A
lógica do risco
GC
398 A lógica do risco
A geologia cuida de situações de
risco territorial local ou planetário. Embora as sociedades humanas lhe deem
pouca ênfase, o risco geológico é modalidade em que a lógica se manifesta com maior
clareza, à altura da compreensão de não versados nesta ciência. A queda, aqui,
de meteoro, podendo acabar com todos os mamíferos do planeta, é modalidade, por
suas consequências territoriais, de risco geológico de origem cósmica, como a que teria acabado com os dinossauros.
O risco associado a eventos
cósmicos foi dado até recentemente como de caráter fortuito em relação ao qual
nada a fazer. Atualmente comenta-se a possibilidade de detecção de bólido que
venha em direção à Terra com tempo suficiente para seu desvio ou destruição
antes que nos alcance. Há eventos inevitáveis, fortuitos para uns, previsíveis
para outros. Para escandinavos atingidos em praia tailandesa, o tsunami de 2004 foi ocorrência fortuita;
para banhistas tailandeses também, mas essa ocorrência para tailandeses
atingidos em suas moradias, a ocorrência, além de previsível, deve ser
considerada evitável quanto aos efeitos diretos. Evitável como(?), poder-se-ia
perguntar. Evitável porque suas moradias não deveriam estar ao alcance das
grandes ondas. Claro está que habitar a orla baixa, como fazem habitantes do
Índico e Pacífico é apostar na baixa probabilidade de ser atingido mesmo em
face da alta probabilidade de que tsunamis ocorrerão por lá. Pelo menos que não
identifiquem urbanizar com habitar!
Reproduzo acima de autor
desconhecido foto de desastre recente da serra fluminense, em que perderam a
vida mais de mil pessoas. Hoje lamentamos o que é dado como o maior desastre
ambiental brasileiro em Mariana. A meu ver desastre maior é outro; é, por
exemplo, insistir-se em tratar por nascente a água que busca um modo de entrar
no sistema geológico sem que tal seja possível por claríssimas evidências
geológicas. Afinal isto significa que assistiremos a casos como os de Mariana, Aberfan
(Inglaterra), Trento (Itália), Armero (Colômbia) e Sendai (Japão), sem que nada realmente mude,
porque o analfabetismo geológico mundial não sabe olhar para uma ladeira e ler
que pode haver perigo iminente à frente.
Fica parecendo que só devemos lamentar
os mortos da mineração, porque estes serão atingidos em episódios mais raros, e
nas mãos de responsáveis mais evidentes. A árvore que nas cidades
frequentemente cai e mata, no campo cai e mal assusta o boi. Entretanto a queda
de árvore urbana ocorre perto de muitos humanos e é comparativamente o mesmo
que o tsunami que acertou Sendai, e fico pensando: afinal, depois de muitas
ocorrências em países tão teimosos como o nosso, árvores urbanas doentes já
terão provocado milhares de fatalidades considerando o mundo inteiro.
Tivemos este ano mais de trinta
mortos em Salvador e Recife; centenas ou milhares no resto do mundo. No próximo
ano quantos e onde choraremos?
Belo Horizonte, 16/12/2015
Edézio Teixeira de Carvalho
Eng.o Geólogo
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