Leitura geológica de
Chicago
GC 404 Leitura
geológica de Chicago
Não se trata
de uma leitura geológica de Chicago-objeto, que incluiria a ocorrência
geológica e o uso do substrato e do material geológico na função essencial, nem
de uma leitura geológica de Chicago-sujeito, como se organizou para explorar as
possibilidades que a geologia lhe oferecia, mas é mais esta, porque da outra
nem tempo tive em cinco dias para fazer algo minimamente estruturado. Ora, a
leitura geológica da Chicago-sujeito é a da Chicago que usou materiais
geológicos que se apresentam ostensivamente como partes dos materiais de
construção, indo além de simples calçadas, de muros ou de placas de
revestimento de fachadas, portanto em muitos casos implicando por parte do
arquiteto/engenheiro um juízo voltado para a função integrada do essencial,
estrutural, com o complementar, perene, resistente ao fogo, e de finalidades
ornamental e educativa, como se vê no templo abaixo retratado, construído todo
em rocha, em que, mesmo não sendo católico fervoroso, imagino que o
arquiteto/engenheiro tenha pensado numa mensagem divina aos homens e mulheres
piedosos que a cidade completamente destruída pelo incêndio renasceria pelas mãos
sucessivas de Deus, capaz de reconstruí-la com os materiais esmagados,
reposicionados e reunidos por Sua força e pelo gênio de Sua criatura, capaz do
primor de cantaria que a coluna representa. Alguns prédios são feitos
inteiramente de blocos rochosos, não apenas revestidos, e podem ser de
superfícies irregulares, serrados ou polidos.
Não sei se
devemos imaginar que o incêndio de Chicago, iniciado pelo coice de uma vaca no
lampião que espancava as trevas da madrugada, terá impulsionado uma
reconstrução organizada e não o oposto, como seria até admissível, improvisada
por uma possível penúria consequente ao acidente. Fato é que a maioria dos prédios públicos
antigos usa abundantemente rochas, ou homogêneas, ou distintas, combinadas
conforme as funções, havendo as sedimentares, as ígneas, as metamórficas, e
dentre estas magníficos espécimes de migmatitos com componentes vermelhos vivos
e negros.
O uso não se
limita a peças trabalhadas fixas, incorporadas a funções permanentes, mas
inclui materiais granulares como camadas de seixos rolados soltos, usadas para
inibir o crescimento de vegetação, e, curiosamente, a peças isoladas como
blocos irregulares deixados sozinhos como esquecidos nos gramados do parque
Milênio.
Belo Horizonte, 30 de
abril de 2016
Edézio Teixeira de
Carvalho
Engenheiro Geólogo
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