REPTO E CONSEQUÊNCIAS
GC 412 Repto e
consequências
O
repto requer demonstração do que fazer quanto ao objeto. A demonstração começa
nas imagens do dia, uma de poucas infelizmente existentes, em parte pelas
razões expostas na GC 411 O repto do
geólogo.
O caso começa por volta de 1988
quando a Pró-Reitoria de Planejamento e a Prefeitura da UFMG solicitaram ao Instituto de Geociências assistência geológica
para resolver problemas de erosão junto ao estacionamento da faculdade de
Letras. No prolongamento do auxílio prestado coube-me propor solução para uma
voçoroca nascente que descarregava muito solo erodido no estacionamento do
Instituto de Ciências Biológicas. Hoje não há mais o estacionamento mas um
prédio dessa unidade, permanecendo entretanto obras de contenção que
proporcionaram a reabilitação da área de onde vinha o solo erodido. Mais tarde experimentos adicionais
estenderam-se a casos semelhantes de Contagem, Betim e da capital, nesta em
trabalho de consultoria geológica à SUDECAP, ocasião em que intervenções
corretivas foram feitas nas ruas Flor do Campo, Beira Linha, Coronel Lourival
Vasconcelos e Sebastião Menezes, todos coroados de êxito consolidado. O caso do
dia é destacado aqui porque encerra não só a reabilitação da profunda ravina e a
implantação da Sebastião Menezes no quarteirão antes desocupado, mas também a
habilitação da área marginal a ela para a construção de edifícios residenciais,
como se vê na última foto acima.
Nas fotos e desenho em ordem de
leitura seguem: A profunda ravina; a saída em estreita garganta (verdadeiro
presente da natureza para facilitar a solução), o esquema conceitual da
reabilitação, seguindo fases da implantação iniciadas pelo dique retentor de
gabião revestido por geotêxtil permeável, seguido de exposição dos materiais de
enchimento (resíduos de alvenaria e areia de desassoreamento da Pampulha), a
rua implantada ao término dos trabalhos e edifícios residenciais em obras em
setembro do corrente ano, estes, evidentemente, não integrantes do cuidadoso
trabalho de reabilitação.
No desenho, o pormenor que parece
um banquinho é o dique colocado na garganta de saída da feição, os materiais de
enchimento são representados em traços diagonais; as linhas ponto e traço são
as posições anterior e final do lençol freático; as setas curvas indicam os
processos de trocas mútuas entre o enchimento e o maciço hospedeiro; o desenho
superior é a seção transversal da ravina antes da intervenção corretiva.
Tudo é visível? O mais importante
não é visível: trata-se de típica solução enquadrada no princípio das soluções
compartilhadas pelo qual dois problemas são solucionados em operação única, o
da erosão que existiu por muitos anos, impedindo a implantação da rua e do
casario ora em construção, e o dos resíduos tipicamente urbanos, com os
problemas associados, que o Brasil não aprendeu a resolver até hoje, em parte
porque a lei o impede. A arte da geologia é reconstruir a velha terra.
Belo Horizonte, 12 de outubro de
2016.
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Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo
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