12 de janeiro de 2017

Matriz e filiais

Matriz e filiais[1]
GC400 Matriz e filiais

   Ando incomodado com o retorno à cena do aedes aegypt, tema para o campo que na geologia é chamado geologia médica, onde podem ser encontrados episódios intrigantes da história humana. O Brasil manteve luta importante contra a febre amarela no início do século XX tendo por área prioritária o Rio de Janeiro. Dentre nomes famosos dessa luta destaca-se o sanitarista Oswaldo Cruz. Seguiu-se longo período de interiorização da luta em que imagem que dela se guarda no meio rural é dos mata-mosquitos que chegavam com indumentária e equipamentos logo reconhecidos e em geral bem recebidos (com exceções). A luta prosseguiu colhendo êxitos pelo caminho como a extinção da febre amarela no Brasil.
  Já pelos anos 80 surgiu forma nova de doença propagada pelo citado mosquito, conhecida por dengue. O meio urbano parece ser o ambiente mais atingido em monturos de lixo e em diversas outras formas dispersas de descartes como pneus, latas e ainda outras formas aparentemente não degradadas de acumulação de água, aí entrando vasos de flores e até concavidades de geladeiras retentoras de drenagem.
  Sem pretender meter-me em questão que ultrapassa minha experiência pessoal no campo próprio da geologia aplicada como auxiliar da engenharia sanitária, aponto contatos isolados e fragmentários com a questão do ponto de vista das influências atribuíveis à ambiência geológica. Lembro alguns desses contatos. Na infância rural vi equipes de dois ou três mata-mosquitos com pulverizadores e instruções para o controle de endemias. No colégio Dom Helvécio em Ponte Nova (1961), um professor, padre, contou o caso das lagoas Pontinas na Itália, que desafiava a poderosa Roma antiga com uma forma de malária. Fê-lo certamente como pano de fundo às preocupações com as endemias rurais. 
   A dengue veio nos anos 80, e notei entre o pessoal envolvido com os aspectos técnicos da questão certo pessimismo, mas parece que controlaram bem a situação. O retorno mais recente parece dar razão aos pessimistas de 80. Lembrei-me então de ler sobre as lagoas Pontinas. Contra o mosquito transmissor de forma de malária endêmica naquela região, teriam sido derrotados etruscos, romanos, italianos medievais, inclusive um certo Da Vinci, e o ditador Mussolini. Chamou-me a atenção a descoberta de que lá como cá lutava-se contra variedade do mosquito do Nilo. Essas formas urbanas, antrópicas, de proliferação devem ser vistas como ambientes secundários, ou filiais dos grandes ambientes naturais, de modo que, a meu ver, embora devam todos ser objetos de busca, limpeza, remoção e destruição quando for o caso, como está sendo feito, parece estar havendo descuido em relação aos brejos e alagados permanentes urbanos com grandes populações à sua volta, que eram evitados sistematicamente no meio rural na implantação de moradias, por exemplo. Não vi, por enquanto, uma única tomada externa de televisão num desses ambientes.

Belo Horizonte, 06 de janeiro de 2016


Edézio Teixeira de Carvalho
Eng.o Geólogo  






[1] ECO.21 – Ano XXVI – N.o 231 Fev 2016 

Nenhum comentário:

Postar um comentário