10 de janeiro de 2017

Geocentelha 398: A lógica do risco

A lógica do risco
GC 398 A lógica do risco

   A geologia cuida de situações de risco territorial local ou planetário. Embora as sociedades humanas lhe deem pouca ênfase, o risco geológico é modalidade em que a lógica se manifesta com maior clareza, à altura da compreensão de não versados nesta ciência. A queda, aqui, de meteoro, podendo acabar com todos os mamíferos do planeta, é modalidade, por suas consequências territoriais, de risco geológico de origem cósmica, como a  que teria acabado com os dinossauros.
   O risco associado a eventos cósmicos foi dado até recentemente como de caráter fortuito em relação ao qual nada a fazer. Atualmente comenta-se a possibilidade de detecção de bólido que venha em direção à Terra com tempo suficiente para seu desvio ou destruição antes que nos alcance. Há eventos inevitáveis, fortuitos para uns, previsíveis para outros. Para escandinavos atingidos em praia tailandesa, o tsunami de 2004 foi ocorrência fortuita; para banhistas tailandeses também, mas essa ocorrência para tailandeses atingidos em suas moradias, a ocorrência, além de previsível, deve ser considerada evitável quanto aos efeitos diretos. Evitável como(?), poder-se-ia perguntar. Evitável porque suas moradias não deveriam estar ao alcance das grandes ondas. Claro está que habitar a orla baixa, como fazem habitantes do Índico e Pacífico é apostar na baixa probabilidade de ser atingido mesmo em face da alta probabilidade de que tsunamis ocorrerão por lá. Pelo menos que não identifiquem urbanizar com habitar!

   Reproduzo acima de autor desconhecido foto de desastre recente da serra fluminense, em que perderam a vida mais de mil pessoas. Hoje lamentamos o que é dado como o maior desastre ambiental brasileiro em Mariana. A meu ver desastre maior é outro; é, por exemplo, insistir-se em tratar por nascente a água que busca um modo de entrar no sistema geológico sem que tal seja possível por claríssimas evidências geológicas. Afinal isto significa que assistiremos a casos como os de Mariana, Aberfan (Inglaterra), Trento (Itália), Armero (Colômbia)  e Sendai (Japão), sem que nada realmente mude, porque o analfabetismo geológico mundial não sabe olhar para uma ladeira e ler que pode haver perigo iminente à frente.
   Fica parecendo que só devemos lamentar os mortos da mineração, porque estes serão atingidos em episódios mais raros, e nas mãos de responsáveis mais evidentes. A árvore que nas cidades frequentemente cai e mata, no campo cai e mal assusta o boi. Entretanto a queda de árvore urbana ocorre perto de muitos humanos e é comparativamente o mesmo que o tsunami que acertou Sendai, e fico pensando: afinal, depois de muitas ocorrências em países tão teimosos como o nosso, árvores urbanas doentes já terão provocado milhares de fatalidades considerando o mundo inteiro.
  Tivemos este ano mais de trinta mortos em Salvador e Recife; centenas ou milhares no resto do mundo. No próximo ano quantos e onde choraremos?

Belo Horizonte, 16/12/2015
Edézio Teixeira de Carvalho

Eng.o Geólogo

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