Matriz
e filiais[1]
GC400 Matriz e filiais
Ando incomodado com o retorno à
cena do aedes aegypt, tema para o
campo que na geologia é chamado geologia médica, onde podem ser encontrados
episódios intrigantes da história humana. O Brasil manteve luta importante
contra a febre amarela no início do século XX tendo por área prioritária o Rio
de Janeiro. Dentre nomes famosos dessa luta destaca-se o sanitarista Oswaldo
Cruz. Seguiu-se longo período de interiorização da luta em que imagem que dela
se guarda no meio rural é dos mata-mosquitos que chegavam com indumentária e
equipamentos logo reconhecidos e em geral bem recebidos (com exceções). A luta
prosseguiu colhendo êxitos pelo caminho como a extinção da febre amarela no
Brasil.
Já pelos anos 80 surgiu forma
nova de doença propagada pelo citado mosquito, conhecida por dengue. O meio urbano
parece ser o ambiente mais atingido em monturos de lixo e em diversas outras
formas dispersas de descartes como pneus, latas e ainda outras formas
aparentemente não degradadas de acumulação de água, aí entrando vasos de flores
e até concavidades de geladeiras retentoras de drenagem.
Sem pretender meter-me em questão
que ultrapassa minha experiência pessoal no campo próprio da geologia aplicada
como auxiliar da engenharia sanitária, aponto contatos isolados e fragmentários
com a questão do ponto de vista das influências atribuíveis à ambiência
geológica. Lembro alguns desses contatos. Na infância rural vi equipes de dois
ou três mata-mosquitos com pulverizadores e instruções para o controle de
endemias. No colégio Dom Helvécio em Ponte Nova (1961), um professor, padre,
contou o caso das lagoas Pontinas na Itália, que desafiava a poderosa Roma
antiga com uma forma de malária. Fê-lo certamente como pano de fundo às
preocupações com as endemias rurais.
A dengue veio nos anos 80, e notei entre o
pessoal envolvido com os aspectos técnicos da questão certo pessimismo, mas
parece que controlaram bem a situação. O retorno mais recente parece dar razão
aos pessimistas de 80. Lembrei-me então de ler sobre as lagoas Pontinas. Contra
o mosquito transmissor de forma de malária endêmica naquela região, teriam sido
derrotados etruscos, romanos, italianos medievais, inclusive um certo Da Vinci,
e o ditador Mussolini. Chamou-me a atenção a descoberta de que lá como cá
lutava-se contra variedade do mosquito do Nilo. Essas formas urbanas,
antrópicas, de proliferação devem ser vistas como ambientes secundários, ou
filiais dos grandes ambientes naturais, de modo que, a meu ver, embora devam
todos ser objetos de busca, limpeza, remoção e destruição quando for o caso, como
está sendo feito, parece estar havendo descuido em relação aos brejos e
alagados permanentes urbanos com grandes populações à sua volta, que eram
evitados sistematicamente no meio rural na implantação de moradias, por
exemplo. Não vi, por enquanto, uma única tomada externa de televisão num desses
ambientes.
Belo Horizonte, 06 de janeiro de
2016
Edézio Teixeira de Carvalho
Eng.o Geólogo
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