17 de janeiro de 2017

Leitura geológica de Chicago

Leitura geológica de Chicago

GC 404 Leitura geológica de Chicago

Não se trata de uma leitura geológica de Chicago-objeto, que incluiria a ocorrência geológica e o uso do substrato e do material geológico na função essencial, nem de uma leitura geológica de Chicago-sujeito, como se organizou para explorar as possibilidades que a geologia lhe oferecia, mas é mais esta, porque da outra nem tempo tive em cinco dias para fazer algo minimamente estruturado. Ora, a leitura geológica da Chicago-sujeito é a da Chicago que usou materiais geológicos que se apresentam ostensivamente como partes dos materiais de construção, indo além de simples calçadas, de muros ou de placas de revestimento de fachadas, portanto em muitos casos implicando por parte do arquiteto/engenheiro um juízo voltado para a função integrada do essencial, estrutural, com o complementar, perene, resistente ao fogo, e de finalidades ornamental e educativa, como se vê no templo abaixo retratado, construído todo em rocha, em que, mesmo não sendo católico fervoroso, imagino que o arquiteto/engenheiro tenha pensado numa mensagem divina aos homens e mulheres piedosos que a cidade completamente destruída pelo incêndio renasceria pelas mãos sucessivas de Deus, capaz de reconstruí-la com os materiais esmagados, reposicionados e reunidos por Sua força e pelo gênio de Sua criatura, capaz do primor de cantaria que a coluna representa. Alguns prédios são feitos inteiramente de blocos rochosos, não apenas revestidos, e podem ser de superfícies irregulares, serrados ou polidos.


Não sei se devemos imaginar que o incêndio de Chicago, iniciado pelo coice de uma vaca no lampião que espancava as trevas da madrugada, terá impulsionado uma reconstrução organizada e não o oposto, como seria até admissível, improvisada por uma possível penúria consequente ao acidente. Fato é que a maioria dos prédios públicos antigos usa abundantemente rochas, ou homogêneas, ou distintas, combinadas conforme as funções, havendo as sedimentares, as ígneas, as metamórficas, e dentre estas magníficos espécimes de migmatitos com componentes vermelhos vivos e negros.
O uso não se limita a peças trabalhadas fixas, incorporadas a funções permanentes, mas inclui materiais granulares como camadas de seixos rolados soltos, usadas para inibir o crescimento de vegetação, e, curiosamente, a peças isoladas como blocos irregulares deixados sozinhos como esquecidos nos gramados do parque Milênio.

Muro ou piso decorado por dendrites de óxido metálico em quartzito (pedra São Tomé).

Não obstante esse notável critério especial de uso e ordenação dos componentes geológicos, que pode perfeitamente ter levado estudantes a optarem pelo estudo da geologia a partir da curiosidade despertada, não segue esse uso tão sistemático outra característica da cidade de incluir mensagens mais ou menos longas dando notícias de eventos associados, como doações e seus responsáveis, partes sobreviventes do incêndio como a caixa d’água de pedra que a ele sobreviveu, e perto desta, nas proximidades do prédio do jornal Tribuna de Chicago uma fachada de prédio com numerosas placas trazidas de diversas partes do mundo, uma delas com uma figura chinesa em alto relevo tendo ao lado a seguinte inscrição: “Ancient temple Honan Province China” e outras do mundo greco-romano, egípcio, assírio, persa.
As referências geológicas silenciosas, mesmo as de magníficas rochas ornamentais de fachadas de Belo Horizonte, das mais suntuosas do Brasil, capazes de sustentar cursos práticos de petrografia macroscópica, podem não chamar tanto a atenção dos leigos dadas as inúmeras outras referências visuais atraentes à disposição dos visitantes, na cidade que sedia uma verdadeira escola arquitetônica, a de Chicago. Então sugiro-lhes, se um dia subirem a rua Grão Mogol em Belo Horizonte, no segundo quarteirão à esquerda, à frente de um restaurante que foi recentemente Casa Cor dos arquitetos de Minas Gerais, procurem na calçada de quartzito, e verão algumas placas com formações superficiais salientes, arborescentes, formadas por óxido metálico introduzido nos planos de acamamento, que os geólogos, justificadamente, chamamos dendrites: Essas dendrites, semelhantes a desenhos chineses de vegetação herbáceo-arbustiva, ocorrem dispersas entre as placas das famosas pedras chamadas pedras São Tomé, do Sul de Minas. Se tivessem sido assentadas agrupadas, como na imagem agrupada acima, e não dispersas na calçada, chamariam a atenção das pessoas e neste caso estariam cumprindo um papel educativo e ornamental divulgando um aspecto interessante da geologia de Minas Gerais.
Muito obrigado, Chicago! 
Belo Horizonte, 30 de abril de 2016


Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo

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