidade não quer alterar muito o trânsito da água, pode usar o telhado para capturá-la, ou conduzi-la ao subsolo receptivo por modo fácil de fazer. Não resolvem tudo mas ajudam a custo mais módico que o piscinão.
Drenagem urbana[1] é como árvore cujo tronco é o rio. Começando na foz no Velhas, canalizações que aí chegam são galhos que crescem até os limites da bacia, levando cada vez mais água. Árvore que cresce engrossa o tronco para suportar os galhos, mas o do Arrudas chegou ao seu limite. Então B H constrói piscinões como o do Bonsucesso para organizar a fila da descarga, e jogar água fora. Melhor seria construir, em cada prédio e casa, uma caixa para capturar a água do telhado em vez de um piscinão por microbacia, ocupando espaço e criando focos de poluição. Da crista da serra até o Arrudas passa água tão velozmente que deixa ocioso, morrendo de sede, o subsolo, exatamente o reservatório que a natureza destinou à chuva. B H trabalha, não discordo, mas precisa de adotar soluções complementares que sua geologia proporciona.       


           
              
Belo Horizonte, 15 de dezembro de 2016.
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Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo



[1] Parte publicada em O Tempo, Cidades, 10/12/2016, p. 22

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