20 de janeiro de 2017

Repto e consequências

REPTO E CONSEQUÊNCIAS
GC 412 Repto e consequências

       O repto requer demonstração do que fazer quanto ao objeto. A demonstração começa nas imagens do dia, uma de poucas infelizmente existentes, em parte pelas razões expostas na GC 411 O repto do geólogo.


O caso começa por volta de 1988 quando a Pró-Reitoria de Planejamento e a Prefeitura da UFMG solicitaram  ao Instituto de Geociências assistência geológica para resolver problemas de erosão junto ao estacionamento da faculdade de Letras. No prolongamento do auxílio prestado coube-me propor solução para uma voçoroca nascente que descarregava muito solo erodido no estacionamento do Instituto de Ciências Biológicas. Hoje não há mais o estacionamento mas um prédio dessa unidade, permanecendo entretanto obras de contenção que proporcionaram a reabilitação da área de onde vinha o solo erodido.  Mais tarde experimentos adicionais estenderam-se a casos semelhantes de Contagem, Betim e da capital, nesta em trabalho de consultoria geológica à SUDECAP, ocasião em que intervenções corretivas foram feitas nas ruas Flor do Campo, Beira Linha, Coronel Lourival Vasconcelos e Sebastião Menezes, todos coroados de êxito consolidado. O caso do dia é destacado aqui porque encerra não só a reabilitação da profunda ravina e a implantação da Sebastião Menezes no quarteirão antes desocupado, mas também a habilitação da área marginal a ela para a construção de edifícios residenciais, como se vê na última foto acima.
Nas fotos e desenho em ordem de leitura seguem: A profunda ravina; a saída em estreita garganta (verdadeiro presente da natureza para facilitar a solução), o esquema conceitual da reabilitação, seguindo fases da implantação iniciadas pelo dique retentor de gabião revestido por geotêxtil permeável, seguido de exposição dos materiais de enchimento (resíduos de alvenaria e areia de desassoreamento da Pampulha), a rua implantada ao término dos trabalhos e edifícios residenciais em obras em setembro do corrente ano, estes, evidentemente, não integrantes do cuidadoso trabalho de reabilitação.
No desenho, o pormenor que parece um banquinho é o dique colocado na garganta de saída da feição, os materiais de enchimento são representados em traços diagonais; as linhas ponto e traço são as posições anterior e final do lençol freático; as setas curvas indicam os processos de trocas mútuas entre o enchimento e o maciço hospedeiro; o desenho superior é a seção transversal da ravina antes da intervenção corretiva.
Tudo é visível? O mais importante não é visível: trata-se de típica solução enquadrada no princípio das soluções compartilhadas pelo qual dois problemas são solucionados em operação única, o da erosão que existiu por muitos anos, impedindo a implantação da rua e do casario ora em construção, e o dos resíduos tipicamente urbanos, com os problemas associados, que o Brasil não aprendeu a resolver até hoje, em parte porque a lei o impede. A arte da geologia é reconstruir a velha terra. 


Belo Horizonte, 12 de outubro de 2016.

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Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo

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